Angústia para o jantar

Algumas questões relativas aos três anos da coligação PSD/CDS-PP.

A passagem dos 40 anos do CDS (sem o PP) pode e deve constituir uma ocasião de festa e de reflexão.

De festa, desde logo, pela vida, pela abnegação, pela coragem e pelo serviço de todos quantos o CDS foi algum dia capaz de chamar, agregar e mobilizar no seu projecto, mas também por tudo quanto pelo CDS foi nestes 40 anos combatido, proposto, projectado e executado a bem de Portugal e dos portugueses na tessitura da vida social e política constitucional.

Mas também de reflexão, constituindo um pretexto para que o CDS se interrogue sobre quem é e, sobretudo, sobre quem quer ser ou vir a ser no actual quadro de desígnio nacional. E para que serve.

Um exemplo do que não serve: infelizmente e por culpa de quem o organizou (a direcção do partido), o propalado jantar comemorativo dos 40 anos de vida do CDS nem foi bem um jantar, mas uma improvisada e tardia confusão, nem foi comemorativo.

De facto, à última hora, os organizadores desvincularam-se do anunciado desígnio de unidade partidária e do convite de todos os antigos presidentes e dirigentes do partido, que não foi realmente feito e, diminuindo-o, apodaram-no e levaram-no a efeito sem aqueles históricos como “jantar de tomada de posse das concelhias de Lisboa e de Odivelas” (impugnações eleitorais em curso à parte…).

Como é óbvio, ao agirem assim, os organizadores faltaram voluntária e institucionalmente ao respeito a todos, presentes e ausentes, e ao partido e à sua história. E assim, do festejo dos 40 anos do CDS fez-se, irresponsavelmente, uma farsa, e faltou-se ao prometido, o que dá que pensar.

Extrapolando, vejamos: já leva mais de três anos de vida o Acordo Político de Colaboração para o Estabelecimento de um Projecto Político de Legislatura, celebrado no dia 16 de Junho de 2011 por Pedro Passos Coelho (PSD) e Paulo Portas (CDS-PP), resultado directo dos resultados das eleições legislativas de 5 de Junho de 2011 (correspondendo a uma maioria social de votantes superior a 50%). E pergunto com referência a estes últimos anos de governo em coligação (e tendo em conta todas as estafadas promessas eleitorais do CDS):

1. Foram realmente iniciadas as transformações estruturais necessárias para travar e reduzir o endividamento do Estado e diminuir a sua despesa?

2. Foi assegurado o reforço da independência e da autoridade do Estado, garantindo a não-partidarização das estruturas e empresas da administração?

3. Na actual legislatura, a família é central e as políticas familiares “contaminaram” as várias políticas públicas (na fiscalidade, na educação ou na saúde), como protestava o programa eleitoral do CDS de 2011?

4. Está feita a prometida reforma do mapa administrativo?

5. O Estado deixou de ser canibalizado pelas clientelas partidárias e o “boyismo” acabou?

Sobraram promessas. Falta cumpri-las. Ou o CDS no poder não serve para nada.

Advogado, conselheiro nacional do CDS

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