Parecido por fora, muito melhor por dentro

Por fora a maior parte não é capaz de distingui-lo, tão subtis são as diferenças. Mas por dentro o novo Land Rover Discovery é mesmo novo: 85 por cento das suas peças são diferentes. Mais: ao evoluir incorporou tecnologias que a marca tinha testado noutros modelos e que, no conjunto, tornam o novo Discovery num dos mais sofisticados jipes do mercado. Como vêem, as aparência, por vezes, iludem...

Só aparentemente o mercado do todo-o-terreno é apenas um mercado. Em forte expansão em Portugal - facto para que contribui um regime fiscal que ainda continua a ser mais favorável (menos desfavorável...) do que os praticado nos automóveis ligeiros -, os jipes dirigem-se a públicos muito diferentes. E se a maior parte dos novos clientes tem horror à lama e ao pó, e só procura na posse de um jipe o "status" correspondente, há os que quando pensam num todo-o-terreno querem mesmo um todo-o-terreno. O Discovery foi pensado para este tipo de clientes, os mesmos que preferem o Nissan Patrol ao Terrano, ou o Pajero ao Frontera, ou o Land Cruiser ao Vitara. Isto para não falar nos famosos SUV como o Honda CRV ou o Land Rover Freelander.Modelos como o Discovery têm por isso que sobreviver às modas, têm de vender regularmente ao longo de vários anos e não apenas conseguir ser campeões do mercado durante alguns meses. Dito isto compreende-se melhor por que motivo decidiu a marca inglesa fazer um jipe novo mantendo a sua aparência externa e os seu posicionamento no mercado.Face ao anterior Discovery, este é ligeiramente mais comprido (15 centímetros), possui vias mais largas e são detectáveis alguns pormenores de "design" que mudaram (nomeadamente as ópticas, agora mais volumosas e arredondadas). Mas isso são pormenores. O essencial está sob o capot e justifica a nova designação da gama, Td5: trata-se de um novo motor turbodiesel de injecção directa, com cinco cilindros em linha com uma potência de 138 cv, contra os 112 cv do anterior bloco. Senhor de um bom binário, disponível numa ampla faixa de rotações, este motor distingue-se igualmente por uma suavidade de funcionamento ímpar, sendo muito mais silencioso. Assim animado, este novo Land Rover transfigura-se e passa a permitir prestações muito interessantes, nomeadamente em auto-estrada.Para além de um novo motor, o Discovery passou também a propor tudo o que de mais sofisticado há na electrónica adaptada à condução em todo-o-terreno. Para além de um ABS de última geração (continuo a não apreciar o ABS na condução fora de estrada, e este não é facilmente desligável), as principais novidades são os sistemas que dão pelo nome de HDC, ETC e ACE. Expliquemo-nos. O primeiro destes sistemas foi testado no Freelander e é um sistema electrónico que actua sobre o motor e os travões e permite controlar a velocidade em descidas muito acentuadas. Voltámos a comprovar a sua eficácia e a ajuda que dá a condutores menos experientes. O sistema ETC controla a patinagem das rodas e também se revela de grande utilidade. Finalmente, o ACE - só disponível nas versões com o Pack XE - é um sistema de controle da inclinação em curva que actua sobre a suspensão hidráulica e permite curvar com uma grande eficiência. Assim, apesar das dimensões imponentes e de o centro de gravidade se situar num plano mais elevado do que nos automóveis normais, o Discovery é praticamente tão eficiente quanto estes em estradas sinuosas.Mas há mais. A suspensão traseira pode ser hidraulicamente sobreelevada em terrenos difíceis, o que permite melhorar os ângulos de saída, e existe um dispositivo que, em caso de risco de atolanço, acciona automaticamente este mecanismo, melhorando as possibilidades de o condutor evitar ficar atascado.Este conjunto de equipamentos permite que o novo Discovery mantenha as suas excepcionais qualidades em todo-o-terreno - trata-se, neste domínio, de um dos mais eficazes modelos do nosso mercado - ao mesmo tempo que o comportamento em alcatrão melhorou, assim como o conforto. É caso para dizer: bingo!No que diz respeito aos interiores, a evolução também é sensível, sendo os assentos mais confortáveis e envolventes e mais abundante a oferta de equipamento. O ar condicionado, por exemplo, passou a ser de regulação electrónica, e o sistema de áudio passou a propor tomadas individualizadas de auscultadores nos bancos de trás.Finalmente, é de registar o desaparecimento dos "banquinhos" laterais no porta-bagagens, agora substituídos por dois bancos verdadeiros e virados para o sentido de marcha. O porta-bagagens também cresceu e ganhou dimensões imperiais, mas isso fez-se à custa do espaço para os joelhos dos passageiros dos bancos de trás, que deixou de ser gigantesco para ser apenas generoso.Pontos fracos? Claro que existem. O que mais me desagradou foi o raio de viragem, isto é, a deficiente capacidade de brecagem. A quantidade de vezes que é necessário repetir manobras em curvas mais apertadas chega a desesperar. Igualmente deficiente é o acesso aos bancos de trás e a colocação dos comandos dos vidros eléctricos.Quanto ao preço, apesar de bem mais elevado que o da anterior versão, temos de convir que se justifica. Sobretudo se se comprovarem as promessas da marca e a fiabilidade - a pecha de algumas séries do anterior Discovery - também melhorar.

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