Aceitar acordo com PSD e CDS implica o “suicídio político” de Seguro, diz socialista

Deputado socialista João Galamba é contra um acordo; M iguel Frasquilho (PSD) e Nuno Magalhães (CDS-PP) consideram-no essencial e deve ser compromisso para durar “seis ou sete anos”.

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Galamba criticou intenções do acordo tripartido; Frasquilho e Magalhães esperançados. Enric Vives-Rubio

O deputado socialista João Galamba defende que o PS não poderá nunca chegar a acordo com o PSD e o CDS-PP porque isso implica, como pretende o Presidente da República, o “suicídio político” de António José Seguro.

“Aquilo que neste momento está a ser pedido aos três partidos é uma impossibilidade porque a proposta do Presidente da República implica o suicídio político de um deles, e o suicídio que o Presidente tem em mente é o do líder do PS”, defendeu esta terça-feira João Galamba durante um almoço do American Club, em que participaram também os deputados Miguel Frasquilho (PSD) e Nuno Magalhães (CDS-PP).

Galamba, conotado com a ala crítica da actual direcção socialista, considera que é impossível o PS chegar a um acordo com PSD e CDS-PP, uma vez que isso “implicava que renunciasse a tudo o que tem dito nos últimos dois anos”. Por isso, o PS tem que dizer a Cavaco Silva que “o pacto que pretende não é de salvação nacional, mas sim de suicídio político” de um dos líderes partidários.

O deputado socialista defende que “o que um partido responsável tem que dizer é que a austeridade não é a resposta à crise” porque o corte de 4700 milhões de euros na despesa pretendido pelo Governo implicará ainda mais crise. Tal cenário seria uma “irracionalidade económica e financeira e um suicídio político”, insistiu.

João Galamba também disse ter “dúvidas” sobre um acordo de “salvação nacional” em que não é estabelecido à partida um objecto, como é o caso. Considera mesmo que seja uma discussão “um pouco antidemocrática – numa linha, aliás, que é característica deste Presidente da República” uma vez que implica que se esqueçam as “diferenças entre os partidos”. Galamba criticou ainda Cavaco Silva por “olhar para os partidos como uma coisa de fedelhos”.

Tanto Miguel Frasquilho como Nuno Magalhães defenderam a importância de um acordo tripartido, como pediu o Presidente, mas ambos admitem que será difícil de atingir.

Para o social-democrata, a iniciativa de Cavaco “embora possa parecer estranha”, “teoricamente faz sentido” tendo em conta a situação de resgate do país. Miguel Frasquilho considera mesmo que “o Governo deveria ter envolvido o PS desde o início” do programa, em 2011. Por isso, “as responsabilidades por as coisas não terem resultado até aqui são igualmente repartidas” e chegou-se ao ponto de ser precisa a intervenção do Presidente.

Frasquilho e Magalhães admitem dificuldades

Miguel Frasquilho admite que “será extraordinariamente difícil atingir um acordo, qualquer que ele seja, nos próximos dias” e tem “sérias dúvidas que venha a tornar-se realidade”. Mas também ressalva que, sendo “necessárias”, as mudanças “não podem ser feitas a qualquer custo, de qualquer maneira e em qualquer prazo”.

Para este deputado, o acordo “não pode contemplar um corte de 4700 milhões num ano só: precisamos adaptar o peso da despesa pública às necessidades do país”. E isso deve ser feito “num horizonte previsível”, e ao mesmo tempo é preciso “libertar a sociedade civil da asfixia fiscal”, assim como “dinamizar o mercado interno para poder produzir resultados positivos a breve prazo”.

O centrista Nuno Magalhães vê o assunto como um “acordo de responsabilidade institucional” entre os partidos com responsabilidades governativas, mas defende a necessidade de ter uma “perspectiva de médio e longo prazo”. Por isso, vinca, os cortes têm que ser feitos mas de uma forma “mais espaçada”.

O líder da bancada do CDS-PP diz que o acordo “não é uma questão de esbater diferenças, mas é antes de procurar convergências”. Lembra uma certa boa vontade da maioria que “adia – e bem – votações para que não haja o acto consumado [dos cortes na despesa]” e critica a falta de “sentido” de uma moção de censura apresentada pelos Verdes e “votada” pela oposição.

Foi também Nuno Magalhães quem realçou que “o acordo não é para agora ou para um ano e meio: é para seis ou sete anos. Seja quem for o Governo nos próximos seis ou sete anos, não pode governar sem um acordo deste género.”

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