Cartas à Directora

Crianças na creche: um esclarecimento

O jornal PÚBLICO noticiou o artigo do qual somos autores, através do título “Creche: quanto mais cedo melhor?” a 9 de Fevereiro de 2015. Recebemos vários comentários e opiniões, como a carta ao provedor de 15 de Fevereiro assinada por Sílvia Barros, Manuela Pessanha e Carla Peixoto, sendo premente clarificar alguns aspetos:

Negamos ter qualquer conflito de interesses na publicação do dito artigo, além do interesse académico, bem como ter recebido honorários de qualquer forma e em qualquer momento na realização deste trabalho.

Os autores recusam qualquer responsabilidade sobre a afirmação presente na notícia de 5 de Fevereiro: “Crianças na creche? Quanto mais cedo melhor, diz estudo”. A idade ótima para entrada numa creche não foi objetivo do nosso estudo. Além do mais, trata-se de uma afirmação vaga que poderá dar lugar a interpretações erróneas, devendo assim ser conhecido que não obtivemos essa conclusão no nosso trabalho, nunca fizemos tal afirmação, nem muito menos nos revemos nela; tendo sido provavelmente fruto de uma interpretação livre da jornalista autora da dita notícia.

O nosso trabalho não foi uma investigação, como também foi divulgado noutro sítio, mas sim do tipo revisão baseada na evidência. Ora, este tipo de revisão é orientado pelo cumprimento de um processo estabelecido de pesquisa de artigos científicos publicados (não inclui naturalmente comunicações em eventos) através de determinados motores de busca e que tentem responder a uma pergunta especifica, cuja era: “Quais os efeitos no desenvolvimento cognitivo e da linguagem dos cuidados não parentais a crianças com menos de 3 anos de idade?”. Outros domínios como o vínculo com os familiares ou aspetos emocionais, apesar de os considerarmos igualmente importantes, não foram estudados pois não integravam os objetivos estabelecidos. Seria pois impossível e pouco rigoroso metodologicamente levar a cabo uma pesquisa que procurasse responder a todas as perguntas na área dos cuidados não parentais.

Os resultados que obtivemos favoreceram a frequência numa creche antes dos 3 anos quanto ao desenvolvimento cognitivo e da linguagem, porém, foram parcos, de limitada qualidade, cuja “aplicação à realidade portuguesa deve ser feita com extrema cautela”, tal como se pode ler no nosso artigo publicado na Acta Pediátrica Portuguesa de 2014, volume 45, havendo ainda alusão aos estudos nacionais com resultados preocupantes quanto à qualidade das creches. Por outro lado, pode ainda ler-se que “a necessidade de mais estudos é clara” não só nos domínios estudados como noutros, podendo “esta revisão ser o ponto de partida para futuras investigações, especialmente à luz do contexto português”. Neste sentido, congratulamo-nos pelo interesse demonstrado pelo tema.

Vítor Cardoso e Paula Mendes

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