Condutora acusada da morte de duas mulheres no Terreiro do Paço nega negligência

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O atropelamento ocorreu numa passagem para peões no Terreiro do Paço Miguel Dantas

A condutora que atropelou mortalmente duas mulheres no Terreiro do Paço, em Lisboa, em Novembro de 2007, negou hoje em tribunal a acusação de condução negligente e sustentou que circulava a 50 quilómetros por hora antes do acidente e que o seu carro ganhou “vida própria” após um despiste e, consequentemente, maior velocidade.

No início do julgamento, a arguida, de 37 anos, lamentou a gravidade do acidente (que matou duas mulheres de 20 e 57 anos e feriu gravemente a mãe da primeira) e disse não conseguir justificar o despiste da viatura. “Acho que existem muitas hipóteses, pode ter sido as rodas que bateram num buraco, já tive outro despiste assim. Ouvi um barulho e o carro descontrolou-se, ganhou vida própria”, declarou ao colectivo de juízes do Tribunal Criminal de Lisboa.

A arguida referiu que não se recorda da cor do semáforo anterior ao local do acidente e de embater nas vítimas ou num semáforo, mas garantiu que teve “a preocupação de controlar” o automóvel quando este lhe “fugiu das mãos”.

A condutora contestou partes da acusação, sobretudo a alusão a uma condução descuidada e a uma velocidade desadequada: “Não concordo com algumas coisas, como a ideia de não tomar atenção aos sinais. Não passo sinais vermelhos”.

A acusada admitiu que poderia estar a circular acima dos 50 quilómetros por hora permitidos quatro quilómetros antes, na Avenida Infante Dom Henrique (onde um radar detectou o seu carro a 122 quilómetros por hora), mas negou ter mantido a velocidade ao chegar ao Terreiro do Paço, contrariando um estudo técnico que estima uma velocidade entre 111 e 123 quilómetros por hora naquela praça.

Reforçou ainda que deveria conduzir a cerca de 50 quilómetros por hora e recusou a possibilidade de estar cansada ou com algum défice de atenção, apesar de nessa noite não ter dormido.

Depois de um dos juízes referir que não é credível que a velocidade tenha mais do que duplicado devido ao despiste, o advogado da arguida, Paulo Camoesas, procurou mostrar durante o interrogatório que a condutora não sabe se travou ou acelerou quando perdeu o controlo do automóvel.

O tribunal ouviu também um agente da PSP, que disse ter “a nítida sensação de que alguma coisa pode ter assustado a condutora, independentemente da velocidade, que não era adequada”.

Depuseram ainda mais cinco testemunhas, a maioria das quais confirmou que o semáforo para os peões estava verde na altura do atropelamento e que o carro vinha numa velocidade desadequada.

Para a semana deverão ser ouvidas as duas testemunhas da defesa e Rufina Rocha, vítima de ferimentos que ficou incapacitada para trabalhar e está agora em Cabo Verde.

A arguida neste processo é acusada de dois crimes de homicídio por negligência e um crime de ofensa à integridade física também por negligência, além de várias contra-ordenações relativas ao Código da Estrada. Os processos de indemnização dos familiares das duas vítimas mortais e da terceira vítima, mãe de uma delas, já foram concluídos.

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