Muro que matou estudantes era fonte de queixas há pelo menos dois anos

Autarquia não tinha conhecimento formal de problemas de segurança com a estrutura. Inquérito interno tenta apurar responsabilidades sobre o local.

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É visível a inclinação do muro com as caixas de correio DR

Há pelo menos dois anos que havia moradores da Rua de Vilar, em Braga, a queixar-se das condições de segurança do muro que na quarta-feira atingiu mortalmente três estudantes da Universidade do Minho (UM). Os proprietários dos estabelecimentos comerciais no local dizem que têm reforçado os avisos à autarquia nos últimos meses, mas a câmara diz que não tinha conhecimento formal de nenhum tipo de contestação relativa à segurança da estrutura.

Em Março de 2012, numa reportagem do Jornal de Notícias acerca dos problemas de limpeza naquela zona residencial, uma moradora dizia que as “caixas de correio, ao lado de um silo de gás, ameaçam ruir”, sendo “notória a inclinação do terreno que aos poucos vai empurrando terra e silvas para cima dos carros”. Foi precisamente o muro em que as caixas de correio estavam embutidas que atingiu os alunos da UM.

Esta notícia com mais de dois anos foi recordada por vários proprietários de estabelecimentos comerciais desde o acidente desta quarta-feira. O proprietário do Kroc, um dos bares da Rua de Vilar, diz que a Câmara de Braga e o condomínio são responsáveis pelo sucedido. “Não foi a praxe que fez isto”, defende. “Há oito meses que alertámos para os problemas daquele muro e nada fizeram para rectificar aquilo”.

No cabeleireiro da porta ao lado, a proprietária faz a mesma associação. “Há algum tempo que aquilo estava em mau estado e com a chuva e a terra que ia caindo foi ficando cada vez mais inclinado”, conta ao PÚBLICO. As caixas do correio serviam precisamente os prédios que ficam do outro lado da rua e onde estão os estabelecimentos comerciais e nos últimos meses o proprietário dos prédios desactivou as caixas de correio, transferindo o local de recolha do correio para novas caixas nas fachadas dos edifícios de habitação e comércio.

“Ouvi ontem [quarta-feira] essas queixas dos moradores, mas falei com elementos da câmara e toda a gente desconhecia que houvesse qualquer participação sobre o caso”, explica Ricardo Silva, presidente da Junta de Freguesia de S. Vítor, a maior da cidade, cujo território começa precisamente nas imediações do local do acidente.

Fonte da autarquia confirma também que “não houve queixas formais” relativamente às condições de segurança. Mas para já a Câmara de Braga não se pronuncia oficialmente sobre a situação, enquanto ainda decorre uma investigação dos serviços municipais para perceber a quem pertence formalmente o muro que atingiu os alunos, o seu ano de construção e as condições em que o mesmo foi feito.

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