Um país à espera

A acreditar nas sondagens, é o Partido Socialista que vai ganhar as eleições legislativas do Outono. Mas ainda é cedo para considerar as sondagens fidedignas e há demasiadas interrogações em órbita. Tanto Portugal como a Europa estão em movimento acelerado.

Não há ainda uma coligação à direita e, se ela existir, a esquerda terá um quadro novo ao qual dar resposta. Não sabemos que força tem o Tempo de Avançar. O petróleo vale menos de metade do que valia há uns meses e há milhões de euros em negócios com Angola congelados por causa disso. A Grécia baralhou tudo e, no seu estilo sem gravata e camisa fora das calças, vai obrigar a Europa a reagir. É um enigma o que a chanceler alemã, Angela Merkel, vai fazer e quando. Se um dos efeitos da vitória do Syriza na Grécia for o aumento da extrema-direita no Norte da Europa, como fica o bipartidarismo português? E será que a seguir ao Syriza se segue o Podemos, que ao contrário da esquerda radical portuguesa se assume como estando à conquista do poder? 2015 é um ano de eleições não apenas em Portugal. São vários os países da União Europeia a ir às urnas. Bizarras alianças estão a ser forjadas, com os extremos a dançarem a mesma dança anti-Bruxelas. Desconhecemos também o que o Governo de Passos poderá ainda capitalizar junto do eleitorado com um posicionamento de “trabalho feito”. O desenho das incertezas cabe numa folha A4, mas é um desenho esquisito.

Os “bons resultados” da política de austeridade anunciados pelo Governo acabam de ser postos em causa pelo próprio FMI. Este é um fogo cruzado que o país viu ao longo dos últimos quatro anos, mas que não deixa de surpreender. Subir Lall não compreende como é que a taxa de desemprego desceu tanto nos últimos trimestres e veio agora dizer que, na verdade, o desemprego em Portugal é de 20,5% e não de 13,1%. Diz que aos dados oficiais temos de juntar o número de “desencorajados” e os valores do “subemprego”, as pessoas que trabalham menos horas do que gostariam. Se por detrás destes números não estivesse a tragédia de mais de um milhão de pessoas, teria graça constatar a semelhança de discurso entre o Fundo, os sindicatos e a oposição.

Consiga ou não mudar a tendência de voto, tudo vai arrastar-se até à Primavera. António Costa, que está a controlar o tempo como nem os físicos conseguem, já deixou claro que não apresentará um programa eleitoral até ao fim de Maio. Quer ouvir os portugueses, aplicar o modelo dos orçamentos participativos e pôr estudos à votação. Está a demarcar-se da direita e a mostrar que o PS é diferente do PSD, mas não vai desperdiçar este momento de incerteza e desgastar-se quando ainda falta quase um ano para as eleições. O compasso de espera é longo. O país e a Europa ainda vão dar muitas voltas.

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