Utentes satisfeitos com SNS mas 53% defendem necessidade de grandes mudanças

Estudo da Direcção-Geral da Saúde aponta para que 10% dos inquiridos tenham deixado de ir a consultas, exames ou de comprar medicamentos por dificuldades financeiras.

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O médico celebra a diminuição drástica de complicações associadas ao aborto clandestino Enric Vives-Rubio

Os utentes que durante o último ano recorreram aos cuidados do Serviço Nacional de Saúde (SNS) dizem que foram bem atendidos em 91% dos casos e consideram que em 71% das situações ficaram com o problema de saúde devidamente resolvido, indica um estudo da Direcção-Geral da Saúde. No entanto, quando questionados sobre a opinião geral que têm sobre os serviços públicos de saúde, 38% dos utentes defendem que são necessárias grandes mudanças e 15% admitem mesmo que o SNS precisa de ser “completamente restruturado”.

As conclusões fazem parte do Estudo de Satisfação dos Utentes do Sistema de Saúde Português, realizado pelo Departamento da Qualidade na Saúde da Direcção-Geral da Saúde. Os dados obtidos resultam de 2300 entrevistas telefónicas feitas entre Fevereiro e Março de 2015 pela empresa Eurosondagem junto da população residente em Portugal Continental. A DGS reconhece “parecer haver dissonância” entre aquilo que a população pensa da qualidade do serviço prestado e a “percepção da necessidade de melhoria da oferta dos cuidados que recebe”. Mas contrapõe que a diferença “pode simplesmente reflectir um desejo natural do consumidor de procurar a excelência nos serviços que lhe são oferecidos”.

Ainda sobre esta questão, o estudo destaca que são mais os cidadãos que recorrem ao sector privado a apontar necessidades de mudança nos serviços de saúde do que aqueles que efectivamente frequentam os centros de saúde e hospitais públicos. Aqui, a DGS ressalva que apesar de as perguntas dizerem respeito aos serviços de saúde em geral (públicos e privados), que muitas vezes as questões eram entendidas como dizendo apenas respeito ao SNS. No total, só 17% das pessoas disseram que o sistema de saúde funciona bem e 26% referiram a necessidade de pequenas mudanças. No entanto, se forem separados os utentes do público e do privado, no primeiro caso 18% das pessoas destacam o bom funcionamento, um valor que cai para 13% nos segundos.

Do lado mais radical, 16% dos inquiridos disseram que os serviços (público e privado) precisam de ser completamente restruturados e 39% responderam que são necessárias grandes mudanças. Nos utentes do sector público a opinião mais radical desce para 15% e sobe para quase 22% na percepção sobre quem frequenta o privado. As grandes mudanças foram apontadas por 38% dos utilizadores do serviço público e por 42% dos que utilizam o privado. A este propósito a DGS diz que o facto dos utilizadores do privado terem pior percepção sobre o SNS pode ter como base “o eventual preconceito contra o serviço público que leva esta população a frequentar o sector privado, como já verificado em outros estudos”.

A DGS procurou também perceber o impacto que a crise financeira teve na procura e utilização de cuidados de saúde e de medicamentos. O trabalho aponta para que no último ano cerca de 3% doas pessoas (seja no sector público seja no privado) tenham faltado a consultas por não terem transporte. Houve também 8% dos inquiridos a reconhecerem que faltaram a consultas por dificuldades financeiras. O valor sobe para quase 10% se forem tidos em conta apenas os dados dos utilizadores do SNS. Mesmo assim o trabalho destaca que este foi “o segundo melhor” valor registado em trabalhos deste tipo.

Numa pergunta semelhante mas referente a exames médicos e tratamentos, a percentagem de pessoas que deixou de os realizar por dificuldades financeiras ficou-se nos 11%, com uma diferença de 13% nos utilizadores do público e de perto de 5% nos do privado. Em termos de medicamentos, o dinheiro motivou que 10% das pessoas deixassem de comprar alguma coisa prescrita – mais uma vez com diferenças significativas entre utentes do SNS e do sector privado, de 13% e 2%, respectivamente.

O tempo de espera para as consultas de especialidade foi também motivo de reparo por parte dos utentes do SNS, com 42% a dizerem que esperam mais de quatro semanas. No entanto, a DGS salienta que mesmo assim há 39% de utentes a dizerem que foram vistos antes deste prazo e recorda que para as consultas não urgentes a própria lei prevê tempos de resposta mais alargados.

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