Maioria de direita na Câmara de Braga ergue estátua ao socialista Salgado Zenha

Candidato, derrotado, do PS à presidência da autarquia já havia prometido outro tanto. Anterior gestão socialista da câmara aprovou estátua do cónego Melo.

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Salgado Zenha nos anos 70, entre Maria Barroso e Manuel Alegre Carlos Lopes

Os 40 anos do 25 de Abril vão ser assinalados em Braga com a construção de um monumento que recorda a figura do fundador do PS Francisco Salgado Zenha, nascido na cidade. A homenagem é promovida pela autarquia liderada pelo PSD e o CDS e acontece pouco menos de um ano depois de o anterior executivo autárquico ter autorizado idêntica homenagem o cónego Eduardo Melo Peixoto, outra figura marcante do período de construção da democracia, mas do campo político oposto.

A escultura evocativa de Salgado Zenha vai ficar instalada na praça Conselheiro Torres Almeida, entre o convento do Pópulo e a câmara municipal, que está a ser alvo de uma intervenção urbanística. O anúncio foi feito pelo presidente da câmara, Ricardo Rio, durante a reunião do executivo municipal desta quinta-feira e faz parte do programa do município de comemorações dos 40 anos da revolução.

Salgado Zenha assumiu a pasta da Justiça nos primeiros governos provisórios e foi o primeiro presidente da Assembleia Municipal de Braga. Advogado, fundador do Partido Socialista e candidato à Presidência da República em 1986 - com Mário Soares, Lurdes Pintassilgo, Freitas do Amaral como adversários - é agora homenageado na sua cidade natal por uma câmara governada por PSD e CDS. “A democracia é isto mesmo: reconhecer mérito de quem o tem, independente do quadrante político-partidário a que pertence”, defende Rio.

Há quase um ano, o executivo então liderado pelo PS aprovou a construção de uma estátua do cónego Eduardo Melo na cidade. A estátua do antigo vigário-geral da Diocese de Braga, que esteve envolvido nas lutas políticas do pós-25 de Abril, onde foi uma das figuras de proa do combate à influência que o PCP tentava conquistar no Norte, foi erguida em Agosto, perante uma série de protestos na cidade.

Essa homenagem foi mesmo criticada por alguns socialistas como Manuel Alegre que, num comício durante a campanha para as autárquicas, defendeu que o PS devia ter antes promovido uma homenagem a Zenha. A ideia foi de imediato aproveitada pelo então candidato socialista, Vítor Sousa, que prometeu fazer uma estátua ao histórico do partido, caso fosse eleito presidente da câmara.

Isto foi lembrado, esta quinta-feira, pelo líder do PS local, Hugo Pires, admitindo que “gostava que tivesse sido um executivo socialista a tomar esta iniciativa”. Os socialistas associaram-se à homenagem, bem como o eleito da CDU, Carlos Almeida, que elogiou o papel “muito importante” de Zenha, antes e depois do 25 de Abril.

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