Ministro do Interior da Guiné-Bissau põe lugar à disposição

É o segundo ministro a demitir-se na sequência da polémica com o voo da TAP. Terá sido Suka N'Tchama a dar a ordem para o embarque forçado dos sírios. Ministro diz que só quer facilitar investigação.

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Posição dominante da TAP enfraqueceu com a liberalização da rota Funchal-Lisboa-Funchal Foto: Pedro Cunha

Depois de, na passada semana, o ministro dos Negócios Estrangeiros guineense ter colocado o seu lugar à disposição, nesta terça-feira foi a vez de o titular da pasta da Administração Interna, Suka N'Tchama, fazer o mesmo, na sequência do incidente com o voo da TAP com passageiros sírios ocorrido a 10 de Dezembro.

A tripulação da TAP foi obrigada pelas autoridades guineenses a transportar para Lisboa 74 passageiros sírios com passaportes falsos, o que levou a companhia aérea a suspender os voos entre os dois países. 

Como o PÚBLICO noticiou no sábado, terá sido Suka N'Tchama a dar a ordem para o embarque forçado. O Governo guineense abriu um inquérito ao sucedido, estando a divulgação das suas conclusões prevista para hoje. 

Mas enquanto o ministro dos Negócios Estrangeiros havia alegado, para fundamentar o seu pedido de demissão, que a passagem dos cidadãos sírios pela Guiné e o seu embarque nunca poderiam ter ocorrido sem a cumplicidade das autoridades da Guiné, já o seu colega da Administração Interna explicou que colocou o seu lugar à disposição apenas para facilitar a investigação sobre o embarque ilegal.

Entretanto, o empresário de 51 anos suspeito de recrutar os imigrantes ilegais sírios foi, também ontem, ouvido pelo Ministério Público guineense, continuando detido para não perturbar as investigações, uma vez que a Polícia Judiciária suspeita do envolvimento de outras pessoas. 

A operar a única ligação directa entre a Guiné-Bissau e a Europa, a TAP diz não ter planos para retomar o serviço para Bissau. "O voo está cancelado. Não temos nenhuma indicação de reabertura. Se mais tarde voltarmos a decidir voar para lá será uma nova decisão", afirmou o presidente da transportadora aérea, Fernando Pinto, admitindo que a decisão tem "um custo pesado para a empresa", até porque a TAP teve de garantir voos alternativos para quem já tinha comprado bilhete. Não adiantou, porém, qual o prejuízo. Apenas disse que, quando a companhia anunciou a suspensão dos voos, na semana passada, existiam "um pouco mais" de mil reservas. A preocupação da companhia, neste momento, é garantir que "as pessoas estejam nos seus destinos antes das festas natalícias". Os passageiros que tinham adquirido bilhetes estão a ser transportados em voos especiais com aviões fretados à Senegal Airlines., que deverão realizar-se "até ao final do ano", referiu ainda Fernando Pinto, revelando mais um pormenor do incidente do passado dia 10 no aeroporto de Bissau: “A TAP recebeu a informação de que, se não descolasse com aqueles passageiros, a aeronave seria retida sine die”.

O episódio mereceu o repúdio de várias individualidades portuguesas, tendo o ministro dos Negócios Estrangeiros, Rui Machete, referido nesta segunda-feira que se tratava de um acto próximo do terrorismo. Uma comparação que não caiu bem em Bissau, a julgar pela reacção do ministro que tem as funções de porta-voz do Governo de transição guineense, Fernando Vaz: "Também nos chamavam terroristas quando lutávamos pela independência da Guiné. O ministro deve ter uma mentalidade do tempo colonial", criticou. "E também deve ser de cabeça dura: não aprendeu nada com o episódio de Angola", acrescentou o mesmo governante, numa referência à polémica que se seguiu ao pedido de desculpas de Rui Machete ao Governo angolano por causa das investigações feitas pelas autoridades portuguesas aos negócios de altos dignatários daquele país em território nacional.

 


 

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