América debate sistema nacional para salvar crianças raptadas

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Elizabeth Smart foi encontrada na quarta-feira a poucos quilómetros da sua casa em Salt Lake City EPA

Quando Elizabeth Smart desapareceu da sua casa em Junho do ano passado, o seu rapto tornou-se notícia de primeira página na América. Smart, então com 14 anos, foi raptada por um indivíduo armado que entrou no quarto onde ela e a irmã de oito anos dormiam; nem ela nem o seu raptor deixaram quaisquer pistas.

Ao contrário da maior parte das histórias de crianças desaparecidas, esta teve um final feliz. Smart foi encontrada e os seus captores, um casal de meia-idade, foram detidos. Ainda há muitas perguntas para responder sobre a sua odisseia de nove meses, entre suspeitas de fanatismo religioso e acusações de incompetência das autoridades. Mas a descoberta de Elizabeth Smart também reavivou um debate legislativo nos EUA sobre a criação de um sistema nacional para detectar crianças raptadas, os "Alertas Amber".

Elizabeth Smart foi encontrada na quarta-feira a poucos quilómetros da sua casa em Salt Lake City (Utah, Oeste dos EUA), onde tinha sido raptada. Duas mulheres que trabalham num posto de gasolina reconheceram a sua cara, apesar de ela estar tapada com uma vestimenta que alguns observadores descreveram como uma "burqa", a túnica que o regime taliban obrigava as mulheres a usar no Afeganistão.

Quando a polícia a abordou, Smart começou por dizer que o seu nome era Augustine e que as pessoas que a acompanhavam eram os seus pais. Mas os agentes acabaram por determinar que ela era mesmo a rapariga desaparecida há nove meses. Os dois captores foram presos e identificados como Brian David Mitchell, de 49 anos, e Wanda Ilene Barzee, de 57.

Mitchell é um indivíduo misterioso, sem morada nem emprego fixos, que terá feito um serviço como pintor na casa da família Smart pouco antes do dia do rapto. Na altura, ele identificou-se apenas como "Emmanuel"; a irmã de Elizabeth Smart, que assistiu ao rapto, disse na altura às autoridades que o criminoso "era parecido com o Emmanuel".

Aliás, ainda no início da semana passada Ed Smart, pai de Elizabeth, criticara duramente as autoridades por, no seu entender, não terem prestado atenção à pista de "Emmanuel". A perplexidade por ter demorado tanto tempo a descobrir Smart é apenas uma das perguntas ainda por responder neste caso.

Elizabeth Smart ainda não falou à imprensa. Membros da sua família, citados pela imprensa, dizem que ela está de boa saúde e feliz por estar de volta aos seus pais; também dizem que ela contou ter passado os primeiros três meses a seguir ao rapto escondida pelos seus captores numa barraca em colinas perto da sua casa.

Durante o resto da sua odisseia, Smart terá viajado por vários pontos da América. Não se sabe ao certo onde, nem a fazer o quê. Ainda não foi explicado por que é que não tentou fugir. Também ainda não se sabe exactamente quais eram as intenções de Brian Mitchell; artigos no "Salt Lake Tribune" e no "New York Times" descrevem-no como um fanático religioso e sugerem que a ideia de poligamia poderá ter estado por trás da motivação do rapto.

Impasse no Congresso

O pai da vítima, Ed Smart, passou os últimos meses a fazer apelos nos "media" por informações sobre o paradeiro da sua filha. Depois de ela ter sido encontrada, Ed Smart não repetiu as suas críticas às autoridades - em vez disso, louvou os esforços da polícia.

Mas Ed Smart aproveitou a sua notoriedade para promover a causa dos "Alertas Amber". A criação deste sistema nacional de prevenção de raptos está empatada por uma briga legislativa no Congresso dos EUA.

O nome "Amber" não vem da côr âmbar; é a sigla de America's Missing: Broadcast Emergency Response, um código dado a este programa em homenagem a Amber Hagerman, uma rapariga de nove anos raptada e assassinada no Texas em 1996.

Trinta e oito dos 50 estados americanos já têm os seus próprios "Alertas Amber". Eles consistem fundamentalmente em distribuir informações (como as descrições físicas de crianças raptadas e/ou dos seus raptores, e outros elementos, como matrículas de carros) a televisões, rádios e placares electrónicos em auto-estradas.

Mas muitos activistas argumentam que só com um sistema financiado e coordenado a nível federal é que os "Alertas Amber" podem ser eficazes. O Senado (câmara alta do Congresso) já havia aprovado um pacote para a criação deste sistema. No entanto, o pacote foi bloqueado na Câmara de Representantes (câmara baixa).

Alguns congressistas do Partido Republicano queriam ligar à aprovação da legislação sobre os "Alertas Amber" outras leis (nomeadamente expandindo as penas de alguns crimes contra crianças e alargando o âmbito da aplicação da pena de morte). Isso levou a um impasse na Câmara de Representantes.

"As crianças não têm o luxo de esperar", disse Ed Smart numa das várias conferências de imprensa a seguir à descoberta da sua filha. Depois do resgate de Elizabeth Smart, o Congresso formou um grupo de trabalho para tentar chegar a um consenso para os "Alertas Amber".

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