A Polícia Judiciária (PJ) está a investigar duas viagens ao estrangeiro realizadas por José Eduardo Moniz em 1994, altura em que ocupava o cargo de director-coordenador de informação e programas da RTP, que terão sido pagas pela Olivedesportos, empresa que detém os direitos das transmissões televisivas do jogos de futebol em Portugal e que negociou com a RTP contratos para a sua transmissão neste canal. A notícia foi avançada na sexta-feira à noite no programa Donos da Bola da SIC. O próprio Eduardo Moniz respondeu, por fax, às acusações feitas dizendo que pagou do seu bolso as duas deslocações. Uma fonte da Olivedesportos contactada pelo PÚBLICO, tem uma versão um pouco diferente, pelo menos em relação a uma das viagens: a empresa de Joaquim Oliveira adiantou o dinheiro, mas foi reembolsada, mais tarde, pelo ex-director da RTP.O caso remonta a Janeiro e Junho de 1994, altura em que Eduardo Moniz terá viajado com a sua mulher ao Rio de Janeiro (entre dias 14 e 22 de Janeiro) e a Nova Iorque (entre dias 3 e 10 de Junho). As deslocações e respectivas estadias foram vendidas pela agência de viagens Cosmos, de que é proprietário Joaquim Oliveira, e foram pagas pela Olivedesportos, de que também é proprietário o mesmo empresário em conjunto com o seu irmão António Oliveira, ex-seleccionador nacional e ex-treinador do FC Porto.Estas duas viagens, em nome de José Eduardo Moniz e sua mulher, estão registadas em dois boletins da Cosmos, em posse da PJ e a que a SIC afirmou ter tido acesso. A primeira teve um custo de 1.105.420 escudos e a segunda 515.914 escudos. No caso desta última, a quantia em causa viria a ser incluída numa factura de que também faziam parte os custos de um estágio em Ofir da comitiva do União da Madeira. Este clube disputou um jogo com o Famalicão, quando ambos os clubes militavam na I Divisão, no valor de 1.121.132 escudos, e que foi debitada também à Olivedesportos.Terá sido no âmbito da investigação do chamado "mega-processo da corrupção no futebol" - onde também estava incluído o caso de uma outra viagem paga pelo FC Porto ao ex-árbitro Carlos Calheiros na mesma agência de viagens - no decorrer da qual foi apreendida documentação da Cosmos, que possibilitou às autoridades tomarem conhecimento desta nova situação. Segundo a SIC, a PJ voltou a efectuar buscas, na última sexta-feira, às instalações da Cosmos, no Porto, e da Olivedesportos, em Lisboa. A mesma estação adiantou ainda que, face a estes novos dados, a Judiciária investiga agora as relações entre a RTP e a Olivedesportos.José Eduardo Moniz reagiu, por fax, à notícia da SIC. O actual director da TVI declarou que pronunciar-se sobre uma investigação em curso no Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) é algo que considera extremamente grave. Adianta, porém, desconhecer totalmente estas acusações e que o processo, a existir, deveria estar sobre segredo de justiça. Eduardo Moniz esclarece, no entanto, que pagou do seu bolso as viagens em questão e termina dizendo que não fará mais nenhuma declaração sobre este assunto desrespeitando a legalidade.Uma fonte da Olivedesportos contactada pelo PÚBLICO, adiantou um pouco mais. Segundo a mesma, a viagem efectuada ao Rio de Janeiro pelo então "homem-forte" da RTP, foi realmente liquidada pela empresa dos irmãos Oliveira, mas foi posteriormente paga por José Eduardo Moniz à Olivedesportos. Tudo terá acontecido depois de uma conversa informal entre Moniz e Joaquim Oliveira, no decorrer da qual o ex-director da RTP terá tomado conhecimento de que a agência de viagens Cosmos era propriedade deste empresário e lhe terá solicitado uma viagem para comemorar um aniversário de casamento com a sua mulher. O que veio a acontecer, com a Olivedesportos a liquidar a mesma, sendo posteriormente reembolsada por Moniz.Em relação à segunda viagem, a Nova Iorque, a mesma fonte responde que na altura em que foi efectuada - Junho de 1994 - Eduardo Moniz já tinha abandonado a RTP (saiu a 9 de Maio de 1994), não tendo voz activa em relação aos contratos a realizar com a Olivedesportos.A empresa dos irmãos Oliveira assinou dois contratos com a RTP: o primeiro respeitante ao período entre 1992/1995 e o segundo entre 1995/1999.