O melhor do Sr. Calouste

Hoje é um grande dia para a história a Fundação Gulbenkian. Parte da valiosa colecção de arte do senhor Calouste Gulbenkian pode ser vista num dos melhores museus do mundo, o Metropolitan Museum of Art de Nova Iorque. Um acontecimento inédito em três décadas de vida do museu português.

Com o título "Only the Best: Masterpieces of the Calouste Gulbenkian Museum, Lisboa" inaugura-se hoje em Nova Iorque, no Metropolitan Museum of Art (MET), ficando até 27 de Fevereiro, uma mostra de 80 peças pertencentes à colecção Calouste Gulbenkian, de que se destaca o "Retrato de Helena Fourment" de Rubens (1577-1640), o ex-libris de uma exposição que vai da arte do oriente islâmico à arte do ocidente, faianças, têxteis, jóias e pintura. Para o senhor Calouste Gulbenkian, como ele gostava de dizer sobre a sua colecção: "Só o melhor!"Esta iniciativa não marca apenas um salto para a visibilidade internacional deste museu português, após três décadas de existência, ela significa, refere o director do MET, Philippe de Montebello, "uma experiência muito gratificante" visto dar aos visitantes novaiorquinos a oportunidade de verem "objectos de uma grande força e qualidade pertencentes a uma colecção de um nível artístico altíssimo". Foi também por ter ficado "sensibilizado" com o que viu na sua última visita à Gulbenkian que Philippe de Montebello decidiu chamar à exposição "Only de The Best", não no sentido de ser uma colecção "ostentantória, mas pela avaliação real dos méritos de cada peça que Calouste Gulbenkian reuniu". Esta mostra internacional assume também para o director do Museu Gulbenkian, João Castel-Branco, "um carácter excepcional e uma enorme honra", por se tratar de uma mostra num dos melhores espaços museológicos do mundo (é visitado por dois milhões de pessoas todos os anos) e por se tratar da primeira vez que o museu viaja ao estrangeiro por um período tão longo. Para Pedro Tamen, administrador da Gulbenkian, a mostra no MET "é um acontecimento de grande importância e de interesse público" e significa que o museu deixou de estar fechado sobre si mesmo, procurando daqui para o futuro e sempre que possível, "trivializar o empréstimo de peças".Levar a colecção ao MET só foi possível porque o Museu Gulbenkian encerrou as portas por seis meses, tendo iniciado em Outubro algumas obras de conservação (Ver PÚBLICO de 4/8/99). Durante estes seis meses, porém, o museu não pára. Neste momento, tem aberta ao público na Galeria de Exposições Temporárias uma exposição dedicada à "Arte do Retrato" que vai da Idade Média aos finais do século XIX. Encontram-se nesta mostra obras de Bugiardini, Rembrandt, Pellegrini, Renoir, Degas, Manet, Largillière, Joshua Reynolds, Rodin e Quentin de La Tour, entre outros. O museu inaugura, ainda este mês, uma outra dedicada à génese do próprio museu que este ano comemora o seu 30º aniversário e uma terceira mostra, a inaugurar em Março, intitulada "A Imagem do Tempo", dedicada aos livros iluminados até ao século XVI. Os organizadores da exposição no Metropolitan, cuja inauguração oficial conta com a exibição do Coro Gulbenkian (também pela primeira vez em N.Y. após 35 anos de vida) dirigido pelo maestro Michel Corboz, tiveram a preocupação de escolher peças no sentido de manter "um discurso coerente" entre o que é mostrado e a figura de Calouste Gulbenkian. Daí ter sido instalada logo à entrada a estátua de Calouste Gulbenkian que funciona como homenagem a um dos mais prestigiados coleccionadores de arte do Ocidente na primeira metade do século XX. Dois grandes núcleos, a arte do Oriente Islâmico e a arte no Ocidente, constituem o conjunto de obras-primas da arte egípcia e islâmica, das artes decorativas francesas do século XVII e da pintura europeia.Uma imagem do Juiz Bes, escultura egípcia da XXVIª dinastia e dois medalhões em ouro do Tesouro de Aboukir do séc.III a.C., bem como uma taça em faiança persa dos séculos XII ou XIII, além de um conjunto de faianças otomanas do século XVI são exemplos de obras do primeiro núcleo. Sem esquecer um destaque especial para um precioso tapete persa em seda do século XVI.Na arte do Ocidente, salienta-se a obra mais antiga, um díptico em marfim com cenas da vida de Cristo executada em Paris no século XIV, bem como três livros iluminados, dois dos quais provenientes de oratórios de Margarida de Clèves e Afonso I de Este, dos séculos XV e XVI. Nas artes decorativas, o destaque vai para um sumptuoso medalheiro de Charles Cressent e um conjunto de obras de prata das oficinas de Paris da autoria de Antoine Sébastian Durand e François Thomas-Germain, a que pertence o par de mostardeiras pertencente a madame de Pompadour.A selecção de pintura, sublinha João Castel-Branco, foi feita com a preocupação de "preencher lacunas do MET e divulgar obras de autores e escolas menos conhecidas do público norte-americano". Estarão em exposição pinturas de Rubens, Fragonard, Ghirlandaio, Manet, Lancret, Guardi, Hubert Robert, Stefan Lochner, Monet ou Gainsborough. A exposição "Only the Best" termina com algumas das mais importantes obras de René Lalique, artista de quem Calouste Gulbenkian foi o maior patrono, possuindo cerca de 200 peças. Estão em evidência os peitorais "Pavão" e as "Serpentes", ambos dos finais do século XIX, a gargantilha "Gatos" do século XX e o açucareiro "Serpentes" do século XIX.

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