Património disponível em Sacavém

Mais de 200 mil peças - desenhos, mapas, plantas e esboços na sua maioria - passam a estar disponíveis ao público a partir do final do ano em Sacavém. O arquivo reunido pela Direcção-Geral de Edifícios e Monumentos Nacionais também vai ficar disponível na Internet.

Tal como num filme de espionagem, a entrada em cada sala de trabalho, onde todos os movimento são vigiados por um circuito fechado de vídeo, é feita com a ajuda de um cartão magnético. Num ambiente altamente asséptico, técnicos de bata branca analisam e tratam velhos documentos que vão tirando vagarosamente de invólucros. É assim o dia-a-dia no reduto de Monte Sintra, mais conhecido por Forte de Sacavém, no concelho de Loures, onde a Direcção-Geral de Edifícios e Monumentos Nacionais (DGEMN) está a instalar o seu arquivo central. A abertura aos visitantes está agendada para o final do ano.O antigo depósito de munições do Exército foi adquirido, em 1997, pela entidade estatal, depois de décadas praticamente votado ao abandono, preparando-se agora para albergar um rico espólio documental referente a todo o património edificado de Portugal. Do acervo de mais de 200 mil peças, maioritariamente dos últimos três séculos, constam diversas preciosidades, entre as quais desenhos, mapas, plantas e esboços de engenharia e arquitectura.O objectivo é ter todo esse vasto conjunto de documentos reunidos num único local, onde investigadores e público em geral possam aceder a um variado conjunto de informação que antes estava dispersa por todo o território nacional nas mais diversas instituições, muitas vezes sem que os seus detentores se apercebessem do real valor do que tinham em mãos. O projecto obedece a uma estratégia mais vasta de levantamento, catalogação, recuperação e armazenamento de documentos lançada em 1990 pela DGEMN."Procedeu-se a uma operação de salvaguarda deste espólio com todo um trabalho de levantamento, catalogação e posterior digitalização, para que toda a gente o possa consultar sem restrições", explica o director-geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, Vasco Costa, a propósito deste projecto, que já leva três anos de dedicação por parte dos técnicos da entidade. A digitalização dos documentos foi uma das principais apostas, para a qual se procuraram soluções tecnológicas "em todo o mundo, mas acabou por se encontrar a mais adequada no nosso país".As dificuldades surgiram devido à exigência, por parte da DGEMN, de que as reproduções dos documentos fossem consultadas por todos sem a deturpação da respectiva escala, como normalmente acontece. Assim, depois de posta a funcionar a solução informática escolhida, vai ser possível a qualquer um observar num ecrã de computador um mapa ou uma planta com mais de dez metros de comprimento tal e qual foram desenhados.Neste momento procede-se ao carregamento da base de dados, da qual constarão cerca de 30 mil registos fotográficos. Quando todo o processo estiver concluído, será possível consultar esses arquivos cruzando informação de diversa ordem. E nem será preciso as pessoas deslocarem-se a Sacavém para obter as informações que procuram: à medida que forem sendo digitalizados, os conteúdos serão integralmente disponibilizados na Internet. Tudo está a ser microfilmado e digitalizado.Por agora, as preocupações são de outra ordem e ainda há muito trabalho por fazer, a começar pela finalização das obras de recuperação do forte, que, apesar de praticamente abandonado, serviu até há pouco tempo como paiol do Exército. Vasco Costa frisa a importância do arquivo: "Trata-se de guardar a memória da arquitectura do país. A este nível será o maior da Europa, sem dúvida."A necessidade de avançar com o projecto surgiu da constatação de que a maior parte das peças documentais "estavam em muito mau estado, espalhadas pelas mais diversas instituições do país, muitas das quais sem qualquer vocação para lidar com o património que detinham", revela o responsável pelo projecto, João Vieira . "Muitas pessoas utilizavam essas peças como objectos de trabalho e consulta frequente sem que houvesse uma preocupação de conservação", acrescenta."Agora", sublinha, "vai ser possível, por um lado, garantir a salvaguarda de documentos singulares e, por outro, permitir a sua divulgação". Para além do espaço ocupado com o tratamento e arquivo do imenso acervo documental, o reduto de Monte Sintra vai ter lugar para um auditório, uma sala de leitura e multimédia e uma dependência inteiramente dedicada aos investigadores.Os responsáveis admitem ainda a possibilidade de o forte vir a ser partilhado com outras instituições que se dediquem à mesma área de estudos, tirando assim o máximo partido de um riquíssimo arquivo sobre o qual será possível fazer inúmeras investigações e tratamentos informativos.

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