Torne-se perito

Protagonistas

Otelo Saraiva de Carvalho

Por si só, era uma componente no organigrama das FP-25 de Abril. Também designada por "O", "Óscar" e "Unidade", esta componente, segundo o despacho de pronúncia, surge "como aproveitamento táctico da figura carismática de herói nacional na Revolução de Abril e símbolo de unidade". Os cadernos de apontamentos em formato A-4, escritos pelo seu punho, e que constituíam uma espécie de diário da organização, foram apanhados pela PJ numa busca à sua casa, em Oeiras, e foram decisivos para a acusação. Apesar disso, Otelo continua a negar qualquer envolvimento com as FP-25 de Abril.Este antigo professor e hoje explicador de Matemática era apontado como um dos membros do núcleo duro da direcção política. Pedro Goulart, que nunca assumiu qualquer ligação às FP-25, foi preso um dia depois da operação Orion, juntamente com Otelo Saraiva de Carvalho. No processo judicial do caso FUP/FP-25 é acusado de ser um dos fundadores do Projecto Global e membro do núcleo de inspiradores do grupo de operacionais que viriam a protagonizar uma vaga de atentados terroristas. É-lhe imputada a criação das FP-25 e, por consequência, a autoria moral de crimes de sangue perpetrados pelo grupo. Julgado e condenado a 19 anos acaba por ser libertado após ter cumprido cinco anos de prisão preventiva, tempo que excedeu claramente os prazos legais.Foi o primeiro "arrependido" das FP-25. Preso pela PSP em 1982, juntamente com outro operacional da organização, Ângelo Felgueiras, no Jardim de Carregal, no Porto. Os dois tinham-se perdido na cidade, depois de um assalto a um banco, e a PSP prendeu-os não sabendo quem eram. Confessaram de motu próprio que pertenciam às FP-25 para conseguir que a Polícia Judiciária (PJ) os fosse buscar, receosos do que pudesse suceder-lhes no posto da PSP. A princípio, a PJ, que já investigava a organização, não conseguiu deles nenhuma informação substancial. As FP-25, pensando que José Manuel Barradas tinha traído a organização, deixaram de apoiar financeiramente a sua família. Um erro estratégico, porque a PJ aproveitou a sua insatisfação e conquistou a sua confiança. As informações de José Manuel Barradas, numa segunda fase, permitiram avanços decisivos na investigação e revelaram, por exemplo, o envolvimento de Otelo. Morreu assassinado pela organização, no Monte da Caparica.Hoje desembargador do Tribunal da Relação, foi o juiz que presidiu ao colectivo que julgou os 64 réus do primeiro processo das FP-25, entre Outubro de 1985 e Junho de 1987. O processo materializava-se em 300 volumes com cerca de 50 mil páginas. Sereno e de perfil mais do que discreto, Adelino Salvado distinguiu-se pela correcção e serenidade com que dirigiu aquele que foi o julgamento do ano, em 1984, rodeado de uma projecção mediática sem precedentes. Uma vez terminada a sua missão, Adelino Salvado foi destacado, por razões de segurança, para o estrangeiro. Nomeado conselheiro jurídico na representação portuguesa na ONU, em Nova Iorque, só regressou a Portugal em 1991. Foi a procuradora do Ministério Público a quem coube em sorte o processo das FP-25 de Abril. Em Junho de 1984, na sequência da Operação Orion, que levou ao desmantelamento da organização - pela PJ, PSP e GNR, actuando em conjunto -, passou ao todo 64 mandatos de captura, incluindo aquele que levou Otelo Saraiva de Carvalho à prisão, como cabecilha do grupo. Trabalhando em estreita articulação com a PJ - a força policial com mais responsabilidades na Operação Orion - , saíu do seu punho a primeira acusação de crime de organização terrorista da história do direito em Portugal. Na qualidade de juiz de instrução criminal, presidiu a todas as diligências do Ministério Público que precederam as prisões das FP-25. Foi uma das três pessoas que as FP-25 de Abril condenaram à morte. Em relação às outras duas, o "arrependido" José Manuel Barradas e o antigo director dos Serviços Prisionais, Gaspar Castelo-Branco, as FP cumpriram a sentença. Homem emotivo, afirma ainda hoje que ficou "pessoalmente destruído" pelo processo. Enquanto durou a instrução, andou protegido 24 horas por dia e, uma vez esta terminada, o Governo enviou-o como conselheiro jurídico para a Representação Permanente de Portugal em Bruxelas, donde voltou apenas em 1998. Não queria regressar, considerando que lhe faltavam ainda em Portugal condições de segurança. Hoje é juiz no Tribunal da Relação e recorda a época da instrução do processo das FP-25 de Abril como "o pior período" da sua vida pessoal.Técnico electricista, natural de Barcelos e residente no Porto, era conhecido nas FP-25 pelos nomes de guerra de "Rui" ou "Alexandre". Esteve à frente da direcção regional da Estrutura Civil Armada (ECA), que coordenava todas as acções armadas e violentas da organização. A partir de 1980, passou a integrar a Direcção Militar (DIMA), componente que tinha como principal finalidade a "recuperação de fundos", eufemismo pelo qual as FP designavam os assaltos a bancos, em que se especializaram. Em Fevereiro de 1985, com o julgamento do primeiro processo em curso, Macedo Correia abandonou a organização e foi principalmente com base nas suas denúncias que foi possível acusar vários indivíduos que escaparam incólumes na Operação Orion. A seguir ao julgamento, foi para o Brasil, com nova identidade fornecida pelas autoridades portuguesas em troco do seu contributo para o desmantelamento das FP-25.É procurado pelas autoridades policiais desde os tempos das Brigadas Revolucionários do PRP, princípios dos anos 70, mas nunca foi detido. Quase sempre referenciado nas acções mais violentas das FP-25, nomeadamente nas que envolveram derramamento de sangue, como a operação de retaliação contra o comerciante da Malveira, Fernando Rolo. Mas nunca foi ouvido nos autos, nem mesmo como suspeito, por se encontrar ausente em parte incerta. Casado, empregado da indústria hoteleira, nasceu a 27 de Janeiro de 1950, no concelho de Montemor-o-Novo. A sua última residência conhecida era no Prior Velho, Sacavém. Foi o advogado de Otelo Saraiva de Carvalho e, depois do julgamento terminado, em 1987, manteve ligações com ele, nomeadamente através de uma empresa, Roteliz, que tem negócios com países africanos, nomeadamente Angola.

Sugerir correcção