Cavaco Silva foi “infantil” e Portugal politizou incidente com TAP, diz ministro guineense

Fernando Vaz defende que sistema da TAP tem “inúmeras fragilidades”.

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Na sequência deste episódio, a TAP cancelou as ligações entre Lisboa e Bissau Pedro Cunha/Arquivo

Desilusão com Cavaco Silva, críticas a Portugal e denúncias de fragilidades no processo de controlo da TAP. Foi assim que o ministro de Estado e da Presidência da Guiné-Bissau, Fernando Vaz, reagiu à polémica sobre o embarque forçado de 74 sírios, que a 10 de Dezembro viajaram de Bissau para a Lisboa a bordo de um avião da TAP.

“Portugal entende que não há segurança, Primeiro, começou por dizer que havia artilharia pesada na pista do aeroporto e que a tripulação foi ameaçada, de coacção, etc. O senhor Presidente da República, sem comprovar, sem fiabilidade das fontes, aparece publicamente a fazer uma declaração tendo como suporte essas falácias e calúnias em relação à Guiné. Foi bastante triste o que aconteceu”, disse Fernando Vaz, em declarações à TSF, acusando Cavaco Silva de se ter precipitado. “Não estava à espera disso pela experiência política que tem o doutor Cavaco Silva e foi extremamente infantil esse posicionamento.”

Fernando Vaz, que é também o porta-voz do Governo de transição guineense, acusou Portugal de estar a politizar o caso, para adiar as eleições e permitir que Carlos Gomes Júnior, antigo primeiro-ministro, consiga recensear-se. “Portugal apoiou sempre o ex-primeiro-ministro e não reconhece o actual Governo de transição, onde o partido do ex-primeiro-ministro, o PAIGC, tem cinco ministros. Portugal continua a insistir em apoiar o ex-primeiro-ministro”, disse o responsável guineense.
Na mesma entrevista à TSF, Fernando Vaz desvalorizou as responsabilidades das autoridades guineenses, não comentando, por exemplo, o facto de ter sido o ministro do Interior a pressionar a tripulação da TAP a fazer o embarque dos sírios que tinham passaportes falsos.

“As pessoas entraram legalmente na Guiné, com vistos concedidos na nossa embaixada de Marrocos”, argumentou o ministro da Presidência, acusando a TAP de “fragilidades” nos processos de controlos de passageiros.

“A TAP tem a responsabilidade de fazer o controlo e de impedir o embarque de pessoas indevidamente documentadas”, disse Fernando Vaz, afirmando que o sistema da companhia portuguesa “permite que as pessoas façam check in online, sem notificação de vistos”: “Se quiser viajar para os EUA, não lhe vendem o bilhete se não souberem o número de vistos. Há que admitir que o sistema TAP tem inúmeras fragilidades”, acrescentou o ministro guineense, considerando “que houve falhas de ambas as partes”.

Na sequência deste episódio, a TAP cancelou as ligações entre Lisboa e Bissau. Numa primeira fase, a companhia aérea portuguesa tem voado para Dacar (no Senegal), fretando depois um avião da Air Senegal para fazer a ligação até Bissau. Só que na quinta-feira, a TAP anunciou o fim destas ligações no fim do ano, desconhecendo-se quantos passageiros terão bilhete comprado para o voo Lisboa-Bissau.

“O contrato com a companhia senegalesa termina com a realização do voo que parte de Lisboa na próxima 2ª feira, 30 de Dezembro, regressando na manhã de 3ª, motivo pelo qual a TAP deixa de realizar os voos Lisboa/Dakar/Bissau/Dakar/Lisboa que vinham a ser efectuados", refere um comunicado da transportadora aérea.

A TAP limita-se a referir que os passageiros com reservas para depois dessa data "serão contactados oportunamente" pela companhia. A transportadora nunca divulgou até hoje quanto lhe custou fretar o avião à companhia senegalesa em período natalício, embora o seu presidente, Fernando Pinto, tenha admitido que se trata de um "custo pesado" para a empresa.

"A realização, no futuro, de voos da TAP entre Lisboa e Bissau será reavaliada quando existirem garantias que permitam a realização de voos em condições normais de segurança", termina o comunicado da TAP.
 

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