Andoni Fernandez era um dos maiores especialistas em explosivos da ETA

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A próxima audiência está marcada para 27 de Outubro Daniel Rocha (Arquivo)

A afirmação é de um inspector da polícia judiciária. A mãe do arguido diz que o filho subscreve o acordo de Guernica, que consagra o apoio à via politica e democrática para a independência do País Basco.

“O Andoni seria um dos que assinaria esse acordo para a paz, mas em Espanha é o próprio governo que não quer que isso avance”, disse ao PÚBLICO, Begoña Fernandez, mãe do alegado etarra que está a ser julgado nas Caldas da Rainha.

O acordo de Guernica, que defende uma via pacífica para a questão basca (mas não faz auto-crítica nem condena a violência nem o terrorismo) foi assinado em Julho por um representativo grupo de prisioneiros etarras e Andoni Fernandez seria um deles, segundo o pequeno grupo de familiares e amigos que têm acompanhado as audiências.

Begoña Fernandez fez questão de referir a “muita confiança” que tem na justiça portuguesa porque esta, ao contrário da espanhola, não terá preconceitos em relação aos acusados de ligações à ETA, pelo que espera um sentença justa para o filho, o qual, diz, deveria estar em casa.

Duas horas antes destas declarações, proferidas à saída do tribunal, o inspector chefe da PJ, João Ventura, especialista no combate ao terrorismo, afirmara que Andoni Fernandez começou aos 18 anos um percurso de violência em acções de rua da ETA, que chegou a estar preso, tendo saído em liberdade precária, e que ainda tem “coisas pendentes” em Espanha.

O inspector disse que “as autoridades espanholas estimam que o arguido é um importante perito em química, com conhecimentos diferenciados em manuseamento de explosivos”, que faz dele um “elemento importante no aparelho logístico da ETA e até num órgão de investigação e desenvolvimento daquela organização”.

Afirmações que foram desdramatizadas pelo advogado de defesa, José Galamba, por “não estarem suportadas em factos judicialmente confirmados”, sublinhando que o inspector “limitou-se a transmitir informações da polícia espanhola”.

De explosivos falou-se muito na sessão de ontem, já que esse material abundava na moradia de Óbidos onde viveram Andoni Fernandez e Oriel Mielgo (este último detido em França). Pedro Salgueiro, especialista do Laboratório de Polícia Científica disse que foi necessário recorrer a peritos espanhóis para analisar os explosivos porque não estavam habituados a lidar, por exemplo, com detonadores fabricados de forma artesanal, como era o caso.

Outro especialista da PJ, Filipe Henriques, contou que o cordão detonante encontrado em Óbidos tinha cinco a seis vezes mais pentrite do que o habitual para assegurar que as bombas explodiriam e mostrou-se impressionado com a capacidade de explosão do material encontrado.

A defesa procurou contradições nos testemunhos dos inspectores e especialistas que passaram pelo tribunal das Caldas da Rainha. José Galamba quis saber, de forma minuciosa, todos os passos da investigação, desde os telefonemas e documentação que lhe deram origem, às deslocações dos inspectores, aos guardas da GNR presentes na casa de Óbidos, às horas em que as peritagens decorreram, chegando mesmo a escrutinar a vida dos elementos da PJ durante as 24 horas que decorreram entre a descoberta da residência e as buscas nela efectuadas.

Praticamente 90% do tempo das quatro sessões do julgamento tem decorrido por conta da defesa, que faz inúmeras perguntas às testemunhas (um inspector da PJ foi ouvido durante duas horas).

Em quatro sessões já foram ouvidas 35 testemunhas, mas José Galamba quer agora ouvir mais 12, na sua maioria elementos das várias policias, incluindo o guarda do posto de Óbidos que recebeu o primeiro telefonema relacionado com o caso, bem como um vizinho que emprestou um telemóvel ao sobrinho do dono do casal onde os dois alegados etarras abandonaram a viatura antes de se porem em fuga.

Nas arrastadas sessões no tribunal das Caldas da Rainha, o procurador Rodrigues Tacha tem-se caracterizado por fazer apenas duas ou três perguntas. O juiz presidente Paulo Coelho intervém poucas vezes, sendo o seu colega Arlindo Crua mais assertivo. Já a juíza Isabel Baptista – que nas últimas sessões se abanava com um leque para combater o calor que se fazia sentir na sala de audiências – nunca abriu a boca. O resto é com José Galamba: se o tribunal é um “palco”, o advogado de defesa tem feito o papel de actor principal. A próxima audiência está marcada para 27 de Outubro.

Notícia corrigida às 21hNo primeiro parágrafo, a afirmação da mãe do arguido significa que o filho concorda actualmente com os termos do acordo de Guernina e não que subscreve o acordo nesta quarta-feira, como estava escrito.
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