Diabetes, a pandemia do séxulo XXI

A diabetes, cujo dia mundial é hoje assinalado, poderá ser a pandemia do próximo século. Em 2025, segundo a Organização Mundial de Saúde, 300 milhões de pessoas sofrerão da doença. Em Portugal, existem actualmente 500 mil diabéticos, mas metade não sabe que está doente. O maior problema desta doença crónica são as complicações associadas. Por exemplo, a retinopatia, que é a primeira causa de cegueira nos países ocidentais.

Luís Ferreira tem 21 anos. Há quatro anos descobriu que era diabético e que ia ter de tomar insulina todos os dias. Reagiu com conformismo. Mas não deixou que a doença mandasse na sua vida: "Não deixei de fazer nada", diz. Gosta de sair à noite e continua a fazê-lo: "Levo um pacote de leite, um chocolate, um pão", para o caso de ter uma quebra de açúcar no sangue. Estas férias, quando foi acampar, para assistir aos festivais de Verão só teve que se "apetrechar com sumos e comida". Mudou os hábitos alimentares, pratica exercícios físicos leves e só faz uma única "transgressão": comer gelados.Em Portugal existem 500 mil diabéticos, dos quais 50 mil tomarão insulina, para regular os níveis de glicémia no sangue. Mas, por cada diabético diagnosticado, há um outro que ainda não sabe que está doente. O que pode ser perigoso: é que além de crónica e incurável, a doença tem ainda uma série de complicações associadas, desde a cegueira à amputação dos membros inferiores (ver outro texto). A diabetes caracteriza-se por uma subida anormal do açúcar no sangue (glicémia) que causa uma insuficiência absoluta ou relativa da insulina que serve para metabolisar o açúcar e transformá-lo em energia. Os sintomas começam com o aumento da frequência urinarária, muita sede, falta de forças e perda de peso. Mas se na diabetes de tipo 1 (ou insulinodependente) são agudos e rapidamente detectados, na de tipo 2 aparecem "lentamente e de forma insidiosa", diz António Silva Graça, presidente da Associação Portuguesa dos Diabéticos de Portugal (APDP). "Se uma pessoa é diagnosticada aos 45 anos, é provável que já seja diabético há cinco, dez anos", sublinha.Existem dois tipos de diabetes, que são completamente diferentes, afirma o presidente da APDP. Na diabetes de tipo 1 existe uma falta absoluta de insulina. Afecta as pessoas mais novas e até crianças de meses, mas pode surgir mais tarde, por vezes aos 30, 35 anos. Como a sintomatologia é muito aguda - urinar muito, ter muita sede, falta de forças e perda de peso, este tipo é muito fácil de diagnosticar. O tratamento tem de ser imediato, com adminstração de insulina, senão pode entrar em coma e morrer. O doente vai precisar de tomar insulina cerca de quatro vezes por dia e de controlar os seus níveis de glicémia diariamente, pelo menos duas vezes.Já o tipo 2 caracteriza-se por um mau funcionamento da insulina, que causa a subida da glicémia. Muitas vezes o diagnóstico é feito não porque o doente se queixa, mas porque precisa de fazer análises - para seguros, casas, por exemplo - indica Silva Graça. Outros sintomas podem ser pequenas infecções nas mucosas, na pele ou pequenas lesões nos pequenos vasos da retina. Este tipo tem uma maior predisposição hereditária.Em Portugal, o Ministério da Saúde destina 80 milhões de contos à diabetes. Mas só sete a dez por cento é que são gastos com o tratamento da doença, diz António Silva Graça. O resto é com as complicações. "É mais rentável para o estado fornecer os meios para os diabéticos controlarem a sua doença de forma tão gratutita quando possível para depois não gastar no tratamento das complicações", considera Nunes Corrêa, presidente da Sociedade Portuguesa de Diabetologia (SPD). Segundo este responsável, a falta de médicos, mas sobretudo de enfermeiros, é outro dos principais problemas. "Também é melhor investir em enfermeiros para formação para depois poupar", sublinha.A APDP já enviou uma carta à ministra da Saúde propondo uma comissão interministerial para o estudo dos custos da diabetes. Actualmente, a luta mais recente da associação é pela comparticipação total de um novo tipo de insulina (a ultra-rápida) e de um novo antidiabético oral (Amryl) que só é tomado uma vez por dia. Para ser sócio desta associação (Rua de Rodrigo da Fonseca, nº 1/telefone 21. 3816100) basta pagar uma quota (mínima) de 200 escudos por mês. Na APDP funciona também uma clínica que pretende tratar a doença em todas as suas valências e tem acordos com o Sistema Nacional de Saúde (SNS) e todos os subsistemas. Nesta clínica estão inscritos 34 mil doentes.Quem tem correio electrónico, pode encontrar postais electrónicos - para enviar a diabéticos ou para estes enviarem a amigos e familiares - no endereço http://www1.bluemountain.com/eng3/diabetes/index.html. Não se preocupe, porque, infelizmente, terá muita gente a quem enviar "e-mails". A diabetes poderá tornar-se mesmo a pandemia do próximo século, segundo os especialistas. Em 2025, refere a Organização Mundial de Saúde, 300 milhões de pessoas sofrerão da doença em todo o mundo.

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