PS sobe e AD afunda-se

O PS com uma maioria absoluta com que Cavaco Silva nunca sonhou. Uma AD que vale menos do que o PSD sozinho. Uma CDU em recuperação e um Bloco de Esquerda promissor. Este é o quadro traçado por esta sondagem em relação às intenções de voto nas eleições legislativas. Nas europeias, a vantagem socialista ainda é maior. No barómetro dos ministros, o destaque vai para a punição de Maria de Belém. Mário Soares, pela positiva, e Paulo Portas, pela negativa, estão em foco na avaliação dos diversos protagonistas da vida política.

O contraponto com a sondagem publicada há meio ano revela de imediato dois movimentos de sentido contrário, com uma amplitude muito semelhante: enquanto o PS sobe dez pontos percentuais no quadro das intenções de voto para as eleições legislativas, a AD cai 8,7 por cento em relação à soma obtida pelo PSD e PP na consulta feita em Setembro de 1998. O resultado é um dramático aumento do fosso que separa socialistas e "aliancistas", dando ao PS uma confortabilíssima maioria absoluta.Os 55,3 por cento registados pelos socialistas em matéria de intenções de voto nas legislativas, que superam de longe os melhores resultados de Cavaco Silva, indicam uma radical inversão na tendência de queda que a sondagem de Setembro do ano passado trouxe para o PS. Nessa altura, o partido do Governo apresentava uma descida sensível em relação à sondagem anterior, realizada em Junho. Do início ao fim do Verão, os socialistas pioraram o seu desempenho em seis pontos percentuais, descendo da casa dos 51 para a dos 45 por cento. A sondagem de Setembro trazia sérios motivos de preocupação para o PS. Embora a queda percentual em relação a Junho ainda garantisse aos socialistas a manutenção da maioria absoluta, constituia uma descida importante. Mais: a soma das intenções de voto atribuídas ao PSD (36.1 por cento) e ao PP (5.2 por cento) atingia 41,3 por cento. O que significa que a AD em perspectiva naquela altura ameaçava morder os calcanhares ao partido do Governo.Os resultados da presente sondagem deverão para já dissipar por completo o quadro de preocupação que a consulta anterior deve ter criado entre as hostes do PS. E fornecem com certeza matéria de reflexão aos apologistas da AD, cujo valor eleitoral em matéria de legislativas está 3,5 por cento abaixo da percentagem obtida pelo PSD sozinho na sondagem de Setembro. Esta sondagem mostra ainda que o partido do Governo esteve blindado contra os variadíssimos "casos" que envolveram o Executivo no último semestre. Aparentemente, esse fenómeno não pode ser explicado através de uma eventual indiferença ou ignorância do eleitorado em relação aos aspectos negativos da acção governamental. O "barómetro do Governo" indicia um efectivo escrutínio da governação, traduzido numa nem sempre clara "dança" dos ministros no quadro da sua avaliação relativa. O que resulta da observação dos resultados é, portanto, a opção por uma punição personalizada, concentrada neste ou naquele membro do Governo, que não é de todo transferida para o partido no poder. Enquanto vêem crescer a distância que os separa do PS quando olham para a frente, social-democratas e populares detectam pelo retrovisor eleitoral a aproximação da CDU. A coligação liderada pelo PCP aproxima-se da meta simbólica dos dez pontos percentuais (sobe de 6.9 para 9.3 por cento) e regista assim o seu melhor resultado dos últimos anos. A CDU obteve 8.6 por cento dos votos nas últimas legislativas e nunca nas sondagens publicadas desde então conseguiu reunir intenções de voto da ordem dos dois dígitos que agora surgem ao seu alcance.O Bloco de Esquerda, criado já depois da última sondagem, fez uma estreia auspiciosa, alcançando dois pontos percentuais. Um resultado que garantiria representação parlamentar à nova coligação. Se os socialistas no seu conjunto têm razões de sobra para apreciar os resultados desta sondagem, alguns ministros do Governo do PS terão dificuldade em associar-se a qualquer manifestação de contentamento. O caso extremo é de Maria de Belém. A ministra da Saúde, que em Setembro ocupava o terceiro lugar do "ranking" governamental, cai agora para o último posto. A queda vertiginosa de Maria de Belém é acompanhada pela visível derrapagem da sua colega Elisa Ferreira. A ministra do Ambiente, que ostentava a quarta posição há seis meses, é agora décima primeira, abaixo da linha d'água que separa os ministros com avaliação positiva daqueles que recebem nota negativa. Estragos da polémica em torno da co-incineração, certamente. Quem entra directamente para a zona negativa é Capoulas dos Santos. O novo ministro da Agricultura não escapa à maldição do seu antecessor, o eterno (enquanto durou) pior classificado no "barómetro do Governo".Ainda no grupo dos que vêem deteriorar-se a sua posição relativa, destaque para Marçal Grilo, que só não passa de penúltimo a último devido ao descalabro de Maria de Belém, e para Jorge Coelho, que absorve o impacto negativo dos vários "casos" envolvendo as polícias que tutela. Mais impermeável parece ser João Cravinho, cuja descida insignificante é desproporcional em relação à polémica em torno da Junta Autónoma das Estradas. Ferro Rodrigues reforça a sua condição de ministro mais popular e Sousa Franco, o ministro "euro", também sustenta bem a segunda posição. No terceiro lugar aparece o ascendente ministro da Cultura, seguido de Jaime Gama, que passa do sétimo ao quarto lugar.

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