Um prazer simples

O mais prosaico mas menos exaltado prazer de sair de um banho de mar: é assoar o nariz.

O primeiro dia de Setembro foi um santo dia de praia e de piscina. Tenho passado o Verão à procura dos prazeres simples: aqueles que, preguiçosamente, já sabia que existiam. Os conhecidos - mas nunca dantes celebrados - são os melhores.

Claro que têm de ser planeados: é este o segredo de todas as espontaneidades. As preparações são tão poucas que são facilmente esquecidas. Quando chega o momento do prazer simples é como se tivesse acontecido por magia.

Quanto mais se progride na simplificação dos prazeres, maior é a alegria que se sente. Quanto mais imerecida, mais saborosa.

Eis então o mais prosaico mas menos exaltado prazer de sair de um banho de mar: é assoar o nariz. A água salgada dos oceanos é o melhor dos descongestionantes. Mal caímos em cima da nossa toalha o nariz põe-se prestes a explodir.

O grande prazer é ter um lenço (não necessariamente de papel) onde assoar o nariz quando saímos do mar para secar o juízo, o corpo e o nariz.

Os banhos de mar exortam as nossas fossas a purificarem-se. Têm a ver com o sal e com a água salgada.

O prazer simples de assoar-me num lenço à mão, deitado na toalha ao sol, na areia ou na espreguiçadeira, é a última recompensa de nadar no Oceano Atlântico que nos abraça; quer queiramos, quer não.

O truque é ter os lenços e o livro à mão, com um lápis dentro do livro, para nos esticarmos a secar ao sol, os pingos do mar a cair nas páginas e elas e nós a secarem ao mesmo tempo, incluindo o nariz.

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