Automotoras como novas na Linha da Lousã

Tem cor verde e um "design" moderno, um interior amplo, ar climatizado, informação digital e portas automáticas. É a primeira das "novas" automotoras Allan que vão circular na linha da Lousã, apresentada ontem, em Coimbra, com direito à presença do secretário de Estado dos Transportes. Velhinhas de 50 anos, estas automotoras foram totalmente remodeladas para dar lugar a modernos comboios que, se fossem comprados, custariam quatro vezes mais.

Primeiro uma viagem numa composição antiga entre Coimbra Parque e Miranda do Corvo onde os aguardava a nova coqueluche que os levaria até à Lousã, regressando depois a Coimbra. Secretário de Estado, administradores da CP e restante comitiva puderam assim ver a diferença entre as velhas e a nova automotora, que ficou irreconhecível depois de uma passagem de meses nas oficinas da EMEF-Empresa de Manutenção de Equipamento Ferroviário, onde foi modernizada. A nova Allan tem um visual inovador e um "design" exterior de linhas aerodinâmicas com tons verde e branco. Os vidros são panorâmicos e ocupam toda a largura do veículo, cujo interior - pintado de azul turquesa - é agora mais amplo, tem assentos ergonómicos e possui painel de informação digital. O habitáculo do maquinista tem mais visibilidade e conforto, sendo a condução ajudada por um microprocessador de bordo que detecta avarias e fornece informações sobre como solucioná-las.Em vez de duas classes e duas casas de banho, esta automotora tem agora uma classe única de 144 lugares, 64 dos quais sentados, e uma única casa de banho, mais moderna, com circuito fechado de águas. Depois desta intervenção, o seu prazo de vida útil vem aumentado em mais 20 anos.A "nova" Allan pouco tem a ver com as suas antecessoras, parecendo, aos olhos do cliente, um comboio novo, com a grande vantagem para a CP de custar apenas uma quarta parte, já que o custo da sua remodelação ronda os 100 mil contos. Automotoras inteiramente novas, como as que a empresa espera vir a comprar no próximo ano para serviço regional, poderão custar entre 400 mil e 500 mil contos, devendo o concurso público internacional ser lançado em Abril.O recurso à reabilitação de material antigo mas ainda em boas condições de circulação tem sido também aplicado a outras séries de automotoras a diesel da CP, bem como às unidades eléctricas de Cascais e a grande parte dos velhos comboios suburbanos que circulavam na linha de Sintra. No caso das Allan, material de origem holandesa, prevê-se que as 21 unidades sejam entregues à razão de duas por mês, sendo assim progressivamente introduzidas na linha da Lousã, que liga Coimbra-Parque a Serpins.Durante a apresentação de ontem, o presidente da CP, Crisóstomo Teixeira, salientou a vantagem deste "novo" material para os seus clientes em termos de maior conforto, insonorização e redução do tempo de viagem. Este responsável contou que o secretário de Estado dos Transportes, Guilhermino Rodrigues, lhe dissera há um ano que, independentemente da vinda do Metro do Mondego, a CP poderia oferecer um melhor serviço nesta linha. A este desafio, a empresa respondeu com este investimento de dois milhões de contos que, ainda por cima, não é incompatível com o projecto do Metro nem servirá de pretexto para o seu atraso. É que a CP poderá afectar as Allan noutras zonas logo que a linha da Lousã seja entregue à futura sociedade que explorará o metro ligeiro. Na calha estão o ramal de Coimbra a Cantanhede e Figueira da Foz, que receberá as novas automotoras, seguindo-se a linha do Oeste e da Beira Baixa. O projecto do Metro Mondego está neste momento nas mãos de uma consultora que estuda as várias soluções técnicas para o seu início. Guilhermino Rodrigues defende investimentos progressivos que viabilizem este projecto a pouco e pouco "em vez de se esperar muito tempo por um megaprojecto associado a uma mega-investimento" que, se não for bem conseguido, dificilmente será corrigido. Em todo o caso, não haverá Metro Mondego antes de 2003.

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