Pedro Filipe Soares, o “mais bem preparado”, pode mesmo ganhar

Eleito por unanimidade, o líder parlamentar tem nas mãos o comando de uma bancada dividida ao meio. E quer subir um patamar.

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Nuno Ferreira Santos

Muita água correu debaixo da ponte. Pedro Filipe Soares, 35 anos, que encara agora de frente os actuais coordenadores, chegou à liderança parlamentar do BE há menos de dois anos. Sucedeu a Luís Fazenda, fundador do partido e rosto máximo da corrente interna UDP.

Na altura, um mês depois da eleição de Catarina Martins e João Semedo, o ex-líder Francisco Louçã elogiava, em declarações ao PÚBLICO, a sua capacidade para dirigir a bancada de oito deputados: “Acho que está mais bem preparado e tem melhores condições do que eu tinha há 13 anos”. Louçã reconhecia então que o “ponto forte” do agora candidato a líder “é ser muito trabalhador e muito atento”.

Eleito por unanimidade, Pedro Filipe Soares tem nas mãos o comando de uma bancada dividida ao meio. Quatro deputados afectos à UDP – além do próprio, Luís Fazenda, Mariana Aiveca e Helena Pinto. Mais próximos de Semedo e Catarina Martins estão as parlamentares Cecília Honório e Mariana Mortágua.

O principal herdeiro da corrente UDP é deputado desde 2009. Foi com ele que o partido conquistou o trunfo do primeiro parlamentar eleito pelo distrito de Aveiro, delegação que coordena. Eleição que se repetiu em 2011, quando o BE viveu o seu maior desastre. Passou de 16 para oito deputados e perdeu distritos tão importantes como Coimbra ou Setúbal.

O avanço de Pedro Filipe Soares na corrida pelo lugar de líder causou incómodo. E surpresa. Primeiro, porque não há registo de um líder parlamentar, cargo da confiança política da direcção, se candidatar à revelia dos próprios líderes. Depois, porque muito embora sempre tenha pesado internamente a disputa por lugares, esta candidatura rompe a tradição do BE, que nasceu justamente da ideia de, na divergência da UDP, Política XXI e PSR, se construir um partido com uma direcção partilhada. Ou que, pelo menos, respeitasse um equilíbrio das três tendências.

Os críticos apontam ainda que a UDP, com maior impacto de militantes base, defendia há escassos dois anos, aquando da eleição de João Semedo e Catarina Martins, que “eventuais saídas individualistas” pecavam por ser “redutoras”. Em 2012, a preferência da corrente ia mesmo para um sistema de vários porta-vozes, isto é, uma direcção colegial.

Pedro Filipe Soares foi ganhando fôlego como membro da comissão de Orçamento e Finanças, antes e depois da troika, e no inquérito às Parcerias Público-Privadas. A agora deputada Mariana Mortágua, que antes o assessorou de perto no trabalho parlamentar, elogiou-lhe a “tranquilidade, independentemente da pressão do momento”, que consegue aliar a outra característica importante, “a ponderação”.

A sua formação académica pode contribuir para isso. O deputado é licenciado em Matemática Aplicada à Tecnologia e tem no currículo a frequência do Mestrado em Detecção Remota. Caso único na Assembleia da República. Em 2012, Mariana Mortágua reconhecia-lhe também a capacidade de fazer pontes. Essa qualidade pode tornar-se agora uma condição de sobrevivência, ganhe ou perca a liderança do partido.

 

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