Espírito empreendedor: Happy Socks e Angry Birds

Hoje, é provável que a próxima grande empresa possa começar num armazém em Berlim, num café sueco ou numa incubadora tecnológica britânica.

Não há falta de pessimismo quando se discute o tema das startups na Europa. Porém, as tendências sugerem que o espírito empresarial europeu está bem e recomenda-se. O mesmo continente que viu nascer algumas das empresas mais importantes do último século está agora a produzir uma nova geração de startups com o potencial para abalar mercados, fazer crescer economias e criar empregos.

Vamos começar pelos números. Em termos de capital, as startups europeias estão a ter anos excepcionais. Em Londres, as empresas tecnológicas estabeleceram um novo recorde de investimento no ano passado, captando quase 1,2 mil milhões de euros, o dobro do investimento registado em 2013. Em Madrid, as startups captaram no último Outono mais 187% de capital do que um ano antes. Em Berlim, as startups tecnológicas viram os investimentos crescerem 140% ano após ano, com dois dos maiores IPO do sector tecnológico na Europa. As empresas Zalando (website de comércio electrónico) e a incubadora Rocket Internet tiveram avaliações de vários milhares de milhões de euros. E, em Estocolmo, testemunhámos o nascimento de um dos hubs tecnológicos mais produtivos do mundo, com 6,3 empresas avaliadas em mil milhões de dólares por cada milhão de suecos. Em Sillicon Valley, este número é apenas um pouco maior (6,9).

Vamos agora olhar para além dos números e para a influência cultural. O jogo mais descarregado na loja Google Play em 2014 foi o Candy Crush, criado pela empresa de jogos britânica King. Uns anos depois de a empresa finlandesa Rovio ter definido as aplicações de jogos com o Angry Birds, outras empresas de Helsínquia, como é o caso da Supercell, estão a seguir os seus passos com sucessos como o Clash of Clans.

As empresas europeias ambiciosas estão a traçar o futuro da indústria musical. A SoundCloud é uma plataforma estabelecida em Berlim para músicos amadores e fãs de música promoverem, partilharem e ouvirem música. Desde o seu lançamento em 2007, construiu uma base de 175 milhões de utilizadores mensais que contribuem, a cada minuto, com mais de 12 horas de novos conteúdos. Os especialistas estimam que a sua avaliação atinja em breve os mil milhões de euros.

O YouTube, o nosso canal de vídeos online, está a ajudar a criar uma nova categoria: o empreendedor do vídeo online. E estão a ter bastante sucesso. Quantos de vocês adivinham uma das cinco celebridades mais populares entre os jovens norte-americanos? A lista foi elaborada pela revista Variety. Não é a Katy Perry. Não é o Leonardo Dicaprio e nem é a Taylor Swift.

De acordo com a Variety, as cinco celebridades mais populares são estrelas do YouTube. De facto, a terceira celebridade mais popular é um sueco de 25 anos que se chama Felix Kjellberg, que reside em Brighton em Inglaterra. Felix é mais conhecido pelos fãs por PewDiePie e actualmente é ele que tem o canal de YouTube mais famoso do mundo, com mais de 33 milhões de subscritores.

O Mobile, um mercado criado pelos europeus, olha para empresas como a Rovio e a SuperCell. O mercado mobile é um negócio sério e importante com um estudo recente a concluir que esta economia gerou receitas de 90 mil milhões de euros na Europa em 2013. Estima-se que existam, mundialmente, mais de 2,9 milhões de programadores e mais de dois milhões de aplicações.

Apesar destes sucessos, a questão que mais me colocam é o que podem os decisores políticos fazer para ajudar.

Eu falo com muitos empreendedores que têm de lidar com 28 livros de regras diferentes. Em muitas formas, a Internet não tem fronteiras mas subsistem ainda muitas fronteiras na Europa. Os empreendedores tropeçam quando procuram crescer, contratar ou comercializar bens e serviços de forma transversal. O maior passo que a União Europeia pode dar é completar a formação de um mercado único digital, um objectivo que é reconhecido correctamente pela Comissão Europeia como crítico para o crescimento económico do continente.

Esperamos que a Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento possa proporcionar uma oportunidade geracional que apoie o crescimento da economia transatlântica e abra novas vias de crescimento para as empresas europeias e norte-americanas.

Tenho ouvido referências dos decisores políticos e de líderes de empresas sobre o papel crucial que desempenha a propriedade intelectual e a necessidade de protecção das suas inovações. A Internet cria oportunidades para os criadores alcançarem novas audiências e desenvolverem, por sua vez, novas fontes de receitas. As regras da propriedade intelectual deveriam assim tirar partido de todas as vantagens de um novo mercado único para promover a investigação e a inovação, ao mesmo tempo que protege os direitos dos criadores.

Outra das questões dos empreendedores prende-se com a questão de como facilitar o seu acesso ao capital para crescerem a darem escala aos seus negócios. O empreendedor sueco Nicklas Zennstrom apelou às entidades governamentais para encorajarem investidores privados a investir o seu dinheiro em startups reduzindo-lhes os impostos sobre os lucros do capital investido em empresas startup.

Nós, na Google, vemos razões claras para confiar no potencial empresarial da Europa e orgulhamo-nos do papel que desempenhamos. A Google começou em 1998 numa garagem em Menlo Park. Mas hoje, é provável que a próxima grande empresa possa começar num armazém em Berlim, num café sueco ou numa incubadora tecnológica britânica.

Vice-presidente sénior para o Desenvolvimento Empresarial e director do Departamento Jurídico da Google

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