Mariano Feio, 85 anos, um aristocrata filantrópico

"O facto de não ter tido praticamente família - nem pais nem filhos - deu-me grande liberdade para dispor dos bens que tinha." Sem ostentação nem falsa modéstia, antes com uma natural distinção aristocrática, faz saber que o modelar Centro de Idosos de Canhestros, aldeia envelhecida em Ferreira do Alentejo, é dádiva sua. Assim como também o é o forno crematório que equipa o cemitério da vila, o segundo do país, a par com o que existe no cemitério do Alto de S. João, em Lisboa. Não é uma excentricidade de velho rico. É um imperativo de consciência para um homem que entende a vida como um dever de existência. Isto é, a obrigação ética que tem de levar a humanidade a avançar em direcção a um mundo onde a perfeição intelectual submeta a agressividade animal e o espírito racional suplante o obscurantismo religioso. A sua aptidão matemática poderia tê-lo feito discípulo de Mira Fernandes, mas a curiosidade intelectual empurrou-o para a paleontologia, para a geografia e para a antropologia cultural. Orlando Ribeiro foi seu guia no levantamento da geografia humana em Angola e na Índia - que retratou num livro de 1979, "As Castas Hindus de Goa" (Ed. Junta de Investigações Científicas do Ultramar), uma leitura necessária para quem quiser perceber porque a Índia portuguesa deixou de o ser.

MARIANO FEIO - A Grande Guerra significou pouco para mim. A recordação que tenho é a da pneumónica. Esteve na minha casa e levou a minha mãe. O meu avô materno era médico em S. Vicente da Beira (Castelo Branco). Dizia que tinha chegado tarde. Era uma desculpa para ele próprio. Mas é espantoso como, tendo ele estado em contacto com tanta gente que teve a pneumónica, nunca a apanhou. R- - Foi ocupada e expropriada. Depois foram dadas reservas aos antigos donos, o que fez com que ficasse com metade da propriedade. A outra metade foi para a Universidade de Évora.

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