Judiciária investiga descida do Beira-Mar

O guarda-redes do Beira-Mar diz ter sido alvo de tentativas de aliciamento nas últimas jornadas do campeonato passado. A Polícia Judiciária está, por isso, a investigar as últimas jornadas do campeonato da I Divisão da época passada.

O desfecho do campeonato nacional de futebol da época passada está sob suspeita. O PÚBLICO apurou que a Polícia Judiciária está a investigar a maneira como decorreram as últimas jornadas do campeonato, que ditaram a descida do Beira-Mar à II Liga. Na origem da investigação estão alegadas tentativas de aliciamento do guarda-redes beiramarense Palatsi na véspera de jogos decisivos e ainda uma carta anónima contando, com riqueza de pormenores, alguns episódios menos claros envolvendo dirigentes de clubes, ocorridos na fase final do campeonato. Após uma averiguação sumária, a PJ decidiu avançar oficialmente com um inquérito, tendo participado a situação ao Ministério Público. Tudo terá começado na véspera do jogo Beira-Mar-Marítimo, quando o guardião francês Palatsi recebeu no seu telemóvel uma chamada de um homem que se identificou como sendo dirigente de um clube sediado a sul do Mondego. A troco de cinco mil contos, o homem propunha a Palatsi que "facilitasse" a tarefa dos adversários no jogo marcado para a tarde do dia 25 de Abril. O guarda-redes terá recusado a tentativa de corrupção em termos veementes, participando o ocorrido ao treinador do Beira-Mar, António Sousa. Nessa altura já abaixo da "linha de água", mas ainda com possiblidades de garantir a permanência na I Divisão, os aveirenses acabaram por ceder um empate a uma bola no jogo com o Marítimo, marcado por uma controversa arbitragem do juiz Bruno Paixão. No final da partida, o presidente do Beira-Mar, Mano Nunes, comentou em termos menos correctos o trabalho do árbitro e acabou castigado pela Comissão Disciplinar da Liga a uma multa de 1100 contos.Palatsi terá voltado a ser alvo de tentativas de aliciamento na véspera dos jogos caseiros com o Alverca e o Leiria, disputados, respectivamente, em 9 e 23 de Maio. Por essa altura já o presidente do clube aveirense tinha sido informado do que estava a acontecer. E terá sido por sua iniciativa que, com a ajuda das autoridades policiais, foi montada uma armadilha ao presumível corruptor, que acabou por não resultar. Os aveirenses triunfaram por 2-1 sobre o Alverca e empataram com o Leiria a uma bola, neste caso com um infeliz auto-golo do médio Fusco. O destino dos aveirenses acabou por se decidir só na última jornada e o empate 4-4 no campo do Salgueiros não chegou para evitar a despromoção. Em contrapartida, o Alverca, seu concorrente directo ao longo das últimas jornadas, asegurou a manutenção com uma vitória por 2-1 sobre o Guimarães.Foi após o fecho do campeonato que chegou à PJ uma carta anónima contando pormenorizadamente algumas movimentações de dirigentes de alguns clubes no sentido de fixar os resultados das últimas jornadas do campeonato. Como é norma nestes casos, a PJ avançou com uma averiguação sumária do conteúdo da carta. E rapidamente confirmou a validade de alguns dos episódios relatados, tendo decidido abrir um inquérito oficial.Neste contexto, foram já ouvidos na inspecção de Aveiro da PJ o guarda-redes do Beira-Mar e ainda o treinador e o presidente do clube. Embora não querendo entrar em pormenores, Mano Nunes confirmou ter sido ouvido pela polícia no âmbito deste caso. "Espero que o inquérito seja um passo para a limpeza do futebol", limitou-se a dizer quando confrontado pelo PÚBLICO. Também os treinadores do Marítimo Nelo Vingada e António Simões já foram ouvidos em Lisboa, no âmbito deste inquérito. E a PJ solicitou à Liga de Clubes uma lista oficial de dirigentes de alguns clubes envolvidos na luta pela fuga à despromoção. Apesar de já ter sido feita há um par de meses, esta solicitação, no entanto, não mereceu até agora resposta por parte da Liga. Embora o autor dos telefonemas ao guarda-redes do Beira-Mar nunca se tenha identificado, tendo tido o cuidado de deixar pistas falsas, tudo indica que os investigadores conseguirão chegar até ele através da análise da lista detalhada de chamadas efectuadas a partir do seu telemóvel. A PJ está a seguir outras pistas, nomeadamente algumas supostas relações perigosas entre dirigentes e jogadores, mas o inquérito está, naturalmente, protegido pelo segredo de justiça.

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