O futuro é um país de velhos e o pesadelo poderá ainda ser maior

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Em Portugal, a fecundidade entrou em queda acentuada desde a década de 1970 Daniel Rocha (arquivo)

Será que o futuro já aconteceu? Os demógrafos dizem que sim e, por isso, não auguram nada de bom. Por exemplo, aconteça o que acontecer até 2030 no que respeita ao crescimento da fecundidade, o número de jovens em Portugal continuará a diminuir, mesmo que as mulheres voltem a ter uma média de dois filhos, um cenário considerado "extremamente optimista" e largamente improvável.

O aviso foi feito ontem pela presidente da Associação Portuguesa de Demografia, Filomena Mendes, no primeiro dia da conferência Os Portugueses em 2030, promovida pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, em Lisboa. "O que aconteceu no passado tem implicações tremendas no futuro", explicou a investigadora. E o que aconteceu foi que em Portugal a fecundidade entrou em queda acentuada desde a década de 1970. Então, o número médio de filhos por mulher era de três e agora baixou para 1,3, um dos valores mais baixos de toda a União Europeia.

Na pior das projecções apresentadas, mantendo-se tudo como agora, Portugal terá perdido em 2030 quase um milhão de pessoas. No cenário considerado o "mais plausível" por Filomena Mendes, o nível de fecundidade voltará aos níveis de 2000 - média de 1,6 filhos por mulher - e haverá uma quebra de população na ordem das 600 mil pessoas, com a percentagem de idosos praticamente a duplicar a dos jovens.

Portugal terá também mais pessoas com qualificações superiores, mas os benefícios desta evolução encontram-se já em queda, recordou o economista Carlos Farinha Rodrigues. A percentagem dos indivíduos de referência dos agregados familiares licenciados duplicou entre 1993 e 2009, passando de 7% para 14%, mas a diferença de salário de um licenciado em relação à média passou, neste período, de três para duas vezes mais, indicou.

"O prémio para a educação tem caído fortemente desde 1995, mas só para os grupos etários mais jovens", frisou, por seu lado, o economista Mário Centeno. Mas os mais velhos também não estão a salvo, como mostram os números apontados por este economista: em 15 anos, a progressão das pessoas com mais de 45 anos que estavam há menos de um ano numa empresa passou de 11% para 22%.

Também no emprego o futuro já começou. "A procura de trabalho no mundo ocidental polarizou-se. Há grande procura para qualificações muito altas e para qualificações muito baixas. Mas toda a nossa aposta encaminhou-se para formações intermédias, o que é um risco", frisou Centeno. "Hoje já sabemos que o ensino superior não tornou os licenciados imunes ao desemprego e possivelmente também não os tornará imunes à pobreza", avisa Carlos Farinha Rodrigues.

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