Uma das fundadoras abandona “Movimento Geração à Rasca”

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João Labrincha (outro dos fundadores do M12M) com Paula Gil e Alexandre de Sousa Carvalho Foto: Pedro Cunha

Paula Gil, uma das mobilizadoras do protesto “Geração à Rasca”, que mais tarde deu origem ao Movimento 12 de Março (M12M), saiu do grupo em Fevereiro. No entanto, a sua saída apenas veio a público depois de ter participado nesta segunda-feira no programa Prós e Contras, da RTP, onde ainda foi apresentada como representante do M12M.

Uma representação que foi mal vista pelos restantes fundadores do movimento, que dizem que sempre pugnaram “pela transparência política e na política” e que lamentam que Paula Gil não tenha corrigido a informação durante o programa.

Na segunda-feira o Prós e Contras, apresentado por Fátima Campos Ferreira, foi dedicado aos movimentos e grupos sociais que estão a surgir à margem dos partidos, numa altura em que a sociedade está a ser alvo de grandes pressões. Paula Gil, em declarações ao PÚBLICO, explica que foi convidada a participar no programa não como fundadora do M12M mas sim enquanto uma das mobilizadoras do protesto “Geração à Rasca” – que levou para as ruas, a 11 de Março de 2011, cerca de 300 mil pessoas, segundo a polícia, e mais de 500 mil, segundo a organização, numa manifestação contra a precariedade.

Paula Gil diz que não quer “entrar em disputas e críticas” e afirma que só não corrigiu a forma como foi apresentada, explicando que já não pertencia ao movimento, porque não achou “que fosse um factor relevante já que o programa era sobre visões independentes”.

Mas a sua participação foi mal recebida pelo movimento, que emitiu um comunicado sobre o assunto, que está também a ter repercussão nas redes sociais. “O M12M - Movimento 12 de Março informa que não se fez representar nem foi convidado para o último programa Prós e Contras, a 21 de Maio de 2012. Ao contrário do que foi apresentado pela RTP, facto não desmentido pela convidada Paula Gil, esta activista não se encontrava em representação do M12M, colectivo de que decidiu sair em Fevereiro último. Reforçamos que as posições expressas publicamente pela Paula Gil são declarações pessoais, que representam a sua visão e não a do Movimento 12 de Março”, lê-se na nota.

Esclarecimentos no Facebook

Depois do comunicado do M12M, Paula Gil também fez um comunicado no seu perfil na rede social Facebook. “Por lapso, no início do programa, a apresentadora, Fátima Campos Ferreira, anunciou-me como membro do Movimento 12 de Março (M12M). Por não ter, na altura, ficado na posse da palavra e por pensar não ser um pormenor relevante, tendo em conta o tema em análise, não corrigi essa questão. Falei sempre em nome pessoal e nunca em nome do M12M, do qual decidi sair, em consciência, em Fevereiro último”, diz o comunicado.

O post de Paula Gil gerou diferentes comentários, tanto de apoio ao seu trabalho como de pessoas a lamentar a cisão criada e o desvio do debate do essencial. Contudo, a maior parte dos comentários foram trocados entre Paula Gil e Alexandre de Sousa Carvalho, outro dos fundadores do movimento, que em vários posts na rede social lamenta que Paula Gil em nenhuma das três perguntas em que foi apresentada como representante do movimento tenha desmentido tal facto.

Questionados sobre se a saída de Paula Gil e o episódio protagonizado não abalam a ideia de “colectivo informal”, “apartidário” e diferente dos conflitos de outros movimentos com que se apresentaram, ambos negam tal possibilidade e insistem que acreditam no futuro do M12M e que o movimento não vai morrer como alguns vaticinaram.

Ao PÚBLICO, Alexandre Carvalho reitera que a saída de Paula “não representa o fim da amizade” e sublinha que continuam “ideologicamente a estar muito próximos”. Mas condena a posição da antiga companheira do movimento: “A Paula saiu em Fevereiro e decidiu não o publicitar e nós achámos que não era da nossa competência fazê-lo. O que pomos em causa não é o conteúdo de muitas das suas afirmações no programa, mas há algumas em que o movimento não se revê”.

Sobre a sua saída, Paula Gil apenas refere “razões internas do colectivo” e deixa mais explicações para o M12M. Alexandre Carvalho insiste que muitas das posições continuam a ser comuns, “mas a Paula prefere dedicar-se mais à luta política nas ruas, que também consideramos importante, e nós estamos a trabalhar propostas mais concretas” – em referência à “Lei Contra a Precariedade” entregue no Parlamento e à “Iniciativa para uma Auditoria Cidadã à Dívida Pública”, entre outras.

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