Medicamentos para Parkinson e anticoagulante esgotados nas farmácias estavam retidos em armazém

Artane e Varfine estiveram em falta durante duas semanas, quando a sua toma nunca deve ser interrompida. Reposição deve começar nesta quinta-feira e Infarmed multou o armazenista e está a averiguar o caso.

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As falhas foram denunciadas por utentes e farmácias Paula Abreu

Os medicamentos Artane (para o tratamento do Parkinson) e o Varfine (para prevenir tromboses), há duas semanas em falta das farmácias, vão finalmente ser repostos nesta quinta-feira, garantiu a Autoridade Nacional do Medicamento (Infarmed), que está a averiguar o que aconteceu, já que, após uma visita ao armazém do distribuidor destes fármacos, constatou que existiam embalagens no local suficientes para reabastecer todo o país.

Depois das denúncias feitas por utentes e farmácias da falta destes medicamentos e tendo em consideração que em ambos os casos são fármacos cuja toma não deve ser interrompida, o Infarmed fez uma inspecção aos armazéns da Logifarma, que distribui ambos os medicamentos, “tendo verificado nesse local a existência de embalagens suficientes para suprir as actuais necessidades dos utentes”.

Por isso, o Infarmed notificou a empresa para iniciar de imediato o reabastecimento, que a própria tinha prometido para segunda-feira, e instaurou “um processo de contra-ordenação social por violação da obrigação de notificação da ruptura de stock”. A coima máxima actual é de 44 mil euros, que o presidente do Infarmed já propôs aumentar para 160 mil euros, para a “acção punitiva” ser mais clara e superior a eventuais lucros.

O cardiologista e vice-presidente da Fundação Portuguesa de Cardiologia, Jacinto Gonçalves, explicou ao PÚBLICO que a falta do Varfine é “especialmente grave para a saúde pública”, visto que o medicamento existe há mais de 40 anos, pelo que é amplamente utilizado e é sobretudo dado para evitar a formação de coágulos e prevenir acidentes vasculares cerebrais.

Segundo o médico, o fármaco é administrado em casos de fibrilação auricular, um problema que surge em cerca de 25% das pessoas com mais de 70 anos e o controlo é feito com análises ao sangue para perceber se não está nem demasiado espesso nem demasiado líquido – para não haver o risco contrário de provocar hemorragias.

“O medicamento nunca deve ser interrompido, mas, em teoria, por exemplo quando há a necessidade de uma intervenção cirúrgica programada, recomenda-se a sua paragem oito dias antes. Duas semanas já é um tempo preocupante e importa esclarecer para onde estão a ir estes medicamentos”, alerta Jacinto Gonçalves. Quanto a alternativas no mercado, além de ser necessário fazer a transição terapêutica, os outros medicamentos são muito mais caros, diz.

Além disso, segundo o Infarmed, foi convocada uma reunião de urgência com a Logifarma, na qual a empresa explicou que “as embalagens detectadas pela acção de inspecção no seu armazém já se encontravam em processamento para distribuição a nível nacional” e que “o motivo para a presença das embalagens em armazém se deveu a um constrangimento de ordem técnica, relacionada com a operação de processamento que estava em curso, situação entretanto resolvida”. Contudo, não foram avançados que constrangimentos foram esses nem desde quando estavam retidos os medicamentos nos armazéns. A empresa comprometeu-se apenas a que os fármacos começassem a chegar às farmácias nesta quinta-feira, estando totalmente repostos até ao final da semana.

O Infarmed convocou também o laboratório italiano Teofarma, que produz os medicamentos, para uma reunião de urgência sobre o assunto.
 
 
 

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