Isabel II, rainha da Austrália

Acabou o sonho republicano. Isabel II de Inglaterra vai continuar a ser rainha da Austrália. O resultado do referendo realizado ontem não deixa margem para dúvidas: os australianos rejeitaram o sistema presidencial que lhes era oferecido. Moral da história: para mudar para pior, mais vale não mudar.

Os australianos já escolheram. Decidiram ficar com a rainha Isabel II como chefe de Estado e rejeitar a proposta de república que lhes era oferecida como alternativa à monarquia. Com 80 por cento dos boletins contados ontem ao princípio da noite, os "sim" à república contavam com 44, 87 por cento dos votos contra 54, 22 por cento dos "não". Mais de 12 milhões de eleitores estavam inscritos para este referendo realizado para saber se a Austrália devia romper a sua ligação de 200 anos com a coroa britânica e substituir a rainha Isabel II por um cidadão australiano como chefe de Estado. Para que a opção republicana vencesse teria sido necessária uma maioria de votos a nível nacional e maiorias em pelo menos quatro dos estados em que o país está dividido. Nada disso aconteceu. O "sim" só venceu no estado de Vitória.A vitória do "não" não significa que a maioria dos australianos seja a favor da monarquia. Aliás, os monárquicos australianos representam menos de 10 por cento dos eleitores, segundo mostraram as sondagens pré-referendo. A maioria dos "nãos" foi constituída por apoiantes do regime republicano que querem uma eleição presidencial por sufrágio universal directo. Estes últimos optaram por se juntar aos monárquicos no final de uma campanha marcada pela palavra de ordem "diz não o Presidente dos políticos".O modelo republicano proposto no referendo de ontem estipulava um complexo sistema para a escolha do futuro Presidente. Uma comissão de nomeações presidenciais, constituída por 34 personalidades políticas do país, encarregava-se de apresentar uma lista de candidatos ao primeiro-ministro. Este, depois de garantir o acordo do líder da oposição, seleccionaria um candidato e comunicaria a sua escolha às duas câmaras do parlamento para que elas se pronunciassem. Tony Abott, ministro do Emprego, resumiu aquilo que muitos australianos pensavam em relação a este sistema: "Eu não deixo os políticos escolherem a minha mulher, porque os havia de deixar escolher o meu Presidente".O resultado do referendo foi uma importante vitória para o primeiro-ministro John Howard, que redigiu a proposta do referendo e que fez campanha a favor da manutenção da monarquia. Os seus adversários políticos não o pouparam ontem, depois de serem conhecidos os resultados. "John Howard teve a oportunidade de ficar para a história como o homem que reformou esta nação", disse Malcom Turnbull, o líder da campanha republicana. "Mas ele vai ser lembrado como o primeiro-ministro que quebrou o coração desta nação. Ele foi o homem que obrigou a Austrália a manter uma rainha estrangeira".A vitória do "Não" foi celebrada no Darling Harbour, em Sidney, por um grupo de 200 entusiastas da casa de Windsor. As rolhas das garrafas de champanhe começaram a saltar mal foram anunciados os primeiros resultados parciais. "Sem república, sem problemas", lia-se nos autocolantes que muitos ostentavam. O champanhe soube ainda melhor quando a Austrália venceu a França na final do campeonato mundial de rugby e a equipa recebeu a taça das mãos da rainha Isabel II. Ao final do dia estava tudo no sítio certo para David Eliot, director do movimento Australianos por uma Monarquia Constitucional. "Os australianos são um povo conservador por natureza. Penso que isso é bom, é por isso que somos uma democracia tão estável. A maioria das pessoas está preocupada com os impostos ou em saber se vai ter uma boa colheita este ano - ninguém está preocupado em mudar uma Constituição que funciona bem", explicou.John Howard disse o mesmo. "É evidente que o povo australiano rejeitou a opção republicana", disse o primeiro-ministro. "Agora o Governo vai dedicar-se aos problemas que afectam directamente a vida dos australianos". "À luz deste resultado, e a conselho do primeiro-ministro, John Howard, eu continuarei a servir fielmente, segundo a Constituição, como rainha da Austrália da melhor forma que for capaz, tal como o fiz nos últimos 47 anos", disse a rainha Isabel II, depois de ser conhecido o resultado do referendo de ontem. A página de abertura da edição "online" do jornal "Sydney Morning Herald" resumia o fim do sonho republicano: "Acabou: a Austrália disse não".

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