Três portugueses morrem em acidente com dois autocarros em Espanha

Três feridos continuavam este domingo em estado grave.

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El Norte de Castilla/DR
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Três portugueses morreram e outros três continuavam em estado grave, este domingo, na sequência de um acidente que sábado envolveu dois autocarros numa auto-estrada espanhola, a cerca de 300 quilómetros da fronteira com Portugal.

O acidente ocorreu cerca das 21h (20h em Portugal) e envolveu dois autocarros da empresa Andrade Voyages, um de matrícula portuguesa e outro de matrícula francesa. Em ambos seguiam 59 passageiros, todos portugueses, segundo confirmou ao PÚBLICO um oficial da Divisão de Tráfego da Guarda Civil de Palencia. Segundo fonte da guarda civil espanhola, citada pela Lusa, os autocarros tinham partido de Ponte de Lima.
 
Um dos autocarros, o de matrícula francesa, desacelerou na via de acesso à auto-estrada e o outro, de matrícula portuguesa, não conseguiu evitar o choque. Imagens publicadas em sites noticiosos espanhóis sugerem que a frente direita do veículo que vinha atrás bateu violentamente contra a parte esquerda da traseira do outro autocarro.

De acordo com a agência Lusa e segundo as investigações iniciais, dadas a conhecer pela Guarda Civil às autoridades consulares portuguesas, o acidente terá ocorrido quando os dois autocarros regressavam à auto-estrada depois de fazerem uma troca de passageiros na área de serviço ao quilómetro 64. Um primeiro autocarro terá feito uma manobra fora do normal, pelo que o segundo acabou por embater nele, explicou fonte consular.
 

Segundo  Agostinho Lopes, irmão do genro do proprietário da Andrade Voyages, o autocarro que chocou contra o segundo veículo não pertencia à empresa: tinha sido alugado em Portugal a uma outra firma, uma vez que a Andrade não tinha autocarros suficientes para o serviço. O mesmo sucederia com os dois motoristas, o de reserva, que faleceu, e o que conduzia, que saiu ileso.
 
Agostinho Lopes pensa que era o fundador da transportadora, Manuel Andrade, que tem cerca de 60 anos, quem conduzia o veículo que seguia à frente, que “parou num stop” quando retomaram viagem, depois de jantarem no hotel Las Lagunas, em Torquemada. “Tentei falar com ele, mas está em choque. Saiu ileso do acidente, mas é a primeira vez que lhe acontece um drama assim”, descreve Agostinho Lopes.

Amarante
Apesar de fonte consular em Espanha ter dito à agência Lusa que as três vítimas mortais eram de famílias diferentes e oriundas da região de Amarante, o presidente da câmara, José Luís Gaspar, apenas tem informação de que uma das vítimas mortais, o sexagenário António Costa, era dali. O autarca diz que António Costa trabalhava em França, onde vivia com a mulher, e teria, pelo menos, uma filha em Amarante: “Falei com ela e disponibilizei-me para o que fosse necessário”, acrescentou.

À Lusa, a fonte consular explicou ainda que as famílias das vítimas mortais foram informadas do sucedido logo no sábado e que agora se está a definir a questão da trasladação dos corpos para Portugal. Entretanto, fonte da subdelegação do Governo em Palencia confirmou à Lusa que na segunda-feira se realizará a autópsia aos corpos das vítimas. O processo de trasladação está a sofrer "algum impasse" pelo facto do acidente ter envolvido um autocarro com matrícula portuguesa e outro com matrícula francesa, logo com seguros dos dois países.

Além do sexagenário de Amarante, morreram também um septuagenário e outro homem de 34 anos, que era condutor auxiliar do segundo autocarro.

Três feridos grave

sFonte da conselharia de Saúde do Governo regional de Castela e Leão confirmou que três feridos graves continuam internados em dois hospitais da região, no Rio Carrion em Palencia e no Clínico Universitário de Valladolid. À TSF, a responsável da Junta de Castela e Leão, Cristina Revillas, informou que dois deles têm fracturas nas pernas e o terceiro traumatismos na cervical.

O caso que inspira mais cuidados é o deste último, um septuagenário que foi transferido de Palencia para Valladolid e que, segundo a mesma fonte, está em estado "muito grave" na unidade de cuidados intensivos. Cerca de 20 outros feridos ligeiros tiveram já alta médica. Segundo informação disponibilizada no site do serviço de emergência de Castela e Leão, ao todo registaram-se 26 feridos. Segundo o Diário Palentino, um jornal local, oito dos feridos ligeiros foram levados para Rio Carrion em Palencia, seis transportados para o centro de saúde de Puebla, em Palencia, e outros oito feridos ligeiros levados para o centro de saúde de Torquemada.

O secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Cesário garantiu que a secção consular de Madrid a seguir a situação, juntamente com as autoridades espanholas.

Duas das vítimas mortais eram passageiros que estavam nos últimos lugares do autocarro que seguia na frente, e que tinha como destino final Grenoble, de acordo com fonte consular citada pela Lusa. O segundo veículo seguiria para Nice.

Fonte dos bombeiros de Palencia contou ao PÚBLICO que "a maior parte dos passageiros saiu pelo próprio pé dos autocarros", embora alguns tivessem de ser "desencarcerados". Além disso, algumas pessoas "tiveram ataques de pânico e de ansiedade", mas, depois de receberem ajuda, ficaram "mais tranquilas".

Empresa com "excelente reputação"
Dois passageiros que seguiam no autocarro de matrícula portuguesa relataram ao diário espanhol El Pais como se deu o acidente: "O autocarro que ia à frente parou de repente quando ia entrar na auto-estrada", contou António, 49 anos, que seguia acompanhado pela mulher, Maria, de 47, na parte de trás do autocarro.  "Ouvi: 'Cuidado, cuidado, cuidado!' e caímos todos no chão. Os vidros estalaram."

Apesar de abalado pelo acidente, o casal acabou por seguir viagem, relata o El Pais, num autocarro que foi fretado de urgência para levar até Nice os passageiros que não ficaram feridos e que decidiram seguir viagem recorrendo ao mesmo meio de transporte.

Com o embate, várias pessoas ficaram presas no interior de um dos veículos, pelo que tiveram de aguardar pela intervenção dos bombeiros. Para o local foram enviadas várias equipas médicas, unidades móveis, três ambulâncias de suporte básico de vida e outras duas ambulâncias colectivas. A Cruz Vermelha também foi mobilizada e a Agência de Protecção Civil espanhola activou um Grupo de Intervenção Psicológica.

Albano Ribeiro é agente artístico na região de Isère, onde fica Grenoble. Por telefone, contou ao PÚBLICO que conhece o dono da empresa de autocarros, assim como os condutores. “A empresa tem uma excelente reputação nas comunidades e junto das autoridades francesas. É de absoluta confiança. Faz transporte escolar, de crianças. Em Grenoble, a comunidade portuguesa está em choque e aguarda com ansiedade a chegada das pessoas, ainda não temos muita informação”, disse, já em Grenoble, onde espera ter mais novidades, já que a maior parte dos passageiros que ia num dos autocarros – onde houve duas vítimas mortais – seria desta zona. “Mas os passageiros ainda não chegaram”, garante, contando ainda muitos deles estarão a trabalhar na construção do novo estádio do clube francês de Lyon.

O acidente ocorreu ao quilómetro 65 da A-62 (que liga Burgos, em Espanha, a Portugal), na zona de Torquemada, perto de Palencia. Num autocarro seguiam 16 pessoas, no outro 43 noutro. Os autocarros faziam parte de uma linha regular que ligava a Suíça e França a Portugal, viajando neste caso em direcção a França.

A mesma região espanhola e a mesma auto-estrada já tinham sido palco de um trágico acidente com portugueses em 2008, em que seis operários morreram e uma outra pessoa ficou ferida com gravidade num choque frontal. com Lusa

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