O PÚBLICO digital e em papel

A edição digital faz parte de uma estratégia de expansão, de resposta aos leitores da geração ou cultura digital, e inegavelmente também comercial.

I . A propósito da edição em papel e da edição digital do PÚBLICO, um leitor coloca-me um problema intrincado que, sinceramente, não sei se consigo deslindar.

Escreve o leitor: “Não sei se é 'notícia' para si ou não, expondo o problema directamente: comprar o jornal na sua forma física é esbanjar dinheiro. Mas, primeiramente, (vou expor) o processo:

1 – Eu deixei de comprar diariamente o PÚBLICO por ter perdido qualidade. (Sabendo a crise do sector, a perda de processos jornalísticos, jornalistas, etc., etc., eu entendo, não julgo.)

2 – Compro apenas o Expresso, ao sábado, e o PÚBLICO, ao domingo.

3 – (...) Já só compro o PÚBLICO por três razões: provedor, personagens de ficção, surpresa.

4 – A cada compra comecei a notar uma sensação de déjà-vu

5 – Reparei que, ao longo do dia, (...) os posts que o PÚBLICO postava no Facebook, eram os mesmos que tinha lido na versão física. Ignorei a sensação...

Até (...) que decidi fazer o teste. Tirei fora todo e qualquer artigo de opinião. (...)

O PÚBLICO, ao domingo, vem com a 2. Fiz pesquisa a cada artigo e reportagem que veio impresso no jornal e na revista. É de notar que em 28 artigos, notícias, reportagens... (entre publicidade, Tarot de alguém, etc.) apenas três não foram publicados online. Na 2, nove artigos surgem online (31/40 páginas), isto é, 100% dos artigos da 2 (fora opiniões) aparecem digitalmente.

Eu tinha esta (sensação) e nunca liguei, mas a pressão de tal levou-me a fazer uma contagem geral. Fiz até uma pequena comparação (de alguns artigos apenas) de se um artigo em papel é copy paste para a versão digital. É. Mas você pode fazer a comparação. (...) Descrevo o processo de pesquisa:

1 –  Eu fui mudando o nome no url dos autores do PÚBLICO.

2 –  Quando não tinha nome, eu fiz uma pesquisa no Google. (Claro está que eu apenas estava a fazer uma comparação; se estivesse a ler o PÚBLICO online, iria percorrer as secções e deparar-me com tudo, mesmo os artigos não assinados ou divididos para digital (um ou dois).)

3 –  É de notar que a codificação usada no site PÚBLICO limita a oito artigos possíveis de serem lidos sem pagar. Mas não é tão literal assim. Após aparecer o aviso que tinha de pagar, testei clicar em links postados na página do PÚBLICO no Facebook. Dão na mesma. Reparei também que em alguns artigos, talvez dependendo da secção, não estão cobertos com esta opção. E reparei ainda que basta fazer ctrl+n (abrir uma janela incognito mode no browser Google Chrome) para poder ler sem limites (algo que não acredito que tenha sido esquecimento, visto que nesta era e ano em muitos sites se paga para ler artigos e isso não funciona).

Resumindo: nos dias que correm, uma pessoa não tem só o uso de um só jornal digital (fácil adicionar centenas de nacionais e internacionais numa lista no Facebook, Twitter, etc.). Logo, não consigo entender porque estou a pagar para outros lerem quando compro o PÚBLICO (...), mas por favor, parem de me fazer gastar dinheiro para ler artigos de opinião... e ler a página do provedor do Leitor. Está-se a tornar um reality show impresso.

PS: É de acreditar que é neste tipo de ocorrências que se vê o real poder de um provedor, não?"

II Sinceramente, prezado leitor, prezados leitores, não me vejo investido de qualquer poder. Como provedor, vejo-me responsabilizado, isso sim, para ser um colaborador comparticipante no diálogo que PÚBLICO e leitores devem travar para que, por vontade do PÚBLICO, a intervenção dos leitores no "seu" jornal seja cada vez mais actuante em prol de um jornal que, antes de tudo, quer merecer a confiança dos seus leitores. E é neste sentido que dou destaque à questão que este leitor coloca. Aliás, desde que o PÚBLICO tem esta edição dual, em suporte papel e suporte digital, vários leitores têm levantado algumas outras questões, algumas semelhantes a estas, mas, sobretudo, com dúvidas de quais os compradores do PÚBLICO dele tiram mais vantagens, aqueles que continuam a adquiri-lo na edição papel ou o lêem no suporte digital. Isto especialmente em relação à soma dos conteúdos, ou à sua actualização noticiosa. Eu procuro estar atento, como é meu dever, às duas edições. No seu todo, exceptuando as actualizações das notícias que, obviamente, o PÚBLICO digital procura fazer a cada momento (e esta diferença é naturalmente obrigatória), os conteúdos são muito semelhantes. Porventura, alguns artigos são expressamente direccionados para a edição online. Mas marcar certas diferenças comporta dar alguma identidade ao jornal digital versus a edição papel ou vice-versa.

A visão que o leitor expõe sobre esta questão reveste diferentes aspectos. Fundamentalmente, alguns pertencem a toda a complexidade (ou simplicidade?) do mundo digital. Os mecanismos ou processos de pesquisa digital que o leitor descreve são extensíveis a tantos outros conteúdos da Internet. Qualquer jornal moderno, hoje, mesmo aqueles que não têm edição digital na íntegra, têm as suas páginas online. A edição digital faz parte de uma estratégia de expansão, de resposta aos leitores da geração ou cultura digital, e inegavelmente também comercial. A edição digital tem óbvios custos e não deve prejudicar a edição papel. Uma e outra devem ser pagas pelo leitor. A verdade é que, como os leitores sabem, há, igualmente, diferentes procedimentos para ler o jornal papel sem pagar. Os procedimentos que o leitor descreve complicam a leitura do jornal que para a grande maioria dos leitores terá de ser um acto mais simples. Na opção papel. Na opção digital. E é por isto que continuo a acreditar que o jornal papel, embora, hoje em dia, com défice de tiragens e leitores, subsistirá. Por enquanto, há lugar para os dois comportamentos culturais. E para salvaguarda destas duas formas de ler jornais é importante que cada um pague o seu. Ou então, se assim o quer, pague as duas edições, em papel e digital.

CORREIO LEITORES/PROVEDOR

Linguagem técnica

Alguns leitores continuam a queixar-se do uso não descodificado de siglas. Tenho procurado recomendar que pelo menos uma vez, no artigo ou na notícia, essas siglas sejam decifradas. Por outro lado, também são muitos os que se insurgem contra a escrita excessiva de termos em língua estrangeira. A crónica de hoje publicada aqui ao lado, principalmente na parte da carta do leitor, utiliza várias siglas codificadas na informática e diversos termos em inglês. É difícil, por vezes, traduzi-los, pois fazem parte de uma linguagem técnica, em regra de origem anglo-saxónica. E, na carta do leitor, procurei respeitá-la.

Jornalistas comprometidos

Um leitor adverte-me: "Provedor, tenha em atenção os jornalistas ou colaboradores comprometidos" (sic). Quanto aos colaboradores, entendo não ser da minha alçada intrometer-me nessa situação. Quanto aos jornalistas do PÚBLICO, entendo que todos devem ser/estar comprometidos com os seus princípios e normas de conduta profissional, com a observância do Código Deontológico e o Estatuto Editorial e com o respeito pelos leitores na garantia de confiança e credibilidade do "seu" jornal. Tal "comprometimento" poderá ser objecto de uma próxima crónica, se o leitor concretizar melhor o sentido desta advertência que me faz.

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