Sousa Cintra quer liderar águas no Brasil

Entre milhões de contos e de hectolitros, Sousa Cintra prepara-se para construir mais quatro fábricas de cerveja e outras tantas de água mineral. Nos próximos cinco anos, o empresário português, cada vez mais rendido ao sotaque do Brasil, conta investir, pelo menos, 80 milhões de contos, atingir uma quota de mercado de dez por cento nas cervejas e liderar o das águas minerais. Os refrigerantes, longe de serem prioritários, também vão aparecer, cunhados com a marca Cintra. As bebidas vão chegar a Portugal no próximo Verão, mas a produção é feita em Espanha.

Já não é em Portugal que o empresário Sousa Cintra gosta de investir os seus milhões. Depois de um primeiro investimento de nove milhões de contos, na compra e renovação de uma cervejeira desactivada no Estado de São Paulo, em Setembro de 1997, o ex-presidente do Sporting "tomou-lhe o gosto" e as suas ambições estão longe de serem modestas para o gigantesco mercado do Brasil.A carteira está recheada com cerca de 80 milhões de contos, a distribuir pela construção de novas fábricas de cerveja, pela produção de refrigerantes cunhados com a marca Cintra e pelo lançamento do negócio das águas, onde a ambição é, tão simplesmente, conquistar a liderança do sector no prazo de cinco anos. O crescimento no Brasil não se limita às cervejas, onde mesmo assim, o grupo Cervejarias Cintra, com um capital social de 3,5 milhões de contos, quer atingir uma quota de mercado de dez por cento daqui a cinco anos. E avançar com a construção de quatro novas fábricas. Mas é na água mineral, que sempre acompanhou Sousa Cintra - desde a Vidago, entretanto vendida, à Alardo, adquirida depois do episódio das algas - que o empresário vai concentrar grande parte da sua atenção e, obviamente, dos seus recursos. Os primeiros passos já foram dados. Em São Paulo, por cerca de 260 mil contos, o empresário adquiriu os terrenos onde está localizada a fonte Santa Clara, no Rio de Janeiro também já tem uma fonte (sem nome) e no Estado de Mato Grosso do Sul estão em curso os necessários estudos geológicos. Se no caso dos refrigerantes a produção pode ser feita nas fábricas de cervejas, o mesmo não se passa com a água, por causa do risco de contaminação. Depois da construção das unidades produtivas independentes, será possível adquirir as primeiras garrafas de água Santa Clara nos supermercados de São Paulo, já no final deste semestre. Quanto ao Rio de Janeiro, a água, ainda sem nome, só começará a ser comercializada no próximo ano.Pode parecer um absurdo querer a liderança, disse ao PÚBLICO Carlos Carreiras, director-geral do Grupo Sousa Cintra, "mas não é". E explica: "Enquanto em Portugal o consumo 'per capita' de água engarrafada é de 60 litros por ano, no Brasil falamos de 15 litros. O potencial de crescimento é enorme". E a maior marca do país, a Indaiá, do grupo Minalba, conta apenas com uma quota de mercado de 5,2 por cento, acrescentou o mesmo responsável. Mas antes, Sousa Cintra vai começar por construir novas fábricas de cerveja, que juntará à de São Paulo, onde, apesar de tudo o resto, ainda serão investidos mais sete milhões de contos no reforço da capacidade produtiva. Actualmente, esta unidade vende toda a cerveja que produz - 1,6 milhões de hectolitros por ano -, mas no final de 199 já estará apta a fornecer mais 0,5 milhões de hectolitros/ano. Outro projecto de maior envergadura foi destacado para o Rio de Janeiro, "onde já foram comprados os terrenos e estabelecido o acordo com as autoridades locais". A futura fábrica, que custará perto de 43 milhões de contos e contará com uma capacidade instalada de seis milhões de hectolitros, deverá estar pronta para arrancar no início do próximo ano. "Numa primeira fase, vamos começar por utilizar apenas metade da capacidade, enquanto o total só será atingido ao longo de quatro anos", explicou Carlos Carreiras. Mais quota de mercado, para além dos actuais 1,6 por cento (ver quadro), que não se reflectirá, porém, numa escalada no "ranking" brasileiro, actualmente liderado pelo grupo Brahma. Para completar, o empresário está em negociações com as autoridades do Estado de Mato Grosso do Sul para aí construir outra fábrica de raíz. Neste caso, o investimento estimado é de 20 milhões de contos, segundo as contas do director-geral do Grupo Sousa Cintra, estando previsto que a unidade arranque só em 2001. Numa fase inicial, a unidade utilizará apenas metade da capacidade instalada, de três milhões de hectolitros de cerveja. Todos os montantes de investimento e facturação apontados já têm em conta os projectos da água e dos refrigerantes. "A nossa previsão aponta para uma produção anual de 5,5 milhões de hectolitros da bebida, o que, admitindo a manutenção do consumo total no Brasil aos actuais níveis - 80 milhões de hectolitros -, nos daria uma quota de mercado de sete por cento", salientou o director-geral. O que ainda não chega para satisfazer os intuitos de Sousa Cintra - "queremos dez por cento do mercado, dentro de cinco anos", disse. Assim, para além de reforçar as actuais unidades, há que investir em novas fábricas. Ainda em fase de estudo, estão projectos - "para daqui a três anos" - para o Nordeste brasileiro e São Paulo ou Paraná. No ano passado, quando o grupo só contava com a fábrica de São Paulo, o volume de facturação ascendeu a cerca de sete milhões de contos: "tratou-se, porém, de um ano atípico, porque a capacidade máxima só foi atingida mais tarde". Os resultados líquidos foram negativos em 700 mil contos, mas, diz Carlos Carreiras, este ano "é tempo de viragem". "Em Dezembro do ano passado, os resultados operacionais já eram positivos de cerca de 138 mil contos", justificou. Para 1999, as previsões para São Paulo apontam para um volume de negócios de 17,3 milhões de contos. Na fábrica do Rio de Janeiro, perspectiva-se para 2000, primeiro ano de actividade, uma facturação de cerca de 43 milhões de contos, um montante que, nos cinco anos seguintes, subirá até aos 74 milhões de contos. Em relação a Mato Grosso do Sul o projecto ainda está em fase de estudo, mas a dimensão da fábrica será semelhante à de São Paulo. A unidade de São Paulo emprega 250 pessoas, a do Rio de Janeiro deverá ocupar 500 e a de Mato Grosso rondará também os 250 trabalhadores.Cerveja, água mineral e, para completar o leque das bebidas de alta rotação, os refrigerantes. Os últimos, longe de se tratarem de uma aposta forte - existem 700 marcas diferentes e 50 por cento do mercado está nas mãos da Coca-Cola -, será antes "um complemento da gama de cervejas". O objectivo é ocupar uma quota de cerca de dois por cento, através das especialidades guaraná, laranja, lima-limão, tutti-frutti, "ice-tea" e "ice-coffee". "As fábricas estão preparadas para produzirem refrigerantes, mas não está previsto que estes venham a representar mais de 15 por cento da facturação global", frisou Carlos Carreiras.

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