Na madrugada de domingo voltamos uma hora atrás

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Portugal, Grã-Bretanha e Irlanda estão na mesma hora Reuteres

Os relógios vão recuar uma hora na madrugada do próximo domingo, dando início ao horário de Inverno, que se prolongará até Março de 2010, altura em que se regressa à hora de Verão.

A mudança de hora resulta de uma directiva comunitária e acontece em toda a União Europeia, continuando a verificar-se as diferenças horárias entre os países dos três fusos horários que atravessam o continente europeu. Os três fusos horários colocam Portugal, Grã-Bretanha e Irlanda na mesma hora do meridiano de Greenwich, enquanto a maioria dos países se regulam pelo meridiano de Berlim, com um avanço de 60 minutos.
Este recuo nos ponteiros dos relógios acontece sobretudo por razões civis, uma vez que, do ponto de vista astronómico, apenas faria sentido uma correcção de 37 minutos, explicou à Lusa o director do Observatório Astronómico de Lisboa. Rui Agostinho precisou que a hora do meridiano de Greenwich está desfasada 37 minutos em relação à hora solar.

A mudança de hora deve-se a uma directiva que determina que os países da União Europeia devem entrar na hora de Verão no último domingo de Março e adoptar a hora de Inverno no último domingo de Outubro, independentemente do fuso horário em que se encontrem. Durante cinco meses, as noites vão cair mais cedo, o que pode trazer alguns distúrbios aos portugueses, segundo Teresa Paiva, neurologista e especialista em medicina do sono. “O grande problema é os dias ficarem muito pequenos e a exposição solar ser muito baixa”, adiantou.

Com as noites a cair mais cedo, um estudo da Universidade de Cambridge mostra, por outro lado, que manter a hora inalterada poderia poupar energia e reduzir a poluição. “O uso de electricidade é maior à tarde do que de manhã”, justifica Elizabeth Garnsey, professora de Estudos de Inovação, em declarações à agência Lusa.

A hora de Cavaco


O que a académica descobriu, graças a um novo método de cálculo, é que há desperdício de energia durante a manhã e que a eficiência energética seria maior com mais horas de luz solar à tarde. Este é um dos argumentos dos defensores da aplicação do Horário da Europa Central - a hora média de Greenwich (GMT) mais uma hora - no Reino Unido.


Ao longo dos anos, a ideia foi sustentada por estudos e objecto de propostas de lei, a mais recente recusada em 2007. Estudos encontraram sinais de que a mudança da hora poderia reduzir os acidentes rodoviários e o número de depressões relacionadas com a perturbação afectiva sazonal. No Verão, os relógios seriam avançados duas horas em relação a GMT, propiciando noites com mais tempo de luz solar, estimulando a indústria do lazer e turismo.

Mas o tema da mudança da hora não está na ordem do dia no Reino Unido e a sua rejeição deveu-se, em parte, a Portugal. “No relatório apresentado, produzido por deputados para o Parlamento [britânico], foi referido que Portugal experimentou o GMT+1 hora e isso foi considerada uma razão para não o adoptar no Reino Unido”, recorda Elizabeth Garnsey. Entre 1992 e 1996, Portugal adoptou o fuso horário da Europa Central, usado pela maioria dos restantes países da União Europeia. Apesar de facilitar as comunicações e transportes internacionais, a mudança, empreendida pelo então primeiro-ministro, Cavaco Silva, foi criticada, porque afectava o ritmo escolar e dificultava o sono.

O sucessor de Cavaco, António Guterres, fez o fuso horário voltar ao actual e alinhou os ponteiros dos relógios de novo com o Reino Unido, onde a questão do tempo é motivo de polémica há quase 130 anos.

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