Paulo Macedo denuncia “pressão” da indústria farmacêutica

O ministro da Saúde, Paulo Macedo, acusou esta segunda-feira a indústria farmacêutica fazer “pressão” sobre o Estado para a introdução medicamentos inovadores nos hospitais, em especial para a hepatite C, e revelou que “só este ano já foram introduzidos 70 medicamentos inovadores”, o que representa um custo de 90 milhões de euros.

Foto
O ministro da Saúde, Paulo Macedo, falou do investimento de “90 milhões de euros em medicamento inovadores" Público (arquivo)

Em entrevista publicada esta segunda-feira no jornal I, o bastonário da OM insistiu que existem doentes com hepatite C "a serem condenados à morte" por ainda não terem sido aprovados em Portugal novos medicamentos para combater a doença.

À margem da cerimónia de atribuição da Comenda da Ordem de Mérito a António Ferreira, administrador do Centro Hospitalar de S. João, e que encheu a aula magna da Faculdade de Medicina do Porto, o ministro respondia aos jornalistas que o confrontaram com as declarações do bastonário da Ordem dos Médicos (OM), José Manuel Silva, sobre dificuldades de acesso a medicamentos inovadores nos hospitais, em especial para a hepatite C.

“Estamos em negociações [com a indústria farmacêutica] e acho estranho este comentário [do bastonário da Ordem dos Médicos] na imprensa quando, por exemplo, há quinze dias houve uma reunião sobre este assunto”, revelou o ministro da Saúde, censurando a “sistemática pressão sobre o lado do Estado, para o Estado introduzir a qualquer preço e sem discutir [um medicamento inovador], que é o que o Estado faz ao longo dos anos".

Afirmando que não pretendia comentar as declarações do bastonário, o ministro da Saúde sublinhou que “para se chegar a um acordo é preciso duas partes: o Estado, com o dinheiro dos contribuintes, e a indústria farmacêutica, com as suas margens de lucro”. E depois deteve-se na questão essencial em todo este processo que é a discussão relativa à "margem de lucro que quer [a indústria] e o que o Estado pode pagar".

E para que não ficassem dúvidas, sublinhou que “o negócio da indústria farmacêutica é de 3,7 nil milhões de euros e, quando se discute se um medicamento é introduzido ou não, há que ver as vantagens terapêuticas e qual a pressão sobre o negócio".

Neste pingue-pongue de argumentos, o governante desafiou os media a colocarem questões à indústria farmacêutica. “Sobre os medicamentos gostava que, uma vez que fosse, a imprensa e os media perguntassem à indústria se, de facto, aqui as suas margens também não deviam ser adequadas à situação do país", declarou Paulo Macedo, impulsionando os media a investigar.

Depois falou do investimento de “90 milhões de euros em medicamento inovadores" que o Estado vai disponibilizar até ao final este ano e salientou que os doentes para os quais o medicamento ainda não esteja introduzido não deixam de ser assistidos – “são tratados através de autorizações especiais”.

Na cerimónia, o presidente do CA do Centro Hospitalar de  S. João, António Ferreira, elogiou todos os funcionários que ali trabalham e que fazem do hospital uma unidade de “sucesso” e chegou mesmo a comover-se quando disse que “há gente que trabalha, privada do seu salário, em alguns casos, sem dinheiro para comer e fazendo caminhadas de várias horas para se deslocar de casa para o hospital por não poder pagar o transporte público, mas que continuam estoicamente e sem falhas a cumprir a sua missão”.

Porém, as palavras mais duras ficaram para o fim. O médico gestor lamentou que “os ventos da fortuna” soprem sempre no mesmo sentido – “o sentido do sul” (…) e que “os rios do dinheiro” desagúem “permanentemente no mesmo mar – o mar da indiferença, o mar onde não se distinguem as marés, porque se considera sempre em praia-mar”.

“Nós continuamos, com resiliente persistência, a cumprir a nossa missão. E continuaremos porque sabemos que um dia, no dia em que a torrente meridional parar de correr – e inevitavelmente parará de correr, o nosso mar continuará a manter a praia-mar e a baixa-mar, e nós continuaremos a saber navegá-lo, enquanto o outro mar secará”, prometeu.

Perante uma sala repleta de funcionários e de alguns convidados, como Ramalho e Manuela Eanes, Daniel Serrão, Eurico Castro Alves, Pinto da Costa, Aurora Cunha, entre outros, o administrador deixou uma garantia: “A mudança que iniciamos em 2006 não parará. Não parará nem nos processos, nem na remodelação estrutural e infra-estrutural, nem nas pessoas. E saberemos lutar até ao limite das nossas forças por este direito – que consideramos inalienáveis”.

Atribuída pelo Presidente da República, a comenda da Ordem de Mérito foi colocada pelo ministro da Saúde a António Ferreira, que não lhe regateou elogios pelo trabalho realizado ao longo destes sete anos à frente do Hospital de S. João, que classificou como “unidade de excelência”.
 

Sugerir correcção
Comentar