Torne-se perito

Kama Sutra espacial

Qual é a melhor posição para fazer amor no espaço? Seja ela qual for, nem a erecção nem o resto é fácil - não só porque os fluidos sobem para a parte superior do corpo, como os músculos perdem quase metade da sua massa nas primeiras 48 horas de voo. Um jornalista francês diz que a NASA fez experiências sexuais a bordo dos vaivéns, a agência espacial norte-americana nega veementemente.

A ideia de estabelecer um Kama Sutra para o espaço terá norteado uma experiência sobre sexo a bordo de um vaivém norte-americano em 1996, alega o astrónomo e jornalista francês Pierre Kohler, numa passagem do livro "A última missão: Mir, a aventura humana", que a editora Calmann-Lévy pôs quinta-feira nos escaparates de França. A agência espacial norte-americana NASA já negou as afirmações feitas no livro de Kohler: "Não estamos a fazer, não fizemos e não planeamos fazer quaisquer experiências sobre sexo", disse Ed Campion, porta-voz da agência, citado pela agência Reuters.As provas apresentadas por Kohler baseiam-se em documentos, alegadamente da autoria da NASA, divulgados na Internet por um investigador norte-americano. O problema é que nada garante que os documentos em circulação na Internet tenham sido realmente elaborados pela agência espacial norte-americana. De resto, a resposta da NASA vai nesse sentido, ao dizer que a história e os documentos são falsos e que os números dos documentos citados por Kohler não correspondem a nenhum sistema de numeração em uso: "A história não é verdadeira. O documento citado é fraudulento", garante Kirsten Williams, porta-voz da NASA. Kohler mantém a sua versão, dizendo que acredita fortemente na informação encontrada na Internet: "É credível. O único problema é que não consegui identificar a missão exacta". Talvez Kohler se tivesse esquecido de ler com atenção o próprio documento que relata as dez posições testadas no espaço. Se no início o nome do vaivém é substituído pela letra X, o número da missão é depois revelado numa passagem posterior do documento - a STS-75, feita pelo Columbia entre 22 de Fevereiro e 9 de Março de 1996. "Esta observação - diz o texto a propósito da posição de missionário estar muito dependente da gravidade, que mantém os parceiros juntos - levou-nos a propor um conjunto de testes conhecidos como Experiência 8 da STS-75." Acontece que os sete tripulantes desta missão eram todos homens: Andrew Allen, Scott Horowitz, Franklin Chang-Diaz, Jeffrey Hoffman, Claude Nicollier, Maurizio Cheli e Umberto Guidoni. Kohler diz ter identificado todos os voos feitos em 1996, mas que não passou da identificação dos astronautas masculinos e femininos envolvidos. O "site" da NASA na Internet diz que houve sete missões, nesse ano, e em três participaram mulheres.Passando às posições sexuais descritas no alegado documento: em seis usam-se dispositivos mecânicos para simular o efeito da gravidade (cintos elásticos e um túnel insuflável semelhante a um saco-cama), enquanto nas restantes quatro deixam o assunto nas mãos dos astronautas. Numa das experiências teria sido colocado um elástico à volta da cintura dos parceiros, que estariam na posição de missionário: "A penetração foi difícil e, uma vez conseguida, foi difícil mantê-la. Com o cinto à volta das ancas, a penetração foi fácil, mas os movimentos eram difíceis; como resultado, esta posição não foi satisfatória". Noutra experiência, no túnel insuflável, os astronautas terão adoptado a posição de missionário, que foram pressionados com ar entre os joelhos e a cintura: "Uma vez excitados, a pressão uniforme era suficiente para permitir relações sexuais mais ou menos normais, mas a excitação era difícil no túnel. E se a excitação fosse fora do túnel, era difícil entrar nele". Das várias posições, a de sexo oral mútuo (o 69) teria sido a mais funcional. "Descobrimos que esta posição era a mais satisfatória."O objectivo deste Kama Sutra espacial, diz o alegado documento, é a preparação de equipas constituídas por casais, em missões de longa duração, para quando a estação espacial internacional estiver em órbita. Também sempre que se fala de viagens interplanetárias, a questão do sexo entre astronautas coloca-se, já que todos os especialistas pensam que não seria razoável realizar missões com grande duração onde o sexo estivesse ausente. O facto apenas iria constituir um factor suplementar de "stress", a aliar-se ao isolamento e ao sentimento de ambiente hostil que os astronautas sentem no espaço.Mas a NASA sempre negou formalmente a ocorrência de sexo em órbita, em particular quando o tenente-coronel Mark Lee e a investigadora Jan Davis se tornaram no primeiro casal do mundo a viajar numa nave espacial, no vaivém Endeavour, em 1992. A presença do casal numa missão fez imediatamente surgir especulações sobre a realização de experiências sobre o sexo no espaço. A NASA disse, na altura, que as questões conjugais são de ordem privada e que os astronautas estão demasiados ocupados.Apesar dos repetidos desmentidos, também nada garante que experiências desse tipo não tenham já tido lugar a bordo de naves americanas ou soviéticas, existindo alguns boatos clássicos sobre a questão. Kohler conta no livro que os astronautas lhe fizeram muitas confidências, excepto sobre um tema tabu do Atlântico aos Urais: sexo em órbita. Todas agências espaciais se esquivam a falar do assunto. Nos Estados Unidos, os pedidos de entrevistas sobre sexo no espaço são sistematicamente recusadas e os astronautas respondem com um sorriso ambíguo.Bonnie Dunbar, astronauta norte-americana e mulher de um astronauta, diz que tudo não passa de rumores. Porque há câmaras por todo o lado! - diz ela, ao que Kohler comenta que estes aparelhos indiscretos podem ser desligados. Em 1982, a estadia de uma cosmonauta da então União Soviética, Svetlana Savitskaia, a bordo da antiga estação espacial russa Saliut-7, na companhia de quatro homens deu lugar a rumores sobre eventuais "experiências". Mas é pouco provável que a cosmonauta já casada, diz Kohler, tenha aceite entregar-se a tais experiências.Apesar de todos os segredos, existem porém alguns indícios de que as questões do sexo nem sempre estiveram afastadas das preocupações dos responsáveis pelos programas espaciais, pelo menos na União Soviética. Em 1985, por exemplo, o investigador soviético Viktor Kalinichenko revelou que dois cosmonautas soviéticos, Klimuk e Lebedev, que passaram sete dias em órbita, contaram entre as suas tarefas científicas com o estudo da ejaculação. "Naturalmente que não posso descrever tudo o que vi enquanto testemunha deste programa científico", diria Kalinichenko, "mas posso afirmar que os cosmonautas desempenharam a tarefa com grande sentido de humor."

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