Psicopedagogia Curativa "é uma mentira"

Diz que o curso de Psicopedagogia Curativa está a ser leccionado essencialmente por professores de História, que a Universidade Moderna não esta interessada em investir na qualidade. E que há mais alunos do que os permitidos pelo ministério. José Manuel Arrobas foi afastado há dois anos daquela instituição e resolveu falar. Alguns pais estão seriamente preocupados com a imagem da instituição.

"Eu queria que o curso fosse à séria e não uma brincadeira". A frase é de um dos fundadores do curso de Psicopedagogia Curativa, da Universidade Moderna de Lisboa, que fala da necessidade de uma intervenção urgente do Ministério da Educação (ME). José Manuel Arrobas, ex-coordenador da licenciatura que vai agora no quarto ano de existência, diz, em entrevista ao PÚBLICO, que foi afastado por fazer exigências para que as coisas funcionassem com o mínimo de qualidade. "Este não era um curso de papel e lápis como eles estavam habituados", acusa. "É uma mentira o que se passa hoje em Psicopedagogia Curativa", defende.Contactada pelo PÚBLICO a reitoria não respondeu até ao final do dia de ontem às acusações que José Manuel Arrobas faz em relação ao processo de "afastamento compulsivo" a que foi sujeito, temperado, garante, por ameaças. Como aliás terá acontecido com outros professores afastados do mesmo curso sob o argumento de que era necessário proceder "a remodelações do corpo docente", explica o ex-coordenador. No entanto, continua, o curso hoje "nada tem a ver com o projecto inicial que o ME aprovou". E explica porquê: no primeiro ano de entrada em funcionamento "havia 70 vagas aprovadas pelo ME e entraram cerca de 300 e tal alunos. No ano seguinte a mesma coisa e no ano seguinte um pouco menos... (O que faz com que haja cerca de 1200 alunos inscritos neste momento)". Segundo os registos do ME, consultados pelo PÚBLICO, foram aprovados 80, 100 e 90 lugares para 1995, 96 e 97, respectivamente, tendo a instituição recebido 102, 247 e 124 novos alunos. De qualquer forma o "sucesso" de Psicopedagogia Curativa, para este professor, fez-se à custa da qualidade. "Isto não tinha nada a ver com o projecto inicial... ser aquele 'todos ao monte e fé em Deus'. E não augurava nada de bom"."Mas o que acabou por fazer com que eu me tornasse definitivamente incómodo foi a exigência de que o curso tinha que ter uma série de espaços específicos, para que os estudantes tivessem um acompanhamento na parte prática, o que exigia, obviamente, que a universidade entregasse mais salas", explica. "É que não basta mandar os meninos para um bairro estagiar, há que avaliar o que é que eles aprendem, em grupos pequenos, supervisionados".O problema da falta de espaços aplicou-se também a outras cadeiras, como "Técnicas de Relaxamento e Psicodrama que pela primeira vez iam ser leccionadas por uma universidade portuguesa, com o acordo do ME". Novas cadeiras, novas exigências: "Aquelas cadeiras não podiam existir sem espaços próprios. Penso que aí me tornei tão incómodo que resolveram fazer uma revoluçãozinha".Como o próprio diz "a primeira fornada de licenciados sai este ano lectivo". Mas Arrobas insiste que é urgente "que o ministério se debruce sobre esta mentira". "Como é possível que este curso, que é um curso de saúde (pertence ao Departamento de Saúde da Universidade Moderna) tenha agora, como figuras chave, a leccionar, professores de História?", interroga.Uma das alunas contactadas pelo PÚBLICO afirma, com reservas, que, neste momento, o que interessa é que a licenciatura termine. De preferência com "poucas ondas". Esta aluna explica que a mudança de muitos professores que leccionavam o curso acabou por se reflectir no seu funcionamento, mas não deixa de sublinhar que "lacunas" existem em todo o lado e que o que interessa agora é "não denegrir mais a imagem da licenciatura". Uma imagem que está a "prejudicar o futuro da maioria dos alunos", como desabafa preocupada a mãe de uma estudante. "Há aqui situações relacionadas com as notícias de situações obscuras sobre as quais não me quero pronunciar. Mas isto são cursos caros que deveriam ser acompanhados pelo ME". "Tenho tido contactos com outros pais que estão muito preocupados", continua, acrescentando que há quem esteja a pensar seriamente em pedir uma reunião com os responsáveis da Moderna. Apesar dos moldes em que afirma ter sido afastado, José Manuel Arrobas não apresentou qualquer queixa formal contra a Dinensino - entidade instituidora da Universidade Moderna. "Não apresentei, mas fiz contactos com a Comissão Central de Combate ao Banditismo, para saber em que ponto é que estava a minha segurança e a da minha família... e fui ouvido pelo SIS [Serviço de Informações e Segurança]. Queriam saber o que é que se tinha passado e queriam saber se eu sabia mais do que de facto sabia...". O ex-coordenador e professor daquela casa diz que não, não sabe mais. Sabe apenas o que se passou nos primeiro dias de Março, quando o vice-reitor, Sousa Lara, decidiu assumir interinamente a coordenação do curso e nomear um outro professor, João Aníbal Henriques, para adjunto. José Manuel Arrobas acena o despacho da decisão durante a entrevista ao PÚBLICO, ao mesmo tempo que insiste que tudo não passou de "uma farsa". Para Sousa Lara, segundo reza o documento, a remodelação visava corrigir "as irregularidades detectadas no serviço docente" e proceder a "uma intervenção correctiva" da licenciatura.Uma explicação diferente, portanto, daquela que, em entrevista ao PÚBLICO, foi dada pelo próprio reitor da universidade, José Júlio Gonçalves (ver PÚBLICO 8/2/99) onde afirmava que "o cargo de director do curso foi, em 1988, ocupado pelo professor Dias Cordeiro, por necessidades imperiosas de, dada a dimensão e importância que este atingiu, ser dirigido por uma autoridade académica doutorada e não um professor com mestrado"."Só que em Março, quando saí, já eu era doutor há seis meses", garante José Manuel Arrobas.

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