A rota das ratazanas

A Rádio Altitude, da Guarda, vai finalmente ser privatizada. O prazo de candidaturas à aquisição do património da mais antiga estação emissora local do país, termina hoje. São já conhecidos quatro candidatos, mas pouco se sabe dos projectos para aquisição desta rádio que foi criada pelos doentes internados no ex-Sanatório Sousa Martins e é hoje propriedade do hospital local.

O croata Dinko Savik foi um dos muitos criminosos a que a Argentina deu abrigo após a II Guerra Mundial. O jornalista Carlos Santos Pereira explica na reportagem apresentada hoje, na RTP2, porque é que o comandante do campo de extermínio de Jasenovac - conhecido com o "Auschwitz dos Balcãs" -, viveu impunemente até Junho de 1998. A rubrica Sinais do Tempo incluiu ainda uma reportagem da BBC, "Eva Perón Protectora de Nazis", que apresenta novas provas que reforçam as já conhecidas ligações do casal Perón ao nazismo e à fuga de algumas das mais importantes figuras do III Reich.Considerado criminoso de guerra por uma comissão do Governo jugoslavo em 1947, os métodos usados por Dinko Savik para eliminar judeus, sérvios e ciganos provocaram, segundo os historiadores jugoslavos, a morte a 700 mil pessoas em Jasenovac. Com a vitória dos Aliados, Savik eclipsou-se durante cinco décadas até que em Abril de 1998 surgiu nos ecrãs da televisão argentina de "consciência tranquila". Em Jasenovac "não se passou nada". Nos "cem dias" em que dirigiu o campo de extermínio, em conjunto com a mulher, não aconteceu nada de anormal. Se fosse preciso desmontar as afirmações de Savik a pequena falha de memória sobre o período em que comandou Jasonevac bastava - os cem dias foram, afinal, dois anos. Mas este tipo de provas não são necessárias, os testemunhos dos sobreviventes desmentem a tentativa de branqueamento do passado e Carlos Santos Pereira apresenta provas da conivência das autoridades croatas com este criminoso, considerado ainda hoje um herói por certos sectores croatas. Savik continua preso num hospital-prisão de Zagreb, mas o primeiro julgamento, marcado para 17 de Janeiro, foi adiado. A mulher, Nada, que dirigiu o campo de mulheres, foi extraditada em conjunto com o marido e esteve detida até 31 de Janeiro, dia em que foi libertada por falta de provas. Intitulado no original "The Evita Connection", a reportagem da BBC traça a "rota das ratazanas", designação dada ao percurso seguido pelos criminosos nazis em fuga da Alemanha. Descontente com a "infâmia" do julgamento de Nuremberga, Juan Perón criou uma comissão secreta dentro do próprio palácio presidencial para assegurar o salvamento "de alguns dos mais diabólicos homens deste século". O jornalista britânico, Julian O'Hallorane, explica que, na fuga todos os caminhos iam dar a Roma, cidade onde padres católicos pró-nazis próximos do Vaticano, ajudavam os criminosos a conseguir novas identidades. Joseph Mengele, o médico de Auschwitz conhecido como Dr. Morte, e Adolf Eichmann, "inventor" da Solução Final, nunca foram julgados pelos actos cometidos durante a II Guerra Mundial e envelheceram serenamente na América Latina, graças ao refúgio concedido pelos Perón. Um tráfico humano feito com a cumplicidade dos serviços secretos ingleses e norte-americanos, que fechavam os olhos perante as evidências. A ajuda do casal nunca foi inocente, muito menos foi inocente a visita que Evita fez a cinco países europeus no Verão de 1947, entre os quais Espanha, Portugal e Itália, os três principais portos de saída rumo à Argentina. Os Perón forneceram vistos e passaportes em troca de dinheiro, milhares de dólares, que Eva, a menina pobre da província, distribuia pelos descamisados argentinos, para quem era Santa Evita. Embora o actual ministro dos Negócios Estrangeiros admita na reportagem que os dez anos de presidência do Coronel Juan Perón são "um episódio vergonhoso da história argentina que tem de ser investigado para ser exorcizado", a opinião não é consensual na Argentina. Os entraves à investigação da ligação nazi de Evita são muitos e indesmentíveis como o comprovam alguns dos entrevistados pela equipa da BBC. Algumas páginas fundamentais desapareceram dos dossiers, os arquivos mais importantes não estão acessíveis e a justiça não obriga algumas testemunhas-chave a depor. No país de Carlos Menem todos os métodos são legítimos para manter em segredo os pecados cometidos pela principal santa da Nação.

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