Poiares Maduro diz que seria “fatal” para o país discutir a dívida portuguesa

O ex-conselheiro de Estado António Capucho criticou o Governo por considerar “tema tabu” a discussão do pagamento da dívida.

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Poiares Maduro: “O Governo, quando decide qualquer medida, é porque entende ser constitucional" Miguel Manso

A renegociação da dívida portuguesa está fora da agenda do Governo. O ministro Adjunto e do Desenvolvimento Regional, Poiares Maduro, de visita ao Algarve, distanciou-se do debate pedido por António Capucho, sobre este tema.

“Quando se fala disso é importante sabermos exactamente do que é que se está a falar”. Voltar a colocar esse assunto no centro do debate político, disse, “seria, neste momento, fatal para o país”.

António Capucho, antigo conselheiro de Estado, em declarações à TSF, criticou o facto de o Governo considerar “tema tabu” a questão da dívida, defendendo, ao contrário que preconiza o executivo de Passos Coelho, que esta é uma matéria que exige “difusão” e debate público.

“Não faz sentido fazer esse discurso, o que faz sentido é o compromisso que nós temos tido, e aquilo que já conseguirmos – a redução do peso da dívida”, afirmou Poiares Maduro esta sexta-feira, durante o périplo que está a fazer por dez concelhos algarvios, no âmbito do 4º Roteiro pelos Territórios de Baixa Densidade. O objectivo da deslocação à região algarvia é destacar as “boas práticas” que poderão vir a ser valorizadas, no acesso aos financiamentos do  próximo Quadro Comunitário de Apoio.

O relançamento da economia passa, na opinião do ministro, por assumir a dívida contraída, sem beliscar o interesse dos credores. “O país está, de novo, a conseguir financiar-se a taxas de juro muito favoráveis”, justificou. A questão da dívida foi levada a debate no Conselho de Estado pelo líder do PS, António José Seguro, mas o assunto não consta do comunicado final sobre a reunião.

Uma omissão que António Capucho não quis deixar passar em claro, tendo declarado que os governantes entendem que falar deste tema “diminui a nossa capacidade negocial”. Por outro lado, a proposta saída do Conselho de Estado defende que é necessário um acordo politico com o principal partido da oposição e parceiros sociais, em nome da sustentabilidade e dos compromissos internacionais.

Poiares Maduro vê o conselho como um reforço das políticas que têm vindo a ser seguidas. “O Governo sempre tem demonstrado, sempre tem afirmado – e nas minhas áreas temos praticado – grande disponibilidade para o compromisso e para o consenso”.

No que diz respeito aos fundos estruturais, reafirmou que é fundamental um entendimento alargado. Por isso, disse, “temos envolvido o PS, de forma muito produtiva, na preparação do próximo quadro financeiro”. Questionado sobre se o PS, em situação de eleições internas, tem condições para assumir compromissos, respondeu: “Isso é pergunta para comentador político, só posso dizer que do ponto de vista do Governo a disponibilidade para o compromisso é total”.

Em Vila Real de Santo António, o ministro conheceu a única empresa da construção naval que resiste na região, herdeira da tradição algarvia nesta área. O administrador da Nautiber, Rui Roque, revelou que 85%da frota dos Açores foi construída nesta cidade. Angola é neste momento o mercado alvo. A firma emprega 40 pessoas e factura quatro milhões de euros por ano.

“O pedido de duas embarcações da pesca de cerco para Angola garante trabalho por um ano”, sublinhou. A encomenda de Luanda, declarou ao PÚBLICO, é “muito importante pelo que representa nas exportações, mas sobretudo por se tratar de trabalhos que já não estão alavancados com fundos comunitários”. Os doze barcos que estão a ser construídos neste estaleiro, na sua maioria, foram subsidiados com dinheiros da comunidade.

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