Reformados protestam contra a violação dos valores do Estado social

Reformados manifestaram-se em frente à Assembleia da República contra medidas do Orçamento.

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Cerca de uma centena de reformados protestou frente ao Parlamento Daniel Rocha

Algumas centenas de reformados manifestaram-se esta quarta-feira, junto à Assembleia da República, contra os cortes nas pensões. Houve cartazes, gritos e canções, entre as quais a “Grândola Vila Morena”. Os manifestantes mostraram a sua indignação perante a violação dos fundamentos do Estado Social.

“Aquilo que estão a fazer aos reformados e àqueles que se vão reformar depois de nós é uma injustiça, uma indignidade, e nós somos pela dignidade. A vida humana é digna e eles querem acabar com a vida dos reformados.” Foram estas as palavras que Maria do Rosário Gama, presidente da Associação de Aposentados, Pensionistas e Reformados (APRe!) proferiu depois de ter saído da Assembleia da República. Em causa está a violação dos direitos conquistados com o 25 de Abril, a defesa do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e a defesa da escola pública.  

“Temos de defender o SNS, lutar por uma escola pública digna e por uma segurança social eficaz”, defendeu Maria do Rosário Gama aos jornalistas. “Não aceitamos cortes nos complementos de reforma, não aceitamos a CES [Contribuição Extraordinária de Solidariedade] e tivemos a garantia dos três partidos da oposição que irão enviar para o Tribunal Constitucional (TC) o orçamento rectificativo”, frisou.

Depois de ter reunido com os partidos da oposição e o vice-presidente da Assembleia da República indicado pelo PS, Ferro Rodrigues, a fundadora doa APRe! mostrou-se algo optimista: "Os partidos da oposição disseram-nos que estão disponíveis para levar ao Tribunal Constitucional as medidas que vão ser aprovadas e que lesam a situação dos reformados, os subsídios aos reformados. O país real é o país das pessoas que levam cortes brutais, das pessoas que têm de escolher entre o medicamento e o alimento.”

Sobre a devolução dos subsídios de férias e Natal que o Governo teve de devolver na sequência do “chumbo” do Tribunal Constitucional, Maria do Rosário Gama diz não ter acontecido efectivamente: “Devolveram em teoria, estão a pagar em duodécimos. Mas como aumentaram as taxas de IRS, a sobretaxa, a CES, é só uma questão de fazer as contas. Deram-nos por um lado e estão a tirar-nos o mesmo por outro lado”, sublinha.

Aristides Silva tem 64 anos e é reformado. Esteve presente na manifestação porque se sente indignado com os cortes de que foi alvo a sua pensão. “A minha pensão é de 1200 euros. Descontei 45 anos. E agora tiram-me 200 euros por mês só em IRS? Já para não falar no IMI, no IUC, as taxas moderadoras, passam dos 130 euros por ano. São mais de 10 euros por mês.” Isto quando tem duas filhas licenciadas e desempregadas e tem de as ajudar. “Isto é uma desumanidade", desabafa. Para Aristides, uma das soluções para colmatar esta situação seria “renegociar os juros”. “Os jovens ainda podem emigrar, mas um reformado com 75, 80 anos vai emigrar?”, questionou.

A mesma opinião é partilhada por Maria Rosa Almeida, reformada do sector dos impostos, de 64 anos. “Não deviam ter mexido nas pensões e a solução que eu proponho é que não deviam ter negociado a dívida tal como a negociaram”. Não poupa críticas ao Governo: “Esteve mal e mentiram-nos porque diziam que o PEC 4 era muito prejudicial e, no fundo, fizeram coisas muito piores que o PEC 4. Conduziram o país ao pedido de apoio à troika em condições que deveriam de ter sido negociadas.”

Mas Rosa Almeida também esteve na manifestação pelos jovens licenciados que estão a ganhar muito menos do que deveriam. “Mesmo quando se diz que a taxa de desemprego está a diminuir, há muitos jovens que estão a ganhar 200, 300, 400 euros, jovens licenciados e isso é muito injusto para eles”, defendeu, acrescentado que, em vez de se estar a progredir em termos familiares, se está a regredir porque os filhos estão a voltar a casa dos pais.

Com a aprovação do orçamento rectificativo, vão ficar prejudicados com estes cortes todos aqueles que têm uma pensão compreendida entre 1000 e 1350 euros, como frisou Maria do Rosário Gama. "As pessoas estão muito desanimadas", disse, dando como exemplo o caso de um reformado do metro que tinha 1350 euros de pensão e a quem cortaram 600 euros.


Notícia corrigida, na parte que diz respeito às declarações de Maria do Rosário Gama, que foram truncadas por motivos técnicos.
 
 
 
 
 
 
 
 

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