Figuras do PS exigem a Costa que lidere a agenda mediática

Secretário-geral deve ter um discurso claro e perceptível e deve evitar responder às críticas da maioria PSD/CDS, dizem diversas personalidades oriundas de várias sensibilidades socialistas.

Foto
António Costa: “O PS não começou com a tomada de posse desta direcção”. Rui Gaudêncio

A pouco mais de um mês das eleições legislativas, o PS deveria estar a dominar o debate e agenda política, apresentando as suas ideias e as suas propostas para o país e, ao mesmo tempo, liderar as expectativas eleitorais. Mas não é isso que está a acontecer, de acordo com vários socialistas ouvidas pelo PÚBLICO, e António Costa tem sido obrigado a esclarecer o alcance das medidas apresentadas como aconteceu na quinta-feira relativamente aos 207 mil empregos que o PS admite poder serem criados até 2019.

“Eu não prometo 207 mil postos de trabalho, eu comprometo-me com um conjunto de medidas de política, que tendo por prioridade a criação de emprego, têm um estudo técnico a suportá-lo, que estima um conjunto de resultados, na dívida, no crescimento, na redução do défice e também no emprego”, declarou o secretário-geral do PS, em Viana do Castelo, à margem das festas da Senhora da Agonia.

A coligação, que suporta o Governo não perdeu tempo a reagir e Paulo Portas tratou mesmo de lembrar que o ex-primeiro-ministro, José Sócrates, prometeu, em 2005, criar 150 mil postos de trabalho que “depois não existiram”. Isto apesar de horas antes, António Costa ter afirmado que “convém não confundir promessas com aquilo que são estimativas de resultados das promessas”.

Aparentemente, a necessidade do candidato socialista a primeiro-ministro em esclarecer o alcance das medidas denuncia que a mensagem pode não estar a passar. O PÚBLICO falou com vários socialistas para perceber se concordam com a estratégia seguida por Costa, mas quer os que aceitaram falar em on como os que falaram em off levantam reservas à estratégia de comunicação escolhida pelo líder dos socialistas.

O deputado Rui Paulo Figueiredo aconselha o PS a mudar de agulha e a “puxar por aquilo que as pessoas conhecem que é António Costa, pelo trabalho que fez como ministro e como presidente da Câmara de Lisboa”. “Acho que a mais-valia do PS são as características do secretário-geral e o partido devia empenhar-se em liderar a agenda política e a ser propositivo e não tão reactivo”, afirmou o deputado, que se demitiu da Assembleia Municipal de Lisboa, presidida por Helena Roseta, pelo facto de o seu nome surgir na lista de deputados por Lisboa em 27.º lugar, considerada a chamada “zona cinzenta”.

Criticando o ziguezaguear do partido, o deputado adverte que o PS não se deve “enredar naquilo que é acessório e não deve responder às críticas que vêm dos partidos do Governo”. “É natural que a mensagem seja atacada pelo PSD e pelo CDS pelo que entendo que não devia haver tanta necessidade de estar a clarificar as propostas”, defendeu. “Os portugueses são inteligentes e percebem claramente que o PS não estava a tratar de prometer 207 mil empregos. Os portugueses percebem que o exercício que o PS tem feito parte de um modelo macroeconómico e de um modelo analítico de estimar os efeitos daquilo que se propõe fazer em termos de crescimento, de emprego, do défice e da dívida”, especificou. "Os portugueses querem uma mudança política, mas têm algumas dúvidas sobre a credibilidade do PS para assumir essa mudança", sublinhou.

Segundo Rui Paulo Figueiredo, o “PS deve explicar que as suas medidas que constam do cenário macroeconómico e do seu programa são medidas sérias e que conduzirão a um acelerar do crescimento económico, da recuperação do rendimento e do emprego”.

José Lello, que ficou de fora das listas de deputados, deixa um apelo ao partido para que passe a ter um “discurso simples e perceptível”, como faz a coligação de direita em vez de se deter a quantificar tudo. “O PS não se deve preocupar em fazer discursos muito elaborados, porque se não corre o risco de o eleitorado perceber tudo o que os outros dizem, porque o seu discurso é fácil, e não perceber nada do que o PS diz”, aponta.

“Num tempo em que ninguém acredita nos políticos, porque prometem tudo e não fazem nada, nós estamos a prometer números substantivos que são depois esmagados pela demagogia de Paulo Portas e isso não é eficaz para o eleitorado”, conclui, Lello, que apoiou Costa na disputa interna das primárias.

O ex-líder da distrital do PS de Viseu José Junqueiro levanta reservas à estratégia de comunicação do partido e discorda que seja o próprio secretário-geral a vir a público explicar as medidas para o futuro Governo. “Dá a impressão que o PS comprou um complicómetro”, diz em tom de graça.

Sugerir correcção
Ler 37 comentários