"O PS não está bem, tem um problema de afirmação", diz António Costa

O PS "não pode ter uma actuação evasiva" sobre as questões importantes do país, como a reforma do Estado, defende o actual presidente da Câmara de Lisboa, numa entrevista ao Diário de Notícias e à TSF.

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António Costa: “O PS não começou com a tomada de posse desta direcção”. Rui Gaudêncio

O PS não pode ficar à espera que o poder lhe caia no colo. Tem de saber afirmar-se como uma alternativa de governo, para um país com ânsia de ver uma alternativa que possa voltar a dar esperança. Ideias de António Costa, numa entrevista divulgada neste domingo pelo Diário de Notícias e pela TSF.

António Costa não é candidato ou já não é candidato à liderança do PS? A questão foi posta, desta forma e reformulada noutras versões, ao autarca de Lisboa, que responde:

"No sítio próprio disse que o PS hoje não está bem, tem um problema interno, tem hoje um problema de afirmação na sociedade portuguesa e isso implica que haja um trabalho da liderança para unir o partido. E para mim foi claro que ou o secretário-geral é capaz desse esforço, (...) reforçar a capacidade de o PS se afirmar como alternativa forte (...) ou então candidato-me à liderança."

É desta forma que o presidente da Câmara de Lisboa comenta o desfecho de uma semana agitada por uma reunião da comissão política que debateu a situação interna e uma eventual disputa pela liderança.

O secretário-geral em funções, António José Seguro, tem, na opinião de Costa, muito a fazer, porque "a linguagem e as expressões utilizadas" antes dessa reunião da comissão política, por parte de membros da actual direcção socialista, mostram, segundo Costa, que a crise interna não é uma ficção.

"A atitude assumida por um conjunto de elementos da direcção do PS revela bem como era preciso o maior bom senso para evitar que o processo interno da vida do PS não descambasse numa arruaça", diz Costa, na entrevista conjunta.

Assim sendo, Costa diz que optou por "fazer um esforço para procurar eliminar as causas que determinam a existência de qualquer tipo de disputa dentro do PS", entrando num acordo com Seguro para que se elabore um documento que trace as bases do que irá ser a actuação futura do partido. Um documento que terá de estar pronto até à data da realização da reunião da comissão nacional, marcada para 10 de Fevereiro, e que, segundo o autarca, "deve clarificar qual é a postura do PS relativamente ao Governo". Porque a crise socialista, afirma Costa, passa por aí.

"O PS está na oposição, mas não é um partido de oposição", salienta. "Tem de ser um partido de iniciativa e não um partido que se esquive a estar presente nos debates fundamentais", prossegue.

PSD-CDS constituíram uma comissão parlamentar para debater a reforma do Estado e o modo de cortar 4000 milhões de euros na despesa pública. O PS recusou estar nessa comissão, tal como outros partidos da oposição parlamentar, mas com este cenário em pano de fundo Costa termina uma semana de agitação interna defendendo que "o PS não pode ser um partido esquivo".

"Não pode ter uma actuação evasiva, passiva, aguardando simplesmente que, por desgraça alheia, o poder lhe caia no colo", aponta, até porque o PS "não pode ignorar que há uma ânsia enorme na sociedade portuguesa para sentir que existe uma alternativa forte ao actual Governo".

O autarca confirma que se recandidata à Câmara de Lisboa, independentemente do que suceder na vida interna do partido, e entende que, caso reconquiste a maior autarquia do país, o seu adversário da coligação PSD-CDS, Fernando Seara, será "um bom contributo na vereação".

Costa defendeu no passado que o cargo municipal que ocupa e o de secretário-geral socialista não devem ser acumuláveis, mas admite que em "circunstâncias excepcionais" possam ser desempenhados pela mesma pessoa.

Aliás, diz que presidente da câmara e secretário-geral "são duas funções" em que se sente "capaz de dar um contributo positivo".

Embora não tenha sido questionado sobre a questão da herança socrática durante a entrevista, Costa acaba por tocar também neste ponto, dizendo que o partido não pode aceitar a "narrativa" sobre a origem da crise. "A direita [PSD e CDS] começou por construir uma narrativa simples: a crise existia porque o Governo era mau", frisa Costa, advertindo que, se o PS aceitar esta narrativa, então não dará resposta adequada à saída da crise. "Hoje sabemos que a crise tem uma natureza muito diversa, sistémica à escala europeia", observa.

Avaliando com nota negativa o Governo liderado por Pedro Passos Coelho, Costa considera que "a coisa mais demolidora" que o executivo fez para o país, "e que mais destruiu a confiança das pessoas, foi a mensagem sobre a necessidade da emigração dos mais qualificados".
 

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