Portas discursa contra uma “Constituição socializante” e pede votos para o CDS

Lobo Xavier subiu ao palco para revisitar a história do partido e dirigir-se contra a “extrema-esquerda” que agora assina manifestos com os “burgueses mais conhecidos” do país. O PS pôs “o socialismo na gaveta”.

Foto
Paulo Portas, nos 40 anos da Juventude Popular Nuno Ferreira Santos

Paulo Portas discursou durante 45 minutos nesta terça-feira à noite. Mas parou simbolicamente no texto constitucional de 1976 para dizer que se a cada revisão a Lei Fundamental melhora, era preferível uma Lei Fundamental que não fosse “socializante”. E que não faça de cada português um socialista.

“Nós continuamos a pensar que era preferível que a Constituição não tivesse um preâmbulo que faz de cada um de nós um socialista”, disse, para criticar “um documento ideológico que quer condicionar o que somos”.

Quarenta anos depois do comício de 4 de Novembro de 1976 da então Juventude Centrista, no Teatro São Luiz, em Lisboa, e que teve uma manifestação da “extrema-esquerda” à porta, o presidente do CDS deu um passo em frente em direcção às legislativas de 2015. Em tom de pré-campanha pediu esta noite “mais força para o CDS”. Para um partido que, disse, foi sempre chamado a governar “com a casa a arder” e semanas de ser declarada a “bancarrota” do país. Os centristas, defendeu o vice-primeiro-ministro, mereciam agora governar em tempos de crescimento económico. Em suma, “em tempos normais”.

“Ao CDS nunca foi dada a oportunidade de governar em crescimento económico, ao CDS nunca foi dada a oportunidade de governar em tempos normais. Eu estou convencido, e devemos ter essa aspiração, de que o CDS merece ser mais forte para poder governar em tempos de crescimento, como agora começamos, de governar em tempos normais. Um CDS mais forte faria uma economia mais forte e um sentido de justiça mais forte na sociedade portuguesa”, argumentou Portas.

Sem referir directamente os governos de José Sócrates ou sequer o PS, Portas disse que os que deixaram o país nesse estado “falido” e “insolvente” não fizeram ainda sequer “um exame de consciência”, que permita acreditar que a situação não voltará a repetir-se.

Foi aí que criticou a receita da dívida para conquistar votos e defendeu a inscrição de um limite ao défice para não comprometer as gerações futuras. “Se há geração que tem interesse num limite institucional à divida é a geração dos portugueses que ainda não nasceram. Não há outra maneira de reduzir a dívida se não pela redução da défice. O veneno contra a liberdade dos jovens chama-se dívida pública”, disse.

Escassos minutos antes e sem referir nem excluir qualquer interlocutor, o líder centrista disse que o partido está disponível para compromissos e diálogos politicos, ressalvando que nunca foi pelo CDS que não se conseguiram consensos que ultrapassassem o tempo de uma legislatura. “Nunca foi por falta de vontade do CDS que esse espírito de compromisso não esteve presente”, afirmou.

Em tom de balanço, disse ainda que depois de terem recebido, em 2011, ”um país falido, um Estado insolvente”, deixarão agora aos portugueses um “país que recuperou a independência, soberano, que tem hoje uma reputação internacional muito melhor do que tinha há quatro anos”.

Portas não deixou também de proferir frases menos assertivas. Relembrando o fundador Adelino Amaro da Costa, lembrou um provérbio chinês que o engenheiro trouxe de uma viagem à China e que Portas acredita que devia ser “o ex-libris da Juventude Popular e até do CDS” em momentos em que “tudo parece perdido”.

“À vossa frente a situação é um caos. Mas eu garanto-vos que debaixo do caos a situação é excelente”, afirmou perante o entusiasmo da plateia.

Antes de Portas, discursaram Lobo Xavier e Miguel Pires da Silva, líder da Juventude Popular. Lobo Xavier, que na altura tinha 15 anos, não perdeu agora a oportunidade de revisitar o passado do partido e dirigir-se “com os óculos baixos à juventude actual”, pedindo-lhe que não desista do trabalho político. Mas também deixou recados, sem referências directas, para os que agora assinaram o manifesto pelo “resgate” da PT: “A extrema-esquerda mistura-se em petições e declarações com os burgueses mais conhecidos”.

O histórico centrista não poupou também o PS e até Durão Barroso para defender a tese de que “a resistência”, agora como há quatro décadas, está inscrita no “ADN do CDS”: “O PS pôs o socialismo na gaveta. Uma das pessoas que dirigiram há 40 anos a manifestação contra nós chegou a presidente da Comissão Europeia”.

Miguel Pires da Silva, presidente da JP, optou por sublinhar a “luta contra o comunismo”, que foi agora substituída pela força do CDS em “dizer não quando tem que dizer não” e ”apoiar quando tem que apoiar”. Pires da Silva criticou a “herança de ruína que envergonhou Portugal”, referindo-se aos governos do ex-primeiro José Sócrates. “Nós não queremos voltar a estar de mão estendida”, disse, para afirmar que “os betos, os queques também passam dificuldades”. O líder da JP deu depois como exemplo o caso dos seus dois irmãos, com menos de 30 anos, que tiveram que emigrar. “Apareceu agora um ‘Sócrates dois’. Não é melhor nem pior, é exactamente igual”, disse sobre António Costa, aludindo repetidamente ao “despesismo dos socialistas”. Para marcar a diferença em relação ao PS, afirmou: “Nós não queremos ficar em casa à espera de subsídios.”

Sugerir correcção
Ler 4 comentários