O que fazer para evitar o vírus da febre de dengue?

Foto
Mosquitos desenvolvem-se em águas paradas, em zonas húmidas e quentes Foto: AFP

Reduzir a exposição corporal, usando camisas de mangas compridas e calças, assim como roupa clara, que permita ver os mosquitos. Estas são algumas das recomendações para evitar a propagação do mosquito Aedes aegypti, transmissor do vírus da febre de dengue.

Ana Nunes, presidente do Instituto de Administração da Saúde e Assuntos Sociais da Madeira (IASAUDE), apelou, esta quinta-feira, à população para que siga as medidas preventivas para evitar a propagação do mosquito.

Além da roupa, em casa, as pessoas devem ter atenção redobrada para qualquer objecto que possa acumular água. Por isso, Ana Nunes solicita que a população remova os pratos dos vasos ou, então, coloque neles areia.

Estas e outras medidas constam em folhetos informativos que se encontram nos centros de saúde e outras entidades da região.

A presidente do IASAUDE acrescentou que o instituto tem em campo técnicos de saúde ambiental que, de porta a porta, vão transmitindo esta informação à população, verificando, igualmente, o cumprimento dos conselhos.

“O mais importante neste momento é a população estar sensibilizada para as medidas adequadas de prevenção, quer no âmbito pessoal ou no ambiente doméstico, para que se possa controlar o desenvolvimento das larvas e a propagação dos mosquitos”, afirmou Ana Nunes.

Na quarta-feira, o IASAUDE revelou a existência de dois casos - um homem e uma mulher, residentes no Funchal e Santa Cruz - confirmados de febre de dengue e 22 outras situações suspeitas, que ainda estão em análise no Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, sendo todos relativos a pessoas residentes na Madeira que não saíram da região.

“Dado o aumento da actividade do mosquito, estamos no terreno de forma mais intensa”, garantiu a médica, referindo que, as acções porta a porta ocorrem “fundamentalmente” nos concelhos do Funchal, Câmara de Lobos, Ponta do Sol e Santa Cruz.

Segundo a presidente do IASAUDE não está descartado outro tipo de sensibilização, sobretudo através dos meios de comunicação social, prosseguindo, igualmente, a “monitorização do mosquito no sentido de saber a sua propagação”, trabalho que está a ser desenvolvido há vários anos com o Instituto de Medicina Tropical.

Questionada sobre a razão do aparecimento da doença agora, Ana Nunes apontou as alterações climatéricas, associadas a “um Verão muito quente e muito húmido” e aos fogos de Julho.

“Estes factores, provavelmente, levaram à acumulação de águas nas zonas baixas do Funchal, permitindo o desenvolvimento do mosquito”, justificou.

Ana Nunes, à semelhança do que já informara a Direcção-Geral da Saúde, reiterou não haver motivo para “reacções alarmistas”.

“A esmagadora maioria das situações detectadas são ligeiras, semelhantes a uma síndroma febrícula, mialgias, artralgias, pelo que se aconselha as pessoas, na eventualidade de apresentarem estes sintomas, juntamente com a picada, para recorrerem aos centros de saúde”, declarou, sublinhando que não devem tomar aspirina e seus derivados.

Corrida aos repelentes

Entretanto, as farmácias da Madeira estão a registar uma “procura anormal” de repelentes desde quarta-feira. Francisco Araújo, delegado da Associação Nacional de Farmácias (ANF) na Madeira, confirma que “quando surgiram as primeiras notícias notou-se uma procura maior e anormal deste tipo de fármaco”, referindo que nalgumas farmácias já não existe o repelente aconselhado para esta situação.

Uma das medidas de protecção individual aconselhada pelos serviços de saúde da região é a aplicação de repelente que contenha a substância conhecida como DEET numa percentagem variável entre 20 e 30%. “Há outros repelentes, mas não são tão indicados para este caso”, explica o delegado, adiantando: “Da informação que tenho é que há farmácias que já esgotaram este tipo de repelentes e o fornecedor está a tentar repor, situação que pode demorar alguns dias”.

Chegará a Portugal continental?

A população de mosquitos que pode transmitir doenças tem alastrado pela periferia da ilha da Madeira, mas está controlada e monitorizada, garante o investigador Paulo Gouveia de Almeida, do Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT).

Paulo Gouveia de Almeida, coordenador do Mestrado na área da Parasitologia Médica, adiantou que o IHMT, em colaboração com o IASAUDE, tem vindo a fazer um trabalho de monitorização das populações de mosquitos na região. Os dados obtidos revelam que “a população de mosquitos tem estado a alastrar pela periferia da ilha, mas o seu alastramento está a ser controlado e monitorizado”, sublinha.

A existência de casos de dengue na Madeira não surpreendeu o médico e investigador: “A partir do momento em que temos um mosquito vector numa determinada região é possível haver transmissão da doença”. “O risco está presente, porque basta a introdução de uma pessoa que traga o vírus em incubação para poder dar-se a cadeia de transmissão. De certa forma, é algo para o qual já vínhamos alertando”, sustenta.

Sobre a possibilidade do aparecimento de casos da doença em Portugal continental, o investigador disse que “a probabilidade existe”, mas todos os estudos que têm sido feitos no terreno até agora não detectarem a presença do mosquito no continente. “Neste momento, não se conhece o risco do mosquito no Continente”. Contudo, frisa, tal como o mosquito foi transportado para a Madeira, também pode ser transportado para outros lados.

Paulo Gouveia de Almeida adiantou que existe um outro mosquito que também transmite o dengue e que “está a invadir vários países da Europa”, como Espanha, Itália, Croácia e costa francesa. “É possível que um destes mosquitos seja trazido, através dos transportes rodoviários ou aéreos, para determinada zona e Portugal também está em risco de introdução”, acrescenta.

Notícia actualizada às 15h17. Foi acrescentada informação sobre procura de repelentes na Madeira
Sugerir correcção
Comentar