Um festival quase super

Com os espectáculos dos UB40, em Lisboa, e dos Creatures, no Porto, concluiu-se anteontem a quinta edição do festival Super Bock Super Rock. Uma edição que atraiu um total de 41 mil espectadores ao ritmo de cinco concertos por dia. O público reagiu bem a um modelo descentralizado e prolongado de festival. A organização prometeu repetir para o ano.

Ao fim de dez dias, a organização do Festival Super Bock Super Rock fez as contas: foram 50 concertos, dados por 29 artistas, num total de 58 horas de música, que levaram aos seis palcos de Porto e Lisboa onde se desenrolou a edição deste ano 41 mil espectadores - ou seja, terão sido vendidos cerca de 75 por cento dos bilhetes. Anteontem, o festival encerrou em Lisboa num concerto na Praça Sony com os UB40 e os Kussondulola que atraiu quase dez mil pessoas. Segundo Luís Montez, da promotora de espectáculos Música no Coração, o Super Bock Super Rock '99 correu "melhor que as expectativas".Com efeito, a originalidade do modelo do Super Bock Super Rock (SBSR) parece ter funcionado. Com salas quase sempre pelo menos compostas (o concerto dos Creatures no Porto terá sido das poucas excepções) e até por vezes a abarrotar (os concertos dos Skunk Anansie, Tricky e Ben Harper esgotaram), a ideia de uma série de espectáculos ao longo de semana e meia conseguiu quebrar a efemeridade do modelo habitual do festival de três dias. "Tivemos coisas muito bonitas" diz Luís Montez, "como a estreia dos Gus Gus ou os Skunk Anansie, que foram monstruosos. E divulgámos bandas que nem passam na rádio, como os Spain, que tiveram bons concertos". Para além disso, continua, este modelo permitiu mostrar "grupos na íntegra e em boas condições para o público". É que "se o Ben Harper tivesse estado num festival de três dias, no meio de outras bandas, só teria tocado por uma hora; assim, tocou duas". Montez promete que, no ano 2000, o festival voltará a realizar-se nos mesmos moldes, incluindo ainda outras músicas: "Este ano faltou 'heavy-metal' e música de dança, para o próximo vamos tentar abrir-nos a essas áreas". Entre os melhores momentos do festival, destaque-se o acolhimento entusiástico a Ben Harper em Lisboa, a ferocidade dos Atari Teenage Riot ou a excentricidade do finlandês Jimi Tenor. Menos bom foi o facto de algumas das bandas só terem passado por Lisboa e não pelo Porto - porque, segundo Luís Montez, "já virem a Lisboa é difícil" e, na semana do SBSR, o Coliseu do Porto já tinha duas noites ocupadas por concertos de Ney Matogrosso. De qualquer forma, diz, "Tricky nunca tinha tocado no Porto e os Zen e os The Gift também não foram a Lisboa".Por outro lado a dispersão dos espectáculos por várias salas na mesma cidade obrigou alguns espectadores a terem de escolher entre um concerto ou outro. O que terá prejudicado sobretudo as bandas portuguesas que actuaram em pequenos espaços, como o Paradise Garage, em Lisboa, ou o Hard Club, em Gaia, perante muito menos público do que o que teriam se actuassem nas primeiras partes de grupos estrangeiros. Luís Montez explica que "isso faria com que os espectáculos, muitos deles em dias de trabalho, fossem longos. Mesmo assim, demos oportunidade de divulgação para bandas pouco conhecidas, como os Atomic Bees ou os Coldfinger".Quem soube aproveitar a sua oportunidade foram os Kussondulola, que fizeram a primeira parte do espectáculo de anteontem dos UB40 para um óptimo acolhimento do público. Durante a sua actuação, já estariam perto de dez mil pessoas na Praça Sony, número ainda mais alto aquando da entrada dos cabeças de cartaz. A alegria em palco dos Kussondulola contagiou o público, que não regateou aplausos a músicas como "Dançam no Huambo" ou "Rock steady". Os Kussondulola perguntam "o reggae é positivo ou não?" para ouvirem um grande "sim", despedindo-se com um grito de "O amor é a coisa mais prática do mundo - pratiquem o amor!"Entraram então os UB40, veteranos de vinte anos, que confirmaram o espírito positivo do reggae com uma actuação descontraída e festiva, sem grandes fulgores mas suficiente para deixar o público da Praça Sony mais que satisfeito. Interpretaram um misto de músicas recentes e clássicos, ou, como disse o guitarrista Robin Campbell, "músicas dos anos 80, ainda vocês não tinham nascido".Pouco depois, Robin, o mais falador dos UB40, anuncia "Crying over you", "uma canção escrita e gravada originalmente pelo génio Ken Boothe", uma das muitas versões do seu repertório. Apesar de Ali Campbell cantar a maioria das canções, vários membros do grupo passaram pelo microfone, com destaque para a exuberância do percussionista Norman Hassan. A audiência continuou a dançar com clássicos como "Red red wine", "(I can't help) Falling in love with you" ou "Rat in me kitchen". Ao fim de hora e meia abandonaram o palco, mas foram obrigados pelo público a um "encore", despedindo-se definitivamente depois do hino reggae "Legalize it", concluindo o Super Bock Super Rock em ambiente de festa.

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