Torne-se perito

PSD: Uma bancada irreconhecível

Leonor Beleza, Barbosa de Melo, Silva Marques, Calvão da Silva, Mira Amaral, Carlos Pimenta, José Gama, Fernanda Mota Pinto, Falcão e Cunha, Cabrita Neto, Carlos Brito. Lembram-se? Pois bem: estas são apenas algumas das figuras da constelação social-democrata na Assembleia da República que soçobraram à onda renovadora da liderança de Durão Barroso na elaboração das listas de candidatos a deputados. Se a este grupo se juntar a ausência de Pacheco Pereira e de Carlos Coelho - que entretanto se transferiram para o Parlamento Europeu - e o afastamento de deputados como Jorge Paulo Roque da Cunha, Moreira da Silva, Lalanda Gonçalves, Luís Nobre, Pedro Campilho, Domingos Gomes, António Taveira ou Emídio Guerreiro ganha forma a dimensão da "limpeza" que a direcção barrosista promoveu. Mais difícil se torna fazer, desde já o desenho, do mapa da bancada parlamentar que o PSD apresentará em São Bento depois das eleições de Outubro. Recheadas de autarcas colocados em lugares claramente elegíveis mas que, na maior parte dos casos, não abandonarão as suas funções nos respectivos municípios, as listas obrigam a alguns exercícios de aritmética para se descortinarem os candidatos que efectivamente irão ocupar os lugares em São Bento. O caso do Porto é típico: encabeçada por Luís Filipe Meneses, que preside à Câmara de Gaia, a lista consegue fazer o pleno de todos os presidentes de câmara eleitos pelo PSD no distrito, inclui um vereador da autarquia de Gondomar, José Oliveira, e o presidente da comissão administrativa da Trofa, João Sá, e o próprio Valentim Loureiro ocupa o 15º lugar, a tal posição que impôs a Durão para demonstrar que quer ver o partido crescer num distrito que nas últimas legislativas deu ao PSD 14 deputados. Recorrendo então à aritmética, isto significa que apenas metade das figuras que ocupam os lugares que à partida são elegíveis serão "verdadeiros" candidatos. Olhando para o resto do país os exemplos de presidentes de câmara nos rostos das listas sucedem-se. É o caso de José Raul dos Santos, em Beja; de José Manuel Fernandes, que preside à Câmara de Vila Verde, em Braga; de Pedro Santana Lopes, que lidera a Figueira da Foz, em Coimbra; de Isabel Soares, em Faro; de Francisco Araújo, que preside à Câmara dos Arcos de Valdevez, em Viana do Castelo; de Manuel Martins, em Vila Real e de Fernando Ruas, em Viseu.A par com a presença maciça dos autarcas, o domínio de dirigentes distritais e concelhios é também avassalador, algo que foi recebido no interior do próprio partido com alguma surpresa. É certo que desde o congresso de Coimbra, Durão tomou como novo lema para o partido a renovação sem exclusões. Mas se há quem conceda que era inevitável a influência de um "velho" aparelho que estrategicamente convive com a liderança de Durão (tal como terá convivido na era marcelista), há também quem veja nas escolhas feitas em alguns distritos um "novo" aparelho barrosista que emerge. Como exemplo aponta-se o caso de Braga, onde o líder distrital e indefectível barrosista Fernando Reis, impôs as suas tropas e só não terá conseguido "abater" Miguel Macedo por imposição de Marques Mendes, que entretanto fora afastado de cabeça de lista por este distrito, transitando para Aveiro. De fora ficou Emídio Guerreiro, actual deputado que lidera a poderosa concelhia de Guimarães, entrando Luís Cirilo, tido como próximo do líder distrital. A "guerra" já rebentou, mas os focos de tensão alastram, com denúncias de traições e acusações de incapacidade política da direcção de Barroso. Em Castelo Branco, Carlos Pinto, que preside à Câmara da Covilhã, não cala a sua indignação contra a escolha do líder distrital Penha Pereira para encabeçar a lista social-democrata num distrito onde o PS apresenta nada mais nada menos do que António Guterres.Na Guarda, a concelhia local demitiu-se acusando o líder distrital Álvaro Amaro de ter traído compromissos assumidos, "promovendo" Ana Manso a número dois. Também em discordância com as escolhas, o presidente da Câmara de Manteigas abandonou mesmo o partido.Em Coimbra, só mesmo a escolha de Santana Lopes terá travado a revolta pública da concelhia local quando verificou que nenhum dos nomes que tinha proposto teve direito a lugar nas listas. Em Aveiro, a concelhia decretou o "black out" até ao dia das eleições, deixando desde já o aviso de que "não concorda com a escolha de um cabeça de lista não ligado ao distrito de Aveiro". O resultado final das listas cavou alguma desilusão no partido. Dos "barões" que empurraram Durão para a liderança do partido no congresso de Coimbra, Álvaro Barreto é a excepção à recusa geral, entrando como número dois por Lisboa para dar a cara no combate de Outubro.Mais a Norte, Eurico de Melo aceitou apenas ser mandatário da lista de Braga. Consequência da draconiana lei das incompatibilidades ou da percepção de que a derrota do PS em Outubro é uma missão impossível, os notáveis afastaram-se. Ausências que Santana Lopes não deixou passar em claro, no Conselho Nacional que aprovou as listas, advertindo o líder de que esperava que não viessem a ser esses os "ministeriáveis" quando o PSD chegasse ao poder. Confrontado com essa indisponibilidade, Durão voltou-se para a "prata da casa". Promoveu os autarcas a pontas de lança e fez deslocar pesos pesados para em distritos onde a luta promete ser renhida -Marques Mendes em Aveiro e António Capucho em Setúbal são dois exemplos - , sem deixar desguarnecidas as suas tropas (ver texto em baixo).Na segunda linha surgem os homens do aparelho, aqueles de quem, a par com os autarcas, Durão esperará a mobilização das hostes no terreno para a renhida luta com os socialistas. Sucede, porém, que a "renovação" à moda de Durão fez vítimas que ninguém consegue explicar, como será o caso de Paulo Roque da Cunha, tido como um dos melhores parlamentares na última sessão legislativa. Ou de Moreira da Silva, ou de Barbosa de Melo. A proclamada renovação geracional de Durão Barroso nas listas de deputados deu lugar à entrada dos seus indefectíveis apoiantes. Lisboa surge como o círculo de abrigo do "núcleo duro" do líder social-democrata.A lista, que é encabeçada pelo próprio Durão, inclui o secretário-geral, José Luís Arnaut, em quarto lugar, Henrique Freitas, secretário-geral-adjunto, em 12º, e José Salter Cid, na 15ª posição. Nuno Morais Sarmento acabou por ocupar o simbólico último lugar na lista de efectivos, à semelhança aliás de Diogo Vasconcelos, um dos vice-presidentes da direcção de Barroso, que figura também em último lugar na lista do Porto, depois de ter sido dado como número dois da lista encabeçada por Meneses. Uma relance por outros distritos revela que, na hora das escolhas, Durão não se esqueceu dos seus apoiantes. Em Santarém, Miguel Relvas, membro da Comissão Política Nacional (CPN), surge em primeiro lugar, relegando para terceiro Luís Marques Guedes, um dos deputados que mais prestígio granjeou no Parlamento. Amigo pesssoal de Durão Barroso, o presidente da Câmara de Valpaços, Francisco Tavares, ocupa o segundo lugar em Vila Real, enquanto em Leiria a terceira posição ficou cativada para Feliciano Barreiras Duarte, membro da CPN e um dos indefectíveis de Barroso. Menos "protegido" terá sido Neto da Silva, que decidiu desistir da candidatura, depois de se ter visto relegado para um obscuro 21º lugar na lista do Porto. À parte este núcleo, vários são os membros da direcção de Barroso que aparecem nas listas do PSD, como Eduarda Azevedo, José Cesário, João Sá, Isabel Soares, António Capucho. Uma leitura atenta das lista revela também que Santana também não terá abandonado as suas tropas, ao aceitar encabeçar a lista por Coimbra. Descontado o caso de José Raul dos Santos, que encabeça a lista por Beja, os mais indefectíveis "santanistas" não foram varridos pela renovação: em Lisboa, Rui Gomes da Silva e Henrique Chaves ocupam, respectivamente, os 9 e 16º lugares enquanto Manuel Frexes é o segundo em Castelo Branco.

Sugerir correcção