Torne-se perito

Cinemas atraíram em 1999 15,2 milhões de espectadores

O cinema ocupa um lugar de excepção no panorama geral dos espectáculos em Portugal: o ano passado, os portugueses terão ido 15,2 milhões de vezes às salas de cinema, um consumo que regista desde 1993 um crescimento constante. Há mais espectadores todos os anos, mais multiplexes a abrirem fora dos grandes centros urbanos de Lisboa e Porto e um mercado em que os agentes têm perspectivas de expansão para os próximos anos. Cinema americano é o que mais se vende: no primeiro trimestre de 1999 aos filmes americanos foram dedicados 74.152 sessões, enquanto os europeus atingiram apenas as 16.712 sessões. O mercado é dominado pela gigante Lusomundo e há queixas na Direcção-Geral da Concorrência. O Ministério da Cultura está a fazer um estudo sobre o assunto que poderá estar pronto nos próximos meses.

No ano passado, terão ido ao cinema em Portugal cerca de 15,2 milhões de pessoas, segundos dados recolhidos pelo PÚBLICO. Feitas as contas ao total da população, isso significa que cada pessoa foi em média 1,5 vezes ao cinema em 1999. As receitas brutas da venda de bilhetes atingiram os 10 milhões de contos.No total de 15,2 milhões de espectadores para 1999, 91,8 por cento correspondem às maiores exibidoras do país que conseguiram atrair às suas salas 14 milhões de portugueses. Os restantes 8,2 por cento - divididos por uma miríade de exibidores que incluem auditórios das pequenas localidades com funcionamento irregular - representam cerca de 1,2 milhões de espectadores, num cálculo feito com base numa matriz disponibilizada pelo INE ao PÚBLICO. O preço médio da venda de bilhetes foi de 666$30.Mas, na verdade, o mercado decide-se entre cinco empresas, que arrebataram mais de 13 milhões de espectadores. Entre elas destaca-se ainda o grupo Lusomundo que, na área da exibição, é constituído pela Lusomundo e pela Warner Lusomundo que, com 7,5 milhões de espectadores, arrebata metade do total do mercado. Seguem-se, por ordem decrescente, o cinema AMC e a Atalanta, cada com 2,1 milhões, e a Socorama, do grupo Castello-Lopes, com 1, 641 milhões. Descendo abaixo do meio milhão de espectadores por ano, temos os independentes Cinema Avenida, em Braga (471.930 mil espectadores), o Cinema International Corporation, S. Jorge Cª, em Lisboa (197 mil) e o Barcelos (80 mil).Apesar de os números não poderem ser comparados, 1999 terá registado a tendência de crescimento dos últimos anos, pois as estatísticas do INE dão para 1998 um total de 14,8 milhões, para 1997 13,7 milhões, para 1996 10,4 milhões e para 1995 7,3 milhões, fenómeno ligado à explosão dos multiplexes (ver texto nestas páginas). A curva ascendente anual desenha-se desde 1995, depois das idas aos cinema terem atingido o seu ponto mínimo em 1994 com pouco mais de sete milhões de espectadores. Foi no entanto em 1976 que se bateu o recorde na venda de bilhetes, com mais de 40 milhões de entradas. O aparente desaceleramento no crescimento em 1999 deve-se, segundo vários agentes da área, àquilo a que chamam "o fenómeno Titanic" registado em 1998 (estreou a 18 de Janeiro): 1,8 milhões de portugueses viram o filme de James Cameron com Leonardo diCaprio. José Manuel Castello-Lopes, director da empresa que o comercializou, a Castello-Lopes, comenta: "O aumento do número de espectadores está ligado aos filmes de grande êxito. 1998 foi um ano excepcional por causa do sucesso do 'Titanic'. O ano passado os filmes fizeram apenas o número de espectadores que tinham que fazer." Depois de mais de um mês de contactos e pedidos, não foi porém possível ao PÚBLICO obter os dados de todas as grandes exibidoras para 1998 (os dados do INE descriminados por empresa são confidenciais), com o objectivo de analisar a evolução destes 91,8 por cento do consumo de filmes. Apesar do Instituto do Cinema Audiovisual e Multimédia (ICAM) possuir estes números, eles não são divulgados por este organismo do Ministério da Cultura porque, segundo o seu director, Pedro Beharan da Costa, o ICAM não os consegue confirmar de forma independente: "O instituto não pode garantir a fiabilidade dos dados fornecidos pelos distribuidores cinematográficos, razão pela qual deixou de prestar o serviço de divulgação semanal dos filmes mais vistos nas salas nacionais (vulgarmente designado por Top Ten) há cerca de dois anos." A impossibilidade de garantir a veracidade dos números prende-se com o facto das bilheteiras do país não estarem todas informatizadas, condição essencial à criação de um regulamento capaz de obrigar as distribuidoras a fornecerem esses dados. Apesar deste tendência para o crescimento do número de espectadores, e segundo dados fornecidos pelo departamento Media Desk (progama da União Europeia e apoio ao cinema europeu), em 1998 Portugal manteve-se bem abaixo da média europeia de frequência anual per capita, estimada em 2,18.

Sugerir correcção