Professores a favor da reorganização da rede de ensino superior, mas contra regras do Governo

Mais de dois terços dos docentes concordam com a reforma, mas a lógica regional proposta pela tutela não consegue o apoio da maioria dos que responderam a um inquérito on-line do Snesup.

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A Fenprof ainda está a analisar as listas para apurar o número de professores candidatos a uma contratação inicial que ficaram colocados e por colocar

Praticamente 70% dos professores do ensino superior são favoráveis à reorganização da rede de ensino superior. Mas as linhas orientadoras definidas pela tutela não têm o apoio da maioria dos docentes, que não concordam que a reforma tenha uma lógica regional. Os resultados são de um inquérito lançado pelo Sindicato Nacional do Ensino Superior (Snesup) ao qual responderam 3600 pessoas e mostram também que estas mudanças são vistas com melhores olhos nas universidades do que nos politécnicos.

Os resultados do inquérito foram divulgados esta segunda-feira e, de acordo com o documento do Snesup, 69,3% dos professores e investigadores que responderam às questões lançadas concordam com a reorganização da rede de ensino superior. Mas o número de respostas positivas desce quando a questão é o grau de concordância face à proposta de reorganização para a região em que se insere a respectiva instituição. A reorganização perde, nesse caso, a maioria, e só é apoiada por 47,6% dos inquiridos que responderam.

 A reorganização da rede de ensino superior é uma das prioridades do Ministério da Educação para o sector, devendo as "grandes linhas" da reforma definidas até Março, para que o Orçamento de Estado do próximo ano seja preparado tendo por base a nova realidade. Na carta em que lança o processo, a tutela defende que as instituições possam organizar-se tendo em conta as realidades regionais em que se inserem, seguindo uma lógica semelhante à que já tinha sido defendida para a definição das vagas no ensino superior para este ano lectivo.

 Os dados do inquérito do Snesup mostram também uma divisão clara entre os dois subsistemas de ensino. Houve mais respostas positivas em relação à reforma no sector universitário (71,9%) do que nos politécnicos (66,3%). O sumário executivo do estudo sublinha também “uma relação estatisticamente significativa” entre as escolhas dos inquiridos em função da categoria de carreira, sendo os professores tanto mais favoráveis à alteração proposta, quanto mais alta é a sua posição nas respectivas instituições.

 O Governo sugeriu às instituições, várias possibilidades de associação tendo em vista a coordenação regional da rede que é defendida. O consórcio entre instituições é a modalidade favorita dos docentes (57,4%), seguindo-se a integração (17,7%). A possibilidade de fusão foi a que mereceu menor número de respostas favoráveis (13,1%).

O inquérito do Snesup consistia num conjunto de 31 questões, que pôde ser respondido entre 18 de Novembro e 1 de Dezembro. Participaram 3609 professores, dos quais cerca de um terço são associados daquele organismo sindical. Entre os inquiridos, 56,2% estão ligados a universidades, sendo os restantes professores do ensino superior politécnico.

Numa carta enviada às instituições de ensino superior em Outubro, o Governo defendia a “urgência” na reorganização da rede de ensino superior e pedia às universidades e politécnicos que se pronunciassem sobre o tema até ao final do mês passado. No entanto, até ao momento apenas uma instituição de ensino superior tornou pública a sua posição sobre a reorganização da rede. Num parecer de 17 de Dezembro, o Conselho Geral do Instituto Politécnico de Castelo Branco faz várias objecções à proposta do Governo, sublinhando “a inexistência de qualquer estudo que fundamente a reforma pretendida” e a ausência de política que protejam as instituições do interior. O órgão presidido por Daniel Proença de Carvalho alerta também “para a necessidade de reforma não visar exclusivamente a redução dos custos com as instituições”, que podia resultar ter consequências “bastante gravosas e penalizadoras” para o futuro do país.

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