CDS opõe-se à entrada da Turquia na União Europeia

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O candidato centrista às europeias diz que tem o empenho no caso BPN como cartão de visita Enric Vives-Rubio
Qual é a ambição desta lista, em termos eleitorais?

É conseguir igual ou melhor do que consegui noutras eleições, o que em termos de mandatos é manter ou aumentar o número de deputados eleitos.


Por que é que acha que foi escolhido para cabeça de lista?

Se há cartão de visita que eu posso apresentar relativamente ao que a minha candidatura possa significar é exactamente o trabalho e o esforço. Entendi aceitar o convite, porque há um novo patamar de acção política que posso conseguir.


Não corre o risco de desaparecer politicamente?

Não. A visibilidade que hoje os deputados europeus começam a ter não tem comparação com a que tinham há dez anos. Há deputados que se distinguem dos outros porque trabalharam e não se apagaram por serem deputados europeus.


Por exemplo?

Os deputados do CDS, quer Luís Queiró, quer Ribeiro e Castro. Numa avaliação que é de justiça.


Se não for eleito, que consequências políticas tira?

Como esse é um cenário que eu não coloco, não pondero sequer consequências políticas. O CDS vai ter um bom resultado. As diferenças de 800 por cento entre as sondagens e os resultados nas urnas acabaram por criar em mim uma imunidade a sondagens.


Como é que explica sondagens como as que lhe atribuem dois por cento das intenções de voto?

Não tenho nada que explicar, quem porventura tem de o fazer é quem faz sondagens.


Mas está aqui a jogar o seu futuro político?

Estou a jogar o meu esforço em benefício do meu partido e do meu país. Ponho tudo o que tenho nesta campanha como ponho no Parlamento.


Acha legítimo transformar as europeias na primeira volta das legislativas?

Acho legítimo nestas europeias discutir aquilo que os portugueses querem. Mas também dificilmente há questões europeias que o sejam estritamente. Quando falo de imigração, de segurança, de justiça, falo de uma componente nacional mas que também é europeia. E tenho levado para o debate político temas que os outros candidatos têm agarrado, e ainda bem, como o Proder e o QREN. É o que mais nos afecta, pelo menos até 2013, que é dinheiro.


Nos cartazes, diz que não anda a brincar, quer dizer que os outros andam?

Se não andam a brincar, no mínimo não valorizam o suficientemente e não agem de acordo com as expectativas de muitos portugueses, inclusivamente de portugueses que neles votam. Por exemplo, temos a frase de "Não andamos a brincar aos bancos". Quem propôs a constituição da comissão de inquérito ao BPN foi o CDS e eu. Não foi nem o PSD nem o PS. Se fosse por eles, não havia comissão de inquérito nem se tinha descoberto o que se descobriu. A frase será necessariamente provocatória mas é para chamar a atenção.


Nesta campanha vai meter o PS e o PSD no mesmo saco?

Não é meter no mesmo saco. O PS e o PSD são necessariamente partidos diferentes, mas têm estado juntos em decisões políticas importantes que são erradas. Paulo Rangel e Vital Moreira representam os partidos que fizeram o pacto para a justiça e que tornou a vida mais fácil para os criminosos. A mesma coisa se diga em matéria de imigração e do Tratado de Lisboa. O PSD e o PS decidiram não fazer referendo sob pretexto de que se tratava de um outro tratado, mas saiu o hino e a bandeira. Por se tratar do mesmo texto justificava que fosse levado a referendo e não aceito a perversão argumentativa de que quem defende o referendo é contra o tratado e contra a Europa. Trata-se de não querer uma Europa contra as pessoas.


Como é que se define perante o projecto da União Europeia?

Como europeísta. Não sou eurocalmo, não sou eurocéptico. Sou europeísta tal qual Vital Moreira e Paulo Rangel numa diferença que também nos distingue. Não sou federalista. Em relação ao cartaz [do PS] o que faz sentido não é a expressão 'Nós, os europeus', mas sim 'Nós, os portugueses somos europeus'. Há uma visão de futuro federalista que eu não partilho, porque não estou disposto a prescindir séculos de história. Paulo Rangel e Vital Moreira acreditam num Portugal integrado na Europa transformado numa espécie de região, onde tudo se decide a muitos quilómetros de distância e onde as questões de soberania do ponto de vista administrativo são transferidas para outra instância além país.


Mas hoje já quase tudo se decide a muitos quilómetros de distância...

Não, ainda temos política fiscal. Eu acredito também na supervisão mais próxima das instâncias supervisionadas. Vital Moreira acredita para mercado único, supervisão única.


Acha que se deve apoiar Durão Barroso só porque é português?

Não. Acho que há vantagem em que o presidente da Comissão Europeia seja português, desde que seja competente. E, no caso de Durão Barroso, essa competência é demonstrada pelo apoio que tem tido um pouco por toda a Europa. Acho um desperdício de tempo e uma estratégia muito errada de quem quer transformar Durão Barroso em argumento de campanha.


Defende a entrada da Turquia para a União Europeia como fez o Presidente da República?

Neste ponto tenho uma opinião diferente do Presidente da República. Tenho reservas à adesão da Turquia. Há o argumento territorial: a Turquia só é Europa numa pequena parte; o demográfico, já que a Turquia seria transformada no maior país da União Europeia; e o da identidade. A da Europa é judaico-cristã, que é secular. Já a identidade da Turquia é profundamente muçulmana. Depois há uma questão estratégica: faz sentido que a União Europeia tenha fronteiras até ao mundo árabe muito instável, perigoso, dificilmente controlável, com o que isso significaria com a entrada de pessoas na União Europeia? Nada disto invalida que a Turquia não mereça um estatuto especialíssimo no relacionamento com a UE.


Como é que tem sido trabalhar no caso BPN?

Tive das experiências mais extraordinárias da minha vida política como deputado. Sem os meios técnicos e financeiros que tem o Banco de Portugal, fui descobrindo o que de essencial se sabe hoje. E isso tem sido possível, porque tive a oportunidade de ser um misto entre deputado e detective. Já me encontrei em ruas de Lisboa com pessoas que nunca vi, mas que me disseram que me podiam ajudar com um ou outro documento ou informação.


O que é que surpreendeu mais?

Foi verificar como é que foi possível durante tanto tempo algumas pessoas praticarem tantos actos ilícitos com prejuízos para depositantes e accionistas, ao mesmo tempo que a supervisão não actuou em conformidade.


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