Polícias denunciam apostas para bater em guardas após ataque em festa rave

Em Albufeira a GNR já foi agredida várias vezes por jovens turistas franceses. Guardas que intervieram em rave em barragem alentejana foram apedrejados e tiveram de receber tratamento hospitalar

A Associação Nacional Autónoma de Guardas da GNR (ANAG-GNR) denunciou a existência de apostas para bater em polícias depois de, no passado sábado, cinco homens desta corporação terem tido de receber tratamento hospitalar na sequência de agressões numa festa rave no Alentejo. Vai ser pedida uma reunião ao ministro da Administração Interna, Miguel Macedo, para exigir mais eficácia na punição de agressões a agentes de forças policiais.

O caso mais recente teve lugar numa festa rave na barragem alentejana de Odivelas, mas entre os casos relatados pelo presidente da associação, Virgílio Ministro, está o dos jovens turistas franceses que agridem os guardas de Albufeira para ganharem apostas: “São indivíduos dos subúrbios de Paris, vêm para o Algarve e fazem apostas. Até se fala em apostas de 100 euros em como conseguem agredir determinado militar, que é do corpo especial e, por isso, a adrenalina é maior”. O problema não é novo: já no ano passado houve quem tivesse batido em militares da GNR em Albufeira simplesmente para ganhar dinheiro.

“Tem vindo a haver muitas agressões”, queixa-se Virgílio Ministro, que quer que Miguel Macedo interceda pelos guardas junto do Ministério da Justiça, para que, nos casos de agressões aos agentes da autoridade, “os processos sejam mais eficazes e mais céleres”. A ANAG-GNR apela às autoridades judiciais para que punam efectivamente quem bate na GNR.

“Quaisquer cidadãos, noutros países da Europa, que cometam delitos contra as forças de segurança são julgados, condenados exemplarmente e ficam impedidos de entrar nesse país quatro ou cinco anos”, exemplifica o dirigente associativo. Em Portugal, compara, os autores de agressões a elementos das forças de segurança “vão a tribunal, ficam com termo de identidade e residência, vão-se embora, não acontece nada e persiste a impunidade. De tal forma que se torna banal agredir um agente da autoridade”.

“Que sejam julgados. Não há cá termos de identidade e residência, o indivíduo é presente em tribunal e julgado”, defende Virgílio Ministro, advertindo que, “se a moda pega nos grupos organizados em Portugal”, e a punição não for exemplar, as agressões a elementos das forças de segurança vão aumentar.

No caso da barragem de Odivelas, em Ferreira do Alentejo, a GNR nem sequer conseguiu deter nenhum dos seus agressores. Os guardas tinham sido ali chamados no sábado pelos proprietários do parque de campismo da Markádia, instalado há cerca de três décadas junto à albufeira, depois de os campistas se terem queixado do ruído “ensurdecedor” projectado pelas potentes colunas da rave ilegal. “Temos clientes que nos procuram por causa do sossego e da beleza do local” explicava um elemento da Markádia. “A maioria abandonou o local, só ficaram os mais resistentes”. A cerca de meia centena de militares da GNR que se deslocaram ao local foi recebida por alguns dos ravers à pedrada. Também alvo de arremesso de paus, cinco dos guardas tiveram que receber tratamento no Hospital de Beja. “Apareceram na freguesia um bocado assustados”, relata outra residente em Odivelas. Por razões de segurança tiveram mesmo de abandonar o interior do recinto montado para o festival, para se posicionarem no exterior.

Num balanço sobre o ocorrido feito ontem, o tenente-coronel Joaquim Figueiredo, do comando da GNR de Beja, admitiu que a corporação fez “um disparo para o ar” quando a situação se apresentou mais tensa, admitiu. Mas uma das viaturas da GNR apresentava um impacto de bala de calibre 22, que não é o calibre usado pelas forças de segurança. Outras três ficaram igualmente com vidros partidos. Os ravers acabariam mais tarde por ir abandonando o local de livre e espontânea vontade, sem mais incidentes.

Os primeiros festivaleiros começaram a chegar à festa combinada pela Internet logo na quinta-feira. “Eram poucos”, recorda uma jovem moradora da freguesia. Mas no dia seguinte começaram a ver passar “muitas caravanas e pessoas com rastas e um pouco sujos” na sua esmagadora maioria ingleses, franceses, belgas e espanhóis. E aí já eram milhares, conta a empregada de um restaurante/estalagem das proximidades.

 Quem vai limpar o lixo que ficou em zona de reserva ecológica?
De uma pequena elevação de terreno coberto de montado e sobranceiro à albufeira de Odivelas o panorama que se observava ontem era confrangedor. Centenas de autocaravanas, tendas grandes, médias e pequenas ocupavam as margens desta reserva de água para a agricultura do sistema de rega do Alqueva, bem no interior de um território que integra a Reserva Ecológica Nacional.O local está “ interdito à prática de actividades ruidosas e ao uso de buzinas ou outros equipamentos sonoros”, diz uma resolução do Conselho de Ministros de 2007. O que não impediu, nos últimos dias, a circulação de viaturas todo-o-terreno, carros e camiões. Nem a realização da festa rave.

Não existe qualquer sinalética no local proibindo o campismo selvagem junto ao espelho de água. É o plano de ordenamento da albufeira de Odivelas que interdita este tipo de actividades numa área com “largura de 500 metros contados a partir do nível de pleno armazenamento”.

Resta saber quem irá recolher as toneladas de lixo que se foram ali acumulando desde quinta-feira e que consequências teve, para o coberto vegetal, a presença de mais de 3000 pessoas e de várias de centenas de autocaravanas e outras viaturas.

 

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