Protecção Civil detecta desvio de fundos nos bombeiros de Macedo de Cavaleiros

Inspecção leva Protecção Civil a rejeitar a nomeação do comandante e cria polémica na abertura da época de fogos.

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Mais de 20 bombeiros estiveram envolvidos nas operações Ana Banha/arquivo

A época de fogos abre envolta em polémica nos bombeiros de Macedo de Cavaleiros, distrito de Bragança, devido a uma inspecção que aponta um alegado desvio de dinheiros e à rejeição do carismático comandante da corporação.

A Autoridade Nacional da Protecção Civil (ANPC) não homologou a nomeação proposta pela direcção da Associação Humanitário dos voluntários de João Venceslau, conhecido na região como comandante Joca, que esteve à frente da corporação durante quase 20 anos.

A decisão seguiu-se à conclusão de uma inspecção da ANPC que detectou um alegado desvio de dinheiros destinados às épocas de incêndios de 2012, 2013 e 2014 e pede a devolução de cerca de cinco mil euros.

"Nós não precisamos de estar a fazer manobras para roubar cinco mil euros", afirmou à agência Lusa António Batista, presidente da direcção que em dois anos garante ter posto em ordem as finanças de uma corporação que devia 300 mil euros e viveu asfixiada sem ninguém que lhe fiasse combustível ou peças para viaturas.

António Batista escusou-se a entrar em pormenores sobre as conclusões da inspecção da ANPC, adiantando apenas que já contestou a mesma e sugerindo que "vão ver as contas de 2013 e 2014" da associação.

Em causa estará um alegado esquema conhecido das corporações de bombeiros e que se prende com a utilização das verbas que ANPC distribuiu para as equipas de combates a incêndios florestais (ECIN).

Cada uma destas equipas é composta por cinco elementos e a Protecção Civil paga 45 euros por elemento que nem sempre irão parar na totalidade ao bolso dos que prestam serviço.

A corporação de Macedo de Cavaleiros chegou a ter afixado no regulamento interno para estas equipas - e observado por inspecções anteriores - que o valor a pagar era de 44 euros. O euro remanescente ia para as chamadas "sobras" e seria usado para compra de equipamento.

Até ao Verão passado, a verba paga pela ANPC às ECIN destinava-se à "manutenção" das equipas, mas nesta época a circular nacional foi alterada e impera o pagamento directo ao elemento.

Os resultados da inspecção feita às contas de Macedo de Cavaleiros terão ditado a não homologação da nomeação de João Venceslau para comandante, embora na época de fogos de 2014 não fosse o responsável pela corporação.

João Venceslau era segundo comandante do Centro Distrital de Operações e Socorro (CDOS), em Bragança, e os bombeiros de Macedo de Cavaleiros foram comandados por Rómulo Pinto actual segundo comandante do CDOS, função que assumiu quando João Venceslau deixou este cargo e regressou a Macedo de Cavaleiros, em Setembro de 2014.

Nessa ocasião, a direcção deu início ao processo de nomeação de João Venceslau novamente para comandante e o processo ficou agora concluído com a recusa da ANPC alegando, segundo o ofício a que a Lusa teve acesso que "não estão reunidas as condições para dar continuidade ao processo de nomeação" e pedindo à direcção que proponha "um novo elemento para desempenhar o cargo".

O presidente da direcção disse à Lusa que em Dezembro termina o mandato e não tem intenções de ficar, pelo que até lá "fica tudo na mesma", com Luís Fernandes como comandante interino, e a próxima direcção que decida.

Contactado pela Lusa, João Venceslau afirmou que não sabe de nada oficialmente, que estranha "todo o desenrolar do processo a nível temporal" e que só irá pronunciar-se sobre o caso quando conhecer os fundamentos da não nomeação.

O ex-comandante que já tinha enfrentado uma tentativa de afastamento, em 2012, depois de regressar de um período de ausência motivada por uma acidente quando manuseava um carro dos bombeiros.

O caso está a gerar discussão nas redes sociais e na comunidade local. A concelhia do PS de Macedo de Cavaleiros reuniu-se, na segunda-feira, com a direcção da associação e espera que "tudo isto não passe de um mal-entendido".

"Confiamos que isto se vai resolver e que as pessoas implicadas são pessoas com provas dadas", afirmou à Lusa Pedro Mascarenhas, presidente da concelhia socialista.

O presidente da Câmara de Macedo de Cavaleiros, Duarte Moreno, afirmou à Lusa que está "muito preocupado" com a situação e a fazer diligências para conhecer o relatório da inspecção.

O autarca social-democrata que é o responsável municipal pela Protecção Civil apela às pessoas que "aguardem com serenidade" e disse acreditar que a corporação será capaz de dar resposta como nos outros anos nesta fase complicada da época de fogos.

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